Na semana passada, comentamos por aqui como se dava o jogo de xadrez que o presidente Lula faz com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). Nos movimentos feitos por Lira no tabuleiro, vinha a impressão de que Lula entregava a ele de propósito algumas peças. Entregar peças é tática comum no xadrez. E muitas vezes pode fazer parecer que o adversário vai levando uma surra do seu oponente.
Mas aí, na segunda-feira (5), foi a vez de Lula jogar e mover as suas peças. E ficou claro que esse não é definitivamente um jogo de amadores. Ao mover suas peças, Lula mostrou que não está vendido no jogo. Ele até pode ter ficado em xeque depois das seguidas derrotas infligidas por Lira na semana passada e depois de toda a tensão para aprovar a MP dos Ministérios. Mas não foi xeque-mate. Lula não derrubou seu rei. E mostrou sua capacidade na sua vez de jogar.
O dia começou com o café da manhã com o próprio Lira. Que foi franco nas suas mágoas e reclamações. A roupa suja foi lavada. Novas condições estabelecidas. Mas, da conversa, o que principalmente saiu foi a certeza dada por Lula de que a partir de agora o comando da articulação política será com ele mesmo. Se aumenta sobre o presidente o risco de cobranças, por outro lado ele passa ao Congresso, e mais especialmente à Câmara, uma maior segurança no cumprimento dos acordos feitos.
Mas o principal lance de Lula aconteceu mais tarde na cerimônia pelo Dia do Meio Ambiente. Ali, Lula deu a demonstração prática do que havia prometido à ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, e à ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, de que a tentativa de redução dos seus poderes pelos movimentos de Lira e do Centrão na semana passada não teriam efeito na prática. De que era possível corrigir as perdas com movimentos internos.
Se Lula é o rei no tabuleiro do seu jogo político, na segunda-feira ele concedeu a Marina a condição de sua rainha. Pareceu ficar clara a compreensão de que quanto ao que o planeta espera do Brasil e do governo Lula, o compromisso com a causa ambiental é que prepondera. Na cerimônia, Lula concedeu a Marina a primazia. E Marina pareceu compreender a complexidade do jogo e o seu papel nele.
Lula terminou o dia com novas conversas políticas. Se na rodada anterior, não houve o xeque-mate de Lira, agora também não houve o xeque-mate de Lula. No fundo, parece óbvio que o jogo de ambos não é para que a partida se encerre antes do tempo regulamentar (seja os quatro anos de Lula, seja os dois anos de Lira). Mas Lira fará os seus movimentos.
E, na manhã desta terça, eis que ele já aciona o reloginho do seu lado para iniciar a sua jogada. E, de novo, inicia com seu lance tradicional de criar dificuldades para vender facilidades. “Não tenho a ousadia de dizer que a reforma tributária será aprovada”, declarou Arthur Lira.
Cá entre nós, Lira parece ter começado mudando um pouco de jogo. Do xadrez para o pôquer. No caso da reforma tributária, apontar para as mesmas dificuldades pode ter sido um blefe. A Câmara que Lira comanda é de direita, conservadora, e fortemente ligada aos interesses econômicos e empresariais, para além da sua ligação com o próprio Lira. E esses interesses também são os que movem Lira. O mundo financeiro e empresarial deseja a reforma tributária.
Sem dúvida, há arestas que ainda precisam ser aparadas. Eventuais perdas de estados e municípios. Mas elas foram negociadas na Comissão Especial pelo relator Aguinaldo Ribeiro (PP-PB) e pelo presidente Reginaldo Lopes (PT-MG). O texto parece azeitado.
Mas Lira precisa fazer o seu jogo. Alguns dos movimentos anteriores o incomodaram profundamente. Especialmente a operação da Polícia Federal sobre os kits de robótica. Além de fustigar aliados bem próximos de Lira, a operação puxa o novelo dos esquemas com as emendas do orçamento secreto, do qual o presidente da Câmara tem a chave do cofre. Essa é a sua maior preocupação. Porque é especialmente daí que vem o poder de Arthur Lira. Se a mexida em torno disso for muito forte, Lira ficará acuado. E uma fera acuada é um animal perigoso.
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