Em 1972, tivemos o lançamento do musical de Cacá Diegues “Quando o Carnaval Chegar”, estrelado por Nara Leão, Maria Bethânia, Hugo Carvana, Chico, entre outros. Na trilha sonora destaca-se a música tema, onde Chico Buarque diz: “Quem me vê apanhando da vida, duvida que vá revidar. Tou me guardando pra quando o carnaval chegar”, “Eu tenho tanta alegria, adiada, abafada, quem dera gritar. Tou me guardando pra quando carnaval chegar”. Parece até uma alegoria da eterna espera brasileira pelo dia em que a alegria do carnaval abraçará em definitivo a maioria da população do país, superando a surra diária e a alegria abafada e adiada.
Este ano a Mangueira e a Portela não irão pra avenida, não haverá abadás e blocos de Axé e o Galo da Madrugada não varrerá as ruas de Recife, graças à pandemia que nos assola há dois anos. Será um momento de descanso e reflexão. É justo, pois, tentar imaginar o que nos reserva 2022. E certamente, não haverá monotonia pelos sinais que temos até aqui.
Em primeiro lugar, nuvens carregadas ameaçam o cenário internacional. O conflito entre Rússia e Ucrânia poderá ter desdobramentos imprevisíveis. Os EUA e a União Europeia resistem e ameaçam com retaliações crescentes. A China se alinhou a Rússia e paga pra ver. Obviamente, a tensão crescente terá repercussões no comércio internacional e no fluxo global de investimentos. O Brasil tem na China, EUA e União Europeia seus três maiores parceiros comerciais e ao mesmo tempo compõe o Brics, ao lado da Rússia e da China. Nossa atual política externa tem cometido erros primários e todo cuidado é pouco.
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Por outro lado, tudo indica que a pandemia chegará ao fim com o avanço da imunização e a covid-19 se incorporará à rotina dos desafios sanitários.
No plano econômico é de se prever que a inflação cederá a médio prazo, mas a taxa de juros e o desemprego continuarão altos e o crescimento raquítico. Os investimentos devem entrar em compasso de espera, aguardando os desdobramentos políticos das eleições de outubro.
E é aí que mora o perigo. As eleições trazem, como tudo na vida, ameaças e oportunidades. O Brasil necessita urgentemente de estabilidade política e econômica e de um plano de voo de longo prazo, sob pena de continuar patinando no pântano das crises permanentes. Enquanto não superarmos a instabilidade não cuidaremos da verdadeira agenda do século 21 e de preparar o futuro.
Nos últimos dias, a temperatura política subiu, o que é até certo ponto natural a sete meses das eleições presidenciais, mas que pode sair do controle. Os conflitos entre o Palácio do Planalto e o Poder Judiciário foram reciclados. Bolsonaro subiu o tom em palestra organizada pelo BTG, tentando, pela radicalização do discurso, provar que merece mais quatro anos. Lula tenta tranquilizar a sociedade, com movimentos claros em direção ao centro político, revelando estar consciente da gravidade do quadro e que fará um governo longe de retaliações e aventuras à esquerda. Paralelamente, o centro democrático tenta, a duras penas, localizar uma candidatura competitiva que vocalize uma agenda contemporânea, comprometida com a democracia, o desenvolvimento sustentável e o combate às desigualdades.
Dois mil e vinte e dois promete. O importante é que não somos todos atores passivos neste drama. O futuro nascerá das nossas mãos e de nossas escolhas.
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