O Congresso em Foco entrou na noite de ontem (terça, 16) com interpelação judicial contra o governador de Mato Grosso, Mauro Mendes (DEM), para que esclareça a afirmação de que este site publicou matéria “encomendada por um grupo político da capital de MT, conhecido de longa data e até o presente momento por estar desviando dinheiro público”.
A acusação consta de nota atribuída ao governador, distribuída pelo WhatsApp e reproduzida por veículos locais daquele estado. A autoria do texto foi confirmada a este site por Laice Souza, assessora de comunicação do governador mato-grossense (veja no final deste texto a íntegra da nota).
Mauro Mendes tenta desqualificar a reportagem “Exclusivo: governador de MT é acusado de receber propina”, publicada no último dia 10. Assinada pelos jornalistas Lázaro Thor Borges e Pablo Rodrigo, ela seguiu os melhores procedimentos do bom jornalismo e está integralmente amparada na delação do empresário Mario de Queiroz Galvão, homologada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no âmbito da Operação Lava Jato.
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Também foi respeitado o princípio do contraditório, garantindo a Mauro Mendes todo o espaço para se manifestar sobre o assunto. Ele negou ter recebido propina e alegou que desconhecia a delação. Conforme o empreiteiro, Mauro Mendes recebeu R$ 1 milhão em propina e pediu outros R$ 6 milhões, por meio de terceiros.
Protocolada no Superior Tribunal de Justiça (STJ), a quem cabe processar e julgar crimes cometidos por governadores, a interpelação – que também é subscrita pelos autores da reportagem – é assinada pelos advogados Joelson Dias e Thyago Mendes.
Segundo eles, “as falas do interpelado podem configurar evidente crime de difamação”. Daí o pedido que fazem para que o governador confirme na Justiça sua acusação e que informe e comprove “quem encomendou a matéria jornalística”. A interpelação é o primeiro passo para que Mauro Mendes seja processado por difamação.
Quem conhece os mais de 16 anos de história deste site sabe que a fiscalização independente do poder é, desde o início, um dos pontos fortes da proposta editorial do Congresso em Foco. Em março de 2004, ou seja, no mês seguinte ao lançamento do site (criado em 12 de fevereiro daquele ano), tornano-mos o primeiro veículo jornalístico do país a publicar uma lista de parlamentares federais acusados criminalmente, tema que jamais deixamos de monitorar.
Essa vocação para cumprir o papel de “cão de guarda” do poder, escrutinando os atos dos agentes públicos na defesa do direito da sociedade à informação e à gestão correta dos recursos dos contribuintes, foi várias vezes reconhecidas por alguns dos principais títulos da mídia mundial, como os jornais The New York Times, Le Monde, Le Figaro, The Washington Post e The Guardian; revistas como The Economist e Time; e serviços noticiosos como Bloomberg, Reuters e BBC, entre muitos outros.
Único veículo jornalístico brasileiro premiado no famoso festival anual de criatividade de Cannes em 2019, o Congresso em Foco também foi a primeira publicação digital do país a conquistar o Prêmio Embratel Tim Lopes de Jornalismo Investigativo. Recebeu ainda o Prêmio Vladimir Herzog de Direitos Humanos (três vezes), o Prêmio Esso de Melhor Contribuição à Imprensa e diversas outras premiações.
Nas últimas semanas, a cobertura da crise política e da pandemia levou o Congresso em Foco a alcançar sucessivos recordes de leitura e a acumular, desde 1º de janeiro, mais de 22 milhões de visitas. É, segundo o Instituto FSB, pelo terceiro ano consecutivo o veículo especializado mais acessado pelos parlamentares federais.
“Lógico que essa acusação do governador não convencerá quem nos conhece”, afirma o fundador do site, Sylvio Costa. “O problema é ela lançar dúvidas a quem ainda não conhece o suficiente sobre o nosso trabalho e sobre os cuidados com que atuamos”. Ele considera que o ataque de Mauro Mendes é mais uma comprovação de que “o jornalismo é a mais nova Geni do país, sobre o qual todos lançam pedras, incluindo tentativas de censura até ameaças de morte.
Veja a íntegra da nota do governador:
“Esta matéria veiculada no site Congresso em Foco foi encomendada, por um grupo politico da capital de MT, conhecido de longa data e até o presente monento por estar desviando dinheiro publico. Tentam usar a velha tatica: acuse seus adversários de fazer o que você faz, para tentar confundir a população.
Funciona assim: alguém escreve, arrumam uns sites e parceiros para publicar e depois contratam pessoas e robôs para ficar postando nas redes sociais.
Irei processar a todos. Nunca tive conhecimento de existência da suposta delação e se esta narrativa existe é uma grande mentira. Se a Galvão fez alguma doação a campanha e ao partido em 2012, isto era totalmente legal até 2014. Somente agora em 2020 dizer que algo feito de forma legal e declarada seria propina?? Isso é safadeza e deixa evidente a clara tentativa de manipulação dos fatos e da verdade, criando uma história mentirosa, com único objetivo de tentar manchar minha imagem.
Cabe esclarecer que, em 2015, sob minha gestao, a Galvão perdeu o contrato de concessão da CAB Cuiabá, pela pessima prestacao dos sevicos, pela falta de agua e diversos outros descumprimentos contratuais.
Se a Galvao relatou estes fatos mentirosos, deve ter feito em represália a correta postura da prefeitura em defesa dos cuiabanos. A verdade é que, como prefeito de Cuiabá e em toda minha vida publica, não tenho nenhuma mancha sobre nossa conduta e não existe nenhum processo de improbidade ou de má utilização de dinheiro público.
por vários de seus integrantes. Sempre acreditei e continuo acreditando no Ministerio Público estadual e federal, nos órgãos de controle e que esta quadrilha será desmascarada, seus crimes apurados e terão as devidas penas legais.”
> Bem-vindos ao clube, Globo e Folha! O jornalismo não cabe em cercadinhos
Esse tipo de argumento ”ah, foi financiamento de campanha” não cola mais. A eleição custa 100 e o político fica com 900. É suborno mesmo. Estão todos ricos à custa de política.
É só mais um esquema. Esse esquema é o mesmo dos outros. Se for comprovado o ilícito vai dizer o “clássico” ”Eu não sabia”.