Quem já se afogou sabe bem o que se passa, quando as ondas se aproximam e deixam a pessoa desorientada. A água, a espuma e o medo de não saber se a terra firme está próxima invadem o corpo e a alma do escolhido pelo destino: Se eu morrer, nunca mais verei a minha família, será que serei engolido por um tubarão e nem meu corpo será velado, são pensamentos que chegam a cada onda.
O bom nadador, acostumado a nadar em mar aberto, sabe bem que ele mesmo poderá se salvar se o cansaço, a cãimbra e o descontrole forem suficientes para sobreviver nas águas revoltas do oceano.
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Na política, a lei da sobrevivência é a chave para se manter no poder. No momento inusitado em que vivemos, a ousadia do ministro da Saúde, médico, Mandetta, em afrontar publicamente o presidente Bolsonaro, como disse o vice-presidente Mourão, ultrapassou a linha da bola, cometendo penalidade como é no jogo de Polo.
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Mandetta, político experiente, age para fortalecer o seu nome, aproveitando-se do momento de pandemia para se mostrar eficiente apesar de, na verdade, seguir as orientações dos técnicos e verbalizar os resultados do que acontece no front real, que é o enfrentamento da doença na base, nos hospitais, nas ambulâncias, nos laboratórios, nas pesquisas e no sacrifício, até de morte, sem abandonar o paciente.
De fato, o médico, na prática, dificilmente abandona um doente, o que ocorre é que o paciente ou seus familiares observam a ineficácia do tratamento e substitui o especialista e, em muitos dos casos, transferem o infectado para centros de excelência; isto é, se tiverem recursos para pagar os procedimentos. Já no caso do poder e da sobrevivência é necessário sangue frio para superar as dificuldades, como fazem os governantes que vão com seus auxiliares mais fiéis e dedicados até a beira do abismo.
Bolsonaro e Mandetta estão como os quase afogados, segurando uma única boia. Bolsonaro, mais forte, resistente e paraquedista com formação de sobrevivência na selva, utiliza estratégia militar para não morrer, e, se for preciso, matar.
Mandetta, que aproveitou bem o destaque na pandemia, antes de cair no mar, recebeu o apoio estratégico de seus companheiros do DEM, que também buscam o poder a qualquer custo. Além disso, recebe o apoio da mídia convencional, interessada em derrubar o presidente. Assim como na boia, espera que o socorro apareça antes ser empurrado pelo seu parceiro, e comido por um tubarão.
A realidade é que só um dos dois se salvará, e o mais certo é que seja o mais resistente e que teve votos suficientes para governar o país. Que o médico não espere que o Leonardo DiCaprio se sacrifique em nome do amor e da solidariedade, isso só acontece em filme.
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