“A diferença entre um estadista e um demagogo é que este decide pensando nas próximas eleições, enquanto aquele decide pensando nas próximas gerações.”
Winston Churchill
Retomando a discussão iniciada na minha coluna de estreia, sobre o papel de profissionais de relações institucionais e governamentais (RIG) durante as eleições, trago uma série de sugestões de ações práticas. Elas têm o objetivo de auxiliar você a encontrar o momento certo para organizar posicionamentos, estratégias e atividades de comunicação. Se você não viu o artigo anterior, recomendo que você dê uma passada lá e volte aqui em seguida.
Desenvolvi os pontos a seguir com a colaboração de Anna Beatriz Almeida, cientista política e profissional relações governamentais. Veja algumas providências que podem ajudar a sua organização a ter uma política de relacionamento institucional transparente, ética e eficaz durante o período eleitoral:
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- Criar um comitê interno, com representantes de áreas correlacionadas (Relgov, Jurídico, Compliance, Comunicação, Relações Públicas) para acompanhar as eleições locais. O trabalho envolve reuniões periódicas de análise e de discussão de conteúdos, a elaboração de estratégias de coamunicação, a confecção de cronogramas etc.
- Elaborar conteúdos analíticos para o board da organização com informações estratégicas, cenários políticos, riscos e oportunidades. Esse material pode ser entregue por meio dos chamados war rooms ou table tops.
- Analisar as redes sociais dos candidatos e dos assuntos abordados para mitigar riscos reputacionais, caso sua organização seja citada durante a campanha.
- Ficar atento às fake news que possam envolver a imagem de sua empresa. Havendo assuntos que foram objeto de questionamento no passado, é bom deixar preparados conteúdos como statements (declarações públicas sobre a organização), talking points (mensagens-chave), reports (relatórios); e disclaimers (notas Legais).
- Se sua organização é apartidária, deixe isso claro em mensagens aos candidatos que possam vir a procura-la. O uso de redes sociais pode ser uma opção.
- Comunicar a todos os colaboradores as determinações do compliance, ou seja, “o que pode e o que não pode fazer” no período eleitoral. Lembre que a empresa deve resguardar a premissa essencial da liberdade de escolha e da individualidade dos seus colaboradores.
- Elaborar um Q&A (perguntas e respostas) com as regras gerais. tanto para comunicação interna quanto externa. Em caso de dúvidas, melhor acionar o seu Jurídico ou o departamento de compliance. Exemplos de perguntas que precisam ser respondidas:
- O que fazer se um candidato procurar sua empresa durante a campanha?
- Como se comunicar com o gestor público quando ele é candidato à reeleição?
- Posso realizar reuniões de apresentação institucional com candidatos?
- Posso ser cabo eleitoral e colaborador da empresa ao mesmo tempo?
- Posso usar as instalações da empresa ou ferramentas de trabalho (computador, telefone, internet) para auxiliar na campanha de alguém?
- Posso oferecer auxílio nas campanhas com transportes, alimentação ou material gráfico?
- O que fazer se um colaborador de sua empresa vai se candidatar?
- Dar prioridade às ações via associações de classe, think tanks, federações e sindicatos para que entidades desse gênero estabeleçam contato com os candidatos com o objetivo de discutir políticas públicas de forma setorial e transversal. Exemplos: webinars, reuniões e fóruns temáticos.
- Elaborar apresentação institucional da sua empresa para usar após as eleições junto ao representante eleito. Isso traz transparência ao relacionamento futuro, além de permitir ao prefeito conhecer sua empresa e a importância dela na localidade onde atua.
Em resumo, neste momento eleitoral, o profissional de relações governamentais tem competências para dentro e para fora da instituição que representa. Elas vão muito além do que se espera na relação com o poder público e na construção das políticas públicas. Envolve o papel de agente de comunicação e de inteligência, que carrega em si a imagem da empresa.
Para dentro da empresa, cabe ao Relgov: entender, acompanhar e analisar o cenário eleitoral; conhecer e elaborar perfil dos candidatos, mensurando riscos para a organização; estruturar conteúdos estratégicos e traduzir à liderança da sua empresa o andamento desse processo eleitoral. Cabe também organizar as comunicações internas dentro das condicionantes de compliance da empresa e das leis que regem o sistema eleitoral, dentre todos os pontos sugeridos acima no texto.
E para fora da empresa, na relação com os candidatos, será o porta-voz da instituição que representa. A pessoa que se relacionará com candidatos e assessores, formadores de opinião e entidades, sempre respeitando os condicionantes de compliance da empresa e agindo da forma mais transparente possível.
Será também o condutor de ações estratégicas e dos conteúdos da empresa, salvaguardando questões reputacionais, sempre que possível prevendo ou mitigando riscos.
Este texto foi escrito com a colaboração de Anna Beatriz Almeida.
O texto acima expressa a visão de quem o assina, não necessariamente do Congresso em Foco. Se você quer publicar algo sobre o mesmo tema, mas com um diferente ponto de vista, envie sua sugestão de texto para redacao@congressoemfoco.com.br.
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