O ano letivo de 2018 ainda não havia concluído o seu papel inclusivo quando, desavisada e supreendentemente, uma deputada estadual catarinense recém-eleita vociferava que o alunato deveria fiscalizar, denunciar e gravar o conteúdo das aulas dos professores. Era a senha do que seria a “nova política” do “novo” governo eleito que acredita na força do canhão vencendo os livros da educação. Foi o que se revelou nos refrãos governamentais seguintes, especialmente quando o próprio presidente e o já exonerado primeiro ministro da área começaram a caminhar e a cantar as rimas dessa “nova lição”.
E foi assim que a “balburdia” se tornou a nova política educacional brasileira, do inicial novelesco conflito “olavetes x militares”, passando pela deseducada, ilegal e inconstitucional ordem de se mandar gravar crianças em compulsória propaganda do mote da campanha eleitoral do presidente Jair Bolsonaro, terminando com a “canibalização” de vários secretários e do próprio primeiro ministro da Educação empossado. E é assim que segue marchando o segundo ministro da pasta, que de pronto já assumiu declarando o seu desprezo pelo saber produzido nas universidades públicas, condenando-o assim à morte por inanição, em processo acusatório digno de Franz Kafka.
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As escolas, as ruas, os campos, as construções e os vários cantos e recantos do país felizmente reagiram e caminharam em defesa do saber, recusando-se a viver sem razões. Estudantes, professores, professoras, trabalhadoras e trabalhadores da educação, pais, mães e amantes do conhecimento, em iguais braços dados, não esperaram acontecer o prometido caos educacional. O dia 15 de maio de 2019 fez-se hora, aprendeu e ensinou que a História estava à frente, nos amores da mente e na mão da cidadania que voltava a dizer, em decididos cordões: “NÃO!”.
Os que marchavam tinham e têm a certeza de que o saber igualiza as pessoas, torna-as resistentes à exploração, quebra o preconceito que provoca o isolamento de uma classe que não nasceu em “berço esplêndido”. Sabem que somente através de uma educação para todas e todos é possível falar em ascensão social, liberdade competitiva, igualdade e Justiça Social, ainda que dificultadas pela desigualdade econômica que insiste e se recusa a deixar o Brasil. Compreendem que educar é palavra que rejeita tiranias, mitos, imbecilidades, misoginias, racismos, homofobia e toda forma de opressão.
A caminhada em defesa das universidades fez-me lembrar de um provérbio árabe que bem define o estado de espírito dos que se dedicam à tarefa de educar, confirmando a vocação pela doação ao outro, independentemente das condições adversas que lhes são impostas. Diz o provérbio: não declares que as estrelas estão mortas só porque o céu está nublado. O nublado céu que queria impedir a cidadania brasileira de receber integralmente a luz da igualdade, o calor da liberdade e o amor da solidariedade, felizmente, não foi suficientemente denso para deter o ímpeto dos caminhantes de 15 de maio, tampouco que abandonasse a ousadia de lutar para que o sol um dia brilhe e nasça para mulheres e homens.
Não tenho dúvida de que quando este dia chegar, e torço para chegue logo, perceberemos que foram os combativos caminhantes do 15 de maio os principais responsáveis pelo despertar desse novo tempo. Os que caminharam e os que seguirão caminhando nos próximos decisivos dias, fazendo da defesa das universidades o mais forte bordão. Eles poderão se orgulhar da História que irão deixar para esta e várias gerações. Eles poderão dizer, como já cantou Geraldo Vandré, que deixaram os saudosistas do obscurantismo perdidos de armas na mão, pois caminharam porque queriam viver com razão, apostando nas flores e nos livros que hão de vencer as armas e os canhões.
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