Dia desses tive a oportunidade de ler um emocionante relato sobre o sofrimento das crianças norte-americanas que vivem na região de Oakland, vítimas inocentes da poluição atmosférica que por lá reina.
A cada ano são dezenas de milhares de vítimas dando entrada nos serviços de emergência dos hospitais locais, em razão de problemas pulmonares. Muitas delas não sairão de lá vivas – em 2009, por exemplo, 157 crianças com menos de 15 anos de idade não resistiram. Segundo dados coletados em 2010, existem locais naquela região nos quais o índice de internações chega a inacreditáveis 126,4 por grupo de 10.000 crianças.
O problema é mesmo sério. Pesquisadores fizeram um levantamento na Lafayette Elementary School, no distrito escolar de Oakland, e constataram, chocados, que 23% dos estudantes apresentaram problemas pulmonares graves.
Esse drama não atinge apenas as crianças – carrega, consigo, as famílias destas. Que o diga a mãe de Jonathan, uma infeliz criança que passa praticamente cinco dias de cada mês sob tratamento, longe das ruas. Transcrevo o seu desabafo: “É sempre aquela batalha de trabalhar e estar ao lado do meu filho. Claro que ele é mais importante, mas nós temos que pagar nossas contas”.
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Por falar em contas, e daquelas salgadas, a dos danos materiais vai parar diretamente no bolso da população como um todo. Assim, apenas em 2007, foram gastos US$ 56 bilhões só no tratamento dessas doenças.
Ainda sobre contas, em 2001 a revista Science publicou um devastador estudo sobre os índices de poluição, internações e mortes em Nova York, Cidade do México, Santiago e São Paulo. Numa projeção para 2020, concluiu-se que, se essas cidades baixassem em apenas 10% suas emissões de gases poluentes, haveria 800 mil crises de asma a menos (só em São Paulo), e seria possível evitar 64 mil mortes e 65 mil casos de bronquite crônica. Seriam evitadas ainda 60 mil internações por causas respiratórias, 300 mil consultas médicas infantis e mais de 700 mil atendimentos de emergência por causas respiratórias.
Em termos financeiros, os valores economizados seriam de US$ 21 bilhões em custos médicos e US$ 165 bilhões em custos totais decorrentes das mortes prematuras e perda de produtividade por doenças. Poucos anos depois deste estudo, em 2006, apurou-se que apenas em São Paulo morrem 9 pessoas por dia vítimas da poluição. Eis aí uma realidade dramática – e que talvez não esteja tão longe da gente. Não acredita? Vamos lá: segundo o IBGE, São Paulo tem 8 μg de enxofre por m³ de ar (dados de 2005). Vitória tem 10 μg/m³.
É neste ponto que cumpre uma reflexão. Ao contrário do que poderia parecer, a solução desse problema não passa por escolher entre a saúde das crianças e a de um parque industrial. E assim porque não estão colocadas circunstâncias antagônicas – elas podem, sim, coexistir pacificamente. Aliás, arrisco dizer que uma complementa a outra – basta que se tenha serenidade, equilíbrio e espiritualidade. Só isso, e nada mais do que isso.
As crianças de Oakland, ao contrário do que se poderia supor, não são vítimas da industrialização. São vítimas, isto sim, da insensibilidade de alguns poucos que se recusam, terminantemente, a compatibilizar suas indústrias com o notável avanço tecnológico já conquistado pela humanidade. A esses dedico, em nome de cada criança que arfa e sofre pelos hospitais de Oakland, as palavras de Pascal: de que vale ao homem conquistar o mundo, se perde a alma?
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