Quando chegou a Brasília no início da semana, Tarcísio de Freitas parecia disposto a encarnar o papel de líder da oposição à reforma tributária. O governador de São Paulo reuniu-se com a bancada do estado na Câmara e passou a criticar pontos importantes da proposta, especialmente o novo mecanismo de distribuição da arrecadação tributária, um conselho federativo. Esperava contar com o apoio dos demais governadores, sobretudo os do Rio, Cláudio Castro (PL) e de Minas, Romeu Zema (Novo). Não deu certo, e mudou de rumo.
Tarcísio refez sua estratégia, foi modulando a ação e o discurso para escapar do isolamento na oposição e assumir a liderança das negociações. Na quarta-feira, ao lado do ministro Fernando Haddad, já se apresentava como “parceiro” da reforma. Afirmou que concordava com 95% do texto, e que as divergências poderiam ser resolvidas com “ajustes”. Além disso, teve participação fundamental na decisão de seu partido, o Republicanos, de apoiar o projeto.
Também se reuniu com deputados do PL e ajudou a virar votos, contrariando o desejo do ex-chefe, que pedira à bancada a rejeição total do texto. E ainda tenta convencer Bolsonaro de que a reforma não é nem de governo nem de oposição, e que as bases para a discussão foram construídas em sua gestão. O discurso não passa de uma boia de salvação, para não deixar Bolsonaro falando sozinho. Sabe-se que o ex-ministro Paulo Guedes nunca foi um entusiasta dessa reforma e nem trabalhou para sua aprovação.
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O esforço de Tarcísio teve o auxílio providencial da liberação de R$ 2,1 bilhões em emendas parlamentares pelo Planalto — com poder de convencimento acima das ideologias. Como costuma dizer o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, há deputados do partido que não sobrevivem sem as verbas do governo.
Entre o desembarque do governador na capital e o início da discussão do texto no plenário da Câmara, outros fatores de peso influenciaram sua mudança de posição, sobretudo pressões da mídia, dos setores industrial e financeiro em favor da reforma. Remar contra tais forças não pareceu um caminho promissor para um governador em início de mandato e na vida política.
O carioca Tarcísio chegou ao Palácio dos Bandeirantes como outsider, impulsionado pelo bolsonarismo e amparado pelo PDS de Gilberto Kassab, que abriu-lhe portas de setores econômicos que o ignoravam. O ex-ministro de Bolsonaro cultivou a fama de “fazedor” na campanha. Tal atributo — ainda em teste em sua gestão — não basta, contudo, para quem pretende ser alternativa de poder para a direita depois da derrocada de Jair Bolsonaro. A reforma tributária deu ao governador a chance de entrar no jogo e atuar como um político. É cedo para previsões eleitorais. Nesta semana, porém, Tarcísio assumiu de fato o posto de governador de São Paulo.
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