Diante das postagens do empresário Elon Musk, na rede digital de sua propriedade, o ex-Twitter, que é claramente identificado e sintonizado com a extrema direita, fiquei com a impressão de que ele e Jair Bolsonaro têm os mesmos roteiristas. Aliás, impressão, não – certeza mesmo. Os discursos e posicionamentos, a forma de ataque e a linguagem utilizada são os mesmos, e, inclusive, uma de suas falas é idêntica a outra de Bolsonaro, quando, ainda presidente da República, ele discursou na Av. Paulista e atacou o Supremo Tribunal Federal e especialmente o ministro Alexandre de Morais.
Para mim, nada de surpresa, pois há anos venho alertando para a não-neutralidade das plataformas de redes e mídias digitais, tidas por “sociais”. São empresas privadas de comunicação estrangeiras e, como tais, têm seus próprios interesses e estão por trás da chegada da extrema direita ao poder – e dos ataques à democracia – em diversas partes do planeta.
Leia também
Já se sabe que as chamadas big techs têm tanto poder no mundo que chegam a funcionar como “Estados-paralelos”. Mas, sinceramente, não sei se o que mais me chama a atenção no caso do Brasil é a violência e a forma explicita como uma delas, o ex-Twitter, por meio de seu proprietário, Elon Musk, ataca a democracia e as instituições ou se é o complexo de vira-latas sem noção da extrema-direita e de setores da direita e da imprensa brasileira que respaldam tais ataques, ou mesmo dão visibilidade à questão no debate público, como se fosse uma questão de mera opinião.
Ora, descumprir as leis de um país, desdenhar de sua Constituição e atacar suas autoridades públicas constituem, inequivocamente, atos criminosos que devem ser veementemente desautorizados e punidos. Países diversos da América do Norte e da Europa têm se posicionado duramente contra estes tipos de ataques e os proprietários de diversas empresas já foram ao banco dos réus e parlamentos pelo mundo.
E no caso do Brasil, o que vemos? Discursos oportunistas que respaldam os ataques às leis e consequentemente à nossa soberania nacional. O Brasil e nós, brasileiros, merecemos respeito! Lamentavelmente, um tema de tamanha gravidade, que poderia unir polos opostos na política, se depara com uma postura onde um deles aproveita-se da situação para se promover. E falando em “promoção”, Elon Musk acaba de restaurar e promover a conta no ex-Twitter do criminoso, covarde e foragido blogueiro Alan dos Santos, fortalecendo-o perante uma horda de alienados, da mesma espécie que depredou as sedes dos três poderes no 8 de janeiro de 2023.
Sob o discurso de liberdade de expressão, opinião e pensamento, gera-se uma grande cortina de fumaça que acaba se espalhando com rapidez diante da polarização fabricada e escondendo, mais uma vez, a gravidade da perturbação do debate público e do ataque à democracia e às instituições brasileiras, em momento delicado: primeiro, porque há projetos fundamentais sobre a urgente regulamentação das plataformas de mídias digitais no Congresso Nacional, e segundo, porque estamos às vésperas do início de mais um processo eleitoral, onde o Tribunal Superior Eleitoral tem se esforçado para endurecer as regas e minimizar a interferência indevida nas eleições.
O viralatismo oportunista e submisso da extrema-direita e do bolsonarismo brasileiro apenas comprovam, com este tipo de atitude, que de patriotas, nacionalistas e defensores da soberania nacional eles não têm absolutamente nada.
O texto acima expressa a visão de quem o assina, não necessariamente do Congresso em Foco. Se você quer publicar algo sobre o mesmo tema, mas com um diferente ponto de vista, envie sua sugestão de texto para redacao@congressoemfoco.com.br.
Deixe um comentário