Dia desses, lendo um jornal lá de Uganda, deparei-me com uma frase absolutamente surpreendente e instigante: “A educação está causando pobreza e desemprego”. Seu autor, por paradoxal que possa parecer, integra o mundo acadêmico: o professor Jacques Zeelen, da Universidade de Gulu.
Disse ele, explicando sua ideia: “Há um desencontro entre o sistema educacional e o mercado de trabalho”, do qual resulta uma geração preparada para empregos que não existem, e despreparada para os que existem. Secundou-o o professor John Asibo, Diretor do Conselho Nacional de Educação Superior: “Você não precisa estudar em uma universidade para ser uma pessoa de sucesso”.
Decidi saber mais sobre o assunto. Li, em um jornal do Vietnam, que “o número de graduados desempregados já é de 20% da força de trabalho”. Em Cingapura, somente seis a cada dez graduados conseguem emprego após seis meses de formados. Na Rússia, 30% dos graduados não conseguem uma ocupação definida. No Reino Unido, 50% dos formandos não conseguem trabalho compatível com os cursos que fizeram. Na Índia, 75% dos que cursaram engenharia estão desempregados. França: “14% dos sem-abrigo frequentaram curso superior”. Malaysia: “40.000 graduados desempregados”.
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E a famosa Coreia do Sul, cujo sistema educacional é tão elogiado? Com a palavra seu próprio governo: “Um a cada três desempregados é graduado”. Na China, “quase 50% dos formandos no desemprego”.
Concluí, assim, o acerto da parte inicial da frase do professor de Uganda: temos preparado nossos jovens para empregos que não existem. Sim, mas e os empregos que existem?
Comecemos pela Alemanha, que “sofre com falta de trabalhadores qualificados” – um déficit estimado em 3 milhões de braços para 2030. Na Argentina, “as empresas não conseguem os técnicos que necessitam”. Na Polônia, seis a cada dez empresas têm dificuldades em contratar funcionários. Em Israel, empresas “buscam inutilmente por trabalhadores qualificados”. Em El Salvador, “os jovens não estudam o que deles o mundo necessita”. Encerro estas linhas com o título de uma matéria publicada em um jornal argentino: “Desajuste entre educação e trabalho: a cada 100 advogados correspondem 31 engenheiros”.
Não sei a quantas anda a situação no Brasil. Será que temos estado atentos à lição que vem de Uganda?
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