Carlos Eduardo Bellini Borenstein*
Em 1984 o movimento que ficou conhecido como “Diretas Já” acabou derrotado no Congresso Nacional ao não obter os votos necessários à emenda Dante de Oliveira. No entanto, conseguiu unir lideranças políticas dos mais diferentes matizes ideológicos como Tancredo Neves, Leonel Brizola, Miguel Arraes, José Richa, Ulysses Guimarães, Franco Montoro, Dante de Oliveira, Mário Covas, Orestes Quércia, Lula, Luís Carlos Prestes, FHC, Jarbas Vasconcellos, Moreira Franco, Pedro Simon, entre outros.
Foi um marco histórico da luta contra a ditadura militar, que no ano seguinte, em 1985, levaria a vitória de Tancredo Neves via colégio eleitoral, encerrando o regime autoritário. Guardadas as devidas proporções, a frente ampla que foi construída na eleição para a presidência da Câmara dos Deputados em torno da candidatura do deputado federal Baleia Rossi (MDB-SP) retoma a construção de uma frente que tem um adversário comum como elemento unificador, assim como ocorreu na época das “Diretas Já”. Em 1984, o adversário a ser batido era a ditadura. Agora, é o bolsonarismo.
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O grupo liderado pelo presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e o campo de esquerda, mostraram maturidade política na construção desse acordo em torno de Baleia Rossi. A esquerda, principalmente o PT, deixou em segundo plano as resistências ao nome de Baleia, ainda remanescentes do processo de impeachment contra a ex-presidente Dilma Rousseff (PT). E Baleia, por sua vez, se comprometeu em debater agendas propostas pelo PT como, por exemplo, o acesso universal à vacina, renda emergencial, geração de empregos, etc.
Em meio à lógica da polarização permanente ainda em vigência no país, a frente ampla unindo DEM, MDB, PSDB, Cidadania, PV, PT, PDT, PSB, PCdoB e Rede – além de parte do PSL, que após aderir ao grupo de Maia saiu do bloco – representa um movimento tático importante, pois até então as forças que se opunham ao bolsonarismo estavam muito fragmentadas.
Embora divergências internas existam, foi possível pactuar uma frente tendo um adversário comum e olhando o futuro, afinal de contas, a construção de alianças amplas passa necessariamente pelo diálogo entre quem pensa diferente, evitando cair em posturas sectárias.
Coincidência ou não, caberá ao MDB, assim como ocorreu nas “Diretas Já” e, posteriormente na transição para democracia liderada por Tancredo Neves, a condução do bloco que representa a “Câmara Livre e Independente”.
Independentemente do resultado da eleição para a Mesa Diretora da Câmara, a frente ampla articulada em torno de Baleia Rossi, que tem no presidente da Casa, Rodrigo Maia, seu grande expoente, inaugura um importante diálogo entre forças políticas.
Por ser um partido de natureza centrista, o MDB facilita a construção de pontes com a esquerda, centro-esquerda e a centro-direita liberal democrática. Embora hoje essa concertação se restrinja a disputa pela presidência da Câmara, um diálogo do centro democrático com o campo progressista foi inaugurado, podendo marcar um laboratório da construção de uma frente ampla contra o bolsonarismo em 2022.
*Carlos Eduardo Bellini Borenstein é cientista político formado pela ULBRA-RS. Possui MBA em Marketing Político, Comunicação e Planejamento Estratégico de Campanhas Eleitorais pela Universidade Cândido Mendes.
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Mas e se Bolsonaro for reeleito em 2022?
O espírito democrático de vocês não era que a panaceia ”eleição direta” resolveria tudo?
Que bastava eleger um presidente da república por via direta que o pais viraria uma maravilha?
Bolsonaro chegou ao poder como?
Deu um gópi?