Em tempos passados dizíamos que todo brasileiro era técnico da seleção brasileira de futebol. Todos davam palpite a respeito de tudo: técnicos, jogadores, estratégias. Não importava o acerto dos palpites: jogadores e técnicos não brincavam em serviço. A seleção era vigiada. E como!
Recente pesquisa de opinião de iniciativa do movimento Todos pela Educação me fez lembrar esses bons tempos e a sonhar: será que a população brasileira vigia a escola?
A intenção da pesquisa é aferir a percepção da população sobre a importância da educação nas eleições. Quem acompanha o tema sabe que em toda eleição os mesmos assuntos aparecem entre os finalistas: educação, saúde, emprego, segurança, trânsito/mobilidade urbana. A cada eleição pode mudar a ordem, mas os temas são os mesmos. E há outros que sobem e descem ao sabor do momento. Até aí não há novidades – educação sempre figura entre os três ou quatro mais importantes.
Mais do que as respostas, o que me chama atenção no estudo são as perguntas. E elas ajudam a entender por que a educação não melhora no país.
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As duas primeiras perguntas se referem à qualidade da condução da educação pública pelo governo federal e estadual. Estranho. O governo federal tem pouco a ver com educação básica. E, na maioria dos estados, 80% ou mais da educação estão nas mãos dos municípios. A população sabe pouco sobre federação e a distribuição de responsabilidades. Aqui já reside parte do problema: de quem a população deveria cobrar? Se a seleção perde, cai o técnico. E na educação? Educação é conceito muito abstrato, o foco deveria ser a escola. E, possivelmente, o prefeito – pelo menos até o ensino médio. Com conceitos tão abstratos a vida dos políticos fica muito fácil!
Outra pergunta que chama atenção: que grupos deveriam ser ouvidos prioritariamente em relação às políticas educacionais? A pergunta chama atenção não pela pergunta em si, mas pela sua adequação aos destinatários. O que interessa aos pais – em geral – é a escola onde matriculam ou podem matricular os filhos. Ou seja, o resultado das políticas, e não o processo como são formuladas. Numa democracia representativa caberia ao poder Legislativo definir os rumos e ao poder Executivo alcançá-los. A pergunta reflete o modelo plebiscitário e assembleísta que predomina no Brasil. Parece natural. Mas não é. Uma curiosidade: apenas 6% dos respondentes apontou para os partidos políticos… Outra: 66% indicaram que o mais importante é a opinião dos professores… Ou seja: a população acha que os professores constituem o grupo mais qualificado para opinar sobre educação. E quem seria o grupo qualificado para opinar sobre o meu filho que não está indo bem na escola?
Também chama atenção uma lista de frases com as quais o respondente deveria indicar o grau de concordância. Das cinco frases, uma chama atenção, neste caso mais pelas respostas do que pela pergunta: o que pensa a população sobre abrir e fechar escolas durante a pandemia? E, sobre isso, a população brasileira está dividida – quase meio a meio. Não é de se admirar que o Brasil tenha figurado entre os finalistas de países que mais tempo ficaram com a escolas fechadas. No contexto: educação sim, escola, não! Como pode ganhar uma seleção vigiada dessa forma?
Na era de ouro do futebol era importante vencer ou vencer. E o Brasil vencia. É curioso que dentre as perguntas finais sobre o que seriam temas importantes para a educação não havia nenhuma sobre a qualidade. Ou seja, como podemos cuidar da seleção se não importa fazer gols? Ou se sequer sabemos onde fica a trave?
É difícil mudar a educação sem que haja uma pressão forte sobre os políticos. E, para isso, a população precisa ter clareza sobre a importância da escola e sobre quem é responsável por fazer a escola funcionar. E não sobre complexas questões federativas. É na escola que as crianças farão – ou deixarão de fazer gol.
NR: O Congresso em Foco procurou o Todos pela Educação para comentar as críticas feitas pelo colunista. O texto será atualizado assim que houver resposta do instituto.
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