Muita gente previu que a queda de Mandetta seria desastrosa para Bolsonaro. Não foi o que aconteceu. Ele subiu nas pesquisas. O demitido agora foi outro “ex-super-ministro”. Quem perde mais?
A conta do capitão é simples. Ele vai perder na classe média o que já tinha perdido com sua postura na crise sanitária. As panelas que se voltaram contra ele estarão agora com Moro.
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As pesquisas vêm indicando que ele está crescendo nas camadas populares impulsionado pelo auxílio emergencial. Segundo a CEF, mais de 32 milhões de brasileiros já receberam o benefício. Por tratar-se de uma política com duração limitada, o impacto vai passar? O povo ficará grato pela ajuda? Só o tempo dirá.
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A tentativa de impeachment ganhou um aliado de peso. A Globo entrou na campanha. A “Aliança do Coliseu” – coalizão formada pela Globo com setores antinacionais e antipovo da burocracia estatal – é a grande derrotada. Moro vazava tudo para a Globo. A parceria “vem de longe”, diria o saudoso Brizola.
Como fica Moro? O ex-juiz é um personagem medíocre. Fez um discurso errático, fraco, deprimente. É odiado no Congresso. É pouco provável que exista entre os deputados maioria para transformá-lo em herói do impeachment . O congresso não vai querer ficar com a conta da queda, mas a festa em Brasília será de arromba.
A pesquisa XP que testou Bolsonaro e Moro no mesmo cenário, em dezembro de 2019, mostrou que o presidente perde pouco. Sem Moro, alcança 33% das intenções de voto. Contra Moro, recua para 28% e o ex-juiz vai a 15%, empatando com Haddad (16%) e Ciro (13%). Perder 5 pontos para assumir a direção da PF e proteger a família pode ser um custo razoável.
Doria, Caiado, Witzel e Joyce estão em festa. Não será fácil Moro sobreviver na planície até 2022. Ele está cercado de inimigos poderosos por todos os lados. Possui muitos flancos. De toda forma, é um poderoso reforço no time da oposição de direita.
O agora ex-ministro fez questão de bater em Lula na sua despedida, deixando claro que sua saída é mais um capítulo da briga entre a direita e a extrema-direita.
A esquerda continua como aquele penetra animado que fica na porta da festa tentando entrar de qualquer jeito. Vai transformar Moro – talvez o mais perigoso agente da inteligência norte-americana no Brasil – em herói nacional do impeachment? O que ele fala contra Lula é mentira, mas o que fala contra Bolsonaro é verdade? Frente Ampla com Moro?
Esta jogada foi mais uma tentativa de recolocar a presidência da República como o poder moderador. Dilma e Temer fragilizaram o executivo, abrindo espaço para a ascensão do judiciário, do legislativo e das corporações. O c
apitão tenta recolocar todos dentro das suas caixinhas.
A construção de uma base política com o Centrão, a demissão de Mandetta e o rompimento com a Lava Jato marcam uma nova fase. O presidente chutou parte da classe média e vai tentar se agarrar ao povo. Vai funcionar?
Por isso o próximo alvo parece ser Guedes. O vírus engoliu a agenda fiscalista do ministro da Economia. O presidente vai cair abraçado ao posto Ipiranga? O pró-Brasil está a caminho. Votos ou mercado? A escolha será inevitável.
Bolsonaro é um beócio genocida, mas seus movimentos parecem ser bem orientados. A pauta na sociedade é outra. A agenda da Lava Jato desapareceu. Haveria melhor momento para assumir a PF e se livrar de um concorrente incômodo? Moro saiu. E daí?
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O próximo passo de Bolsonaro será a demissão de Guedes, tornado obsoleto e descartável pelo vírus. O ministro da infraestrutura parece o homem talhado para assumir a economia, no processo de reconstrução.
Capelli é preciso na análise e não se deixa enrolar por lorotas. Moro já era e Bolsonaro jogou uma cartada temerária. Não podia ter feito outra coisa. Sua formação militar sempre dará primazia aos princípios basilares da ‘autoridade’, da ‘hierarquia’ e da ‘disciplina’. O contrário, como deixou claro no discurso, é a desmoralização. Os generais do Planalto sabem disso, e por esse motivo não têm como contê-lo. Quanto à esquerda, na briga entre Bolsonaro e Moro, é melhor ficar com briga.
Com os antecedentes do “jornalista” alguém do mundo espera uma análise isenta ou uma análise nojenta ? Os governos Dilma e do Lula, colocaram para fora uns 10 ministros da Saúde e da Justiça ? E quais foram as razões ?