Jair Bolsonaro tem um problema — o Rio de Janeiro. Arrisca-se a perder a eleição na cidade onde começou a carreira como vereador e, depois, ganhou sete mandados de deputado federal. Seu candidato a prefeito, Alexandre Ramagem (PL), pode perder no primeiro turno para Eduardo Paes (PSD), que tenta a reeleição em outubro.
O resultado da mais recente pesquisa Genial/Quaest mostra uma erosão no reduto eleitoral da família Bolsonaro, que tem os filhos Carlos na Câmara Municipal e Flávio no Senado. O bolsonarista Ramagem está com 13% das intenções de voto. Ou seja, 36 pontos percentuais atrás do prefeito Eduardo Paes, que tem 49%.
Ramagem só leva vantagem sobre Paes no nicho dos eleitores que optaram pelo pastor Marcelo Crivella em 2020 (quando Paes venceu) — 38% a 5%. No eleitorado que escolheu Bolsonaro em 2022, ele ficou com 32% e Paes foi a 42%, seguindo na dianteira. O eleitor de Lula vota maciçamente no prefeito: 61% ante 2% para Ramagem.
Bolsonaro tem suado a camisa amarela para tentar eleger seu candidato. Nos últimos dias, fez uma série de comícios no estado. No Rio, esteve em Madureira, Campo Grande e na Tijuca ao lado de Ramagem. O delegado, ex-presidente da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), é deputado federal de primeiro mandato, eleito com em 2022, pelo PL, com 59 170 votos.
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Ramagem está envolvido nas investigações da “Abin paralela”, denúncias de que comandou espionagem ilegal contra adversários do ex-presidente usando a instituição do Estado. O caso está na mídia desde 2020, quando Bolsonaro admitiu em uma reunião ministerial, gravada, ter um sistema próprio de informações.
Em 2018, Bolsonaro teve 66,35% dos votos na cidade do Rio, e Fernando Haddad ficou com 33,65%. Em 2022, Jair Bolsonaro ficou com 52,66% na cidade, enquanto Lula alcançou 47,34%. Bolsonaro não é candidato, mas a pesquisa Quaest expõe claramente a perda de seu capital político.
É cedo para prever qualquer resultado, mas o desempenho de Bolsonaro indica um fracasso em seu berço político. Para sobreviver, tudo indica, terá de apostar na eleição de vereadores para manter uma base política forte. Pode repetir uma tendência de eleições pelo mundo — México, Índia e África do Sul, por exemplo —, em que os líderes mantêm o poder, mas perdem apoio nos parlamentos.
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