O Centrão está desconfortável no papel de oposição. É um figurino que não veste bem aquele conjunto de partidos que, há décadas, costuma participar de governos sem se importar muito com tonalidades ideológicas. Depois da experiência semiparlamentarista com Jair Bolsonaro, quando ganhou o controle do Orçamento, está difícil para parte desse grupo se manter na planície, distante do poder. Há divisões internas, mas os esforços do União Brasil para plantar na Esplanada alguém da confiança do comando da bancada mostram que o desejo de aderir só aumenta.
Pensar que o projeto de poder do partido se resume à ocupação do Ministério do Turismo, trocando Daniela Carneiro pelo deputado Celso Sabino (UB-PA), seria subestimar sua “expertise”. Ganhar a vaga é só um passo para integrar-se à base parlamentar do governo. Como deixou claro o líder Elmar Nascimento (BA) ao ministro Rui Costa, num almoço nessa quarta-feira, o apoio formal ao Planalto só acontecerá, de fato, se a mudança no ministério for acompanhada de um convite de Lula ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), para compor o campo governista. O efeito prático desse convite seria ofertar a Lira o “direito” de apadrinhar alguém para um ministério ou cargo de peso, aumentando sua ascendência sobre verbas federais e reforçando seu papel como chefe do Centrão.
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Elmar argumenta que o presidente da Câmara é essencial para o sucesso do governo. Atribui ao empenho de Lira a rápida aprovação das novas regras fiscais na Casa e sustenta que, quando isso não acontece, o governo sai derrotado, como na votação do marco temporal para demarcação de terras indígenas. Acha que não é possível assegurar os votos do partido para o governo sem Lira a seu lado. “Não se separam dois irmãos”, compara.
O deputado baiano é hoje o mais fiel aliado de Lira e candidato a ocupar seu cargo, em 2025. Se Lula depende de Lira para garantir maioria em votações, essa relação hoje é de mão dupla. A sucessão para o comando da Câmara já foi deflagrada, e Lira quer ampliar a própria base na Casa para conseguir eleger o “irmão” escolhido. Ele ainda tem força, sim, mas a briga pelo cargo pode desencadear uma progressiva perda de influência junto às bancadas. E Lira precisa oferecer àqueles que o seguem hoje alguma perspectiva de poder.
Esse processo tem ainda reflexos no plano regional, onde o arqui-inimigo Renan Calheiros (MDB) está dando as cartas. Além de ser muito próximo de Lula, Renan tem o filho no comando do Ministério dos Transportes e contaria com o apoio da maioria das prefeituras alagoanas na eleição municipal.
Uma reafirmação da aliança Lula-Lira, iniciada com a aprovação da PEC da Transição e com o apoio petista à reeleição, não significa, necessariamente, levar o PP à base governista — um desejo de Lula. O presidente do partido, Ciro Nogueira (PI), quer manter a legenda na oposição e continua a ser um defensor de Jair Bolsonaro. A mudança de rumo, no entanto, não é impossível. Ao contrário — até porque o PP integrou os governos petistas. Pode haver dissidências, é do jogo em todos os partidos, mas um reposicionamento de Lira seria um bom empurrão para aqueles que não se acostumaram com a vida na oposição. A oportunidade de usufruir das benesses de ser governo é tentadora. Pelo menos até que a próxima eleição os separem.
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