O programa bolsonarista Pânico, transmitido pela rede governista Jovem Pan, recebeu, nesta quarta-feira (27), o presidente da República, Jair Messias Bolsonaro. Em meio a bajuladores e lacaios, o presidente aparentemente se encontrava em uma posição de conforto, até ser confrontado pelo comentarista André Marinho.
Na ocasião, de forma brilhantemente explicativa, Marinho não perguntou diretamente ao presidente sobre seus atos de governo ou escândalos de corrupção, mas sobre atos cometidos pelos governos do Partido dos Trabalhadores que muito se assemelham aos de Jair Bolsonaro: “Está todo mundo aqui muito preocupado com o retorno do PT ao poder. O PT, que vendeu o governo para o Centrão, comprou base parlamentar com emenda, tinha milícia digital para atacar opositor e fez indicação de cunho político para o STF. Ninguém quer ver esse horror voltar”, afirmou o humorista. “Vários deputados, nos seus gabinetes, PSB, PSOL e PT, que estão ali, roubando a torto e a direito salário de assessor e botando no próprio bolso, desviando dinheiro público. O PT, inclusive, é o campeão desse ranking de peculato.
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“Então, presidente, eu te pergunto, rachador tem que ir para a cadeia, ou não?”, questionou.
Bolsonaro, por sua vez, se irritou instantaneamente, disparando ataques e ofensas a Marinho e sua família. Claramente, o presidente não ficou confortável em responder acerca dos escândalos de corrupção semelhantes aos de sua família. A situação se acalorou e o presidente, pedindo que a produção do Pânico não voltasse a exibir André Marinho na tela, fugiu do debate e não respondeu à pergunta.
O público da Jovem Pan, majoritariamente composto por apoiadores do governo Jair Bolsonaro, passou a pedir a cabeça de Marinho, exigindo sua demissão imediata da emissora. Alguns de seus colegas de casa, como o comentarista Rodrigo Constantino, apoiaram a reivindicação dos espectadores.
Tal pedido mostra-se deveras irônico, pois o próprio presidente Bolsonaro se disse vítima de “censura” ao ter sua live retirada pelo Facebook, onde afirmou que as pessoas que se vacinarem contra o novo coronavírus têm maiores chances de contrair o vírus da imunodeficiência humana, causador da Aids. Ora, para eles, é justo e natural que o presidente da República espalhe notícias falsas que atentem contra a saúde pública, mas questionar este mesmo presidente acerca de seus escândalos de corrupção é simplesmente “passar dos limites”.
Vivemos em tempos onde poderosos que enganam o povo são protegidos por suas próprias vítimas, enquanto jornalistas que indagam as injustiças cometidas pelos governantes passam a ser persona non grata. Como defender a liberdade de expressão quando, ao mesmo tempo, se defende a demissão e destruição de reputação de uma pessoa que meramente exerceu com maestria sua função jornalística?
Cabe ressaltar que não apenas André Marinho questionou Jair Bolsonaro de forma primorosa, mas o humorista deixou um claro recado à classe jornalística como um todo. Constantemente, vemos jornalistas (normalmente mais voltados à esquerda) valendo-se de espantalhos retóricos para criticar o presidente, como, por exemplo, acusando um imaginário genocídio indígena, ou utilizando frases prontas e xingamentos rasos, contentando-se em chamá-lo de “fascista” ou compará-lo a Adolf Hitler. A esquerda falha em compreender que tais acusações levianas somente contribuem para aumentar a popularidade de Jair Bolsonaro, pois elas não encontram respaldo na opinião pública, tornando a figura do presidente como a de um “injustiçado”.
André Marinho não “passou do ponto”. Pelo contrário: ele expôs a hipocrisia de Jair Bolsonaro, suas semelhanças com o governo PT e mostrou como se faz uma verdadeira oposição. Não através de espantalhos, mas através de fatos.
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