Edson Sardinha
O Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Distrito Federal (SJPDF) encaminhou hoje (26) à Mesa Diretora do Senado uma representação em que pede a aplicação de advertência e censura ao senador Roberto Requião (PMDB-PR), que tomou o gravador de um repórter ontem, apagou suas entrevistas e o ameaçou de agressão.
“Patenteando os tempos obscuros do período ditatorial, o senador da República, que deveria zelar pelo cumprimento das normas constitucionais, imiscuiu-se no direito de apropriar-se indevidamente de gravador (instrumento utilizado no exercício da profissão de jornalista) pertencente ao jornalista da Rádio Bandeirantes (Sr. Victor Boyadjian) por não ter sido do seu agrado a pergunta realizada pelo jornalista, promovendo ainda a chacota pública do profissional”, diz o documento, assinado pelo presidente da entidade, Lincoln Macário, pelo presidente do Comitê de Imprensa do Senado, Fabio Marçal, e pelo advogado Klaus Stenius Bezerra Camelo de Melo.
O Sindicato dos Jornalistas do DF pede ainda que Requião seja intimado a apresentar sua versão dos fatos e que o Senado divulgue as imagens referentes ao episódio, ocorrido ontem no plenário da Casa. Assim que receber oficialmente a representação, o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), deverá conceder prazo para o senador paranaense se manifestar. Caberá à Mesa decidir encaminhar ou não o caso ao Conselho de Ética.
Diante da repercussão do episódio, Sarney anunciou para hoje a votação, em plenário, da nova composição do Conselho de Ética. O colegiado está desativado desde 2009, quando a oposição abandonou o órgão em represália ao arquivamento sumário das denúncias contra Sarney na chamada crise dos atos secretos. O peemedebista também prometeu anunciar, ainda esta semana, o nome do novo corregedor da Casa. O cargo está vago desde outubro, quando morreu o senador Romeu Tuma (PTB-SP).
Após caso Requião, Sarney promete novo corregedor
Requião: Já pensou em apanhar, rapaz?
Requião toma gravador de repórter em plenário
“Problema de temperamento”
Nesta manhã, o presidente do Senado minimizou o episódio protagonizado ontem pelo ex-governador do Paraná. Acho que é um episódio que poderia não ter acontecido. É uma questão de temperamento, cada um tem o seu, e evidentemente essas coisas às vezes acontecem. O problema de temperamento acho que foi um atrito, mas não tem essa conotação de agressão a liberdade de trabalho e de imprensa, uma vez que é um episódio passageiro, disse o senador amapaense.
Roberto Requião se irritou com uma pergunta feita pelo repórter Victor Boyadjian, da Rádio Bandeirantes. Na frente de diversos jornalistas e assessores, Requião se recusou a responder se abriria mão de sua aposentadoria caso o governo do Paraná adotasse restrições orçamentárias. Além de tomar o gravador, o senador apagou entrevistas que estavam no cartão de memória do gravador.
Ameaça
Depois de ampla repercussão pela imprensa, que acabou por movimentar a segunda-feira (25) esvaziada no Senado, Requião devolveu o cartão de memória, vazio. Preocupado pelos desdobramentos de seu ato, o próprio senador veiculou a íntegra da entrevista (excluindo-se trechos finais da discussão com o repórter) em sua página na internet. No final da gravação, o peemedebista ameaçou o repórter.
Você já pensou em apanhar, rapaz?, bradou Requião. Calma, senador, respondeu Victor. Vou ficar com isso aqui. Não vai mais desligar porra nenhuma, completou Requião, depois de conversar sobre medidas antiinflacionárias, orçamento e, no estopim do destempero, sobre a aposentadoria vitalícia recuperada na Justiça em abril.
A denúncia de violação por parte de Requião não encontrou respaldo no Senado. A Polícia Legislativa do Senado disse que está impedida de formalizar denúncia contra o parlamentar, alegando ser esta uma atribuição da corregedoria da Casa, como define a resolução número 17/93 da Mesa Diretora.
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