Fábio Góis
Um bate-boca entre senadores marcou o início da sessão ordinária desta quarta-feira (17) no plenário do Senado. Tudo começou quando Wellington Salgado (PMDB-MG), suplente do agora ministro Hélio Costa (Comunicações), pediu a palavra e passou a defender o presidente da Casa, José Sarney (PMDB-AP), às voltas com seguidos escândalos que, desde sua terceira posse, em fevereiro, acometem a instituição. O tucano Tasso Jereissati (CE), que minutos antes havia lido uma relação de sugestões de reforma administrativa, não gostou da intervenção – e, quase aos gritos, disse que quem não havia recebido votos do povo não estaria na mesma condição que os restantes e, por isso, não poderia interferir na discussão.
Discurso – “Crise do Senado não é minha”, diz Sarney
Seguindo a linha do discurso de “defesa da instituição” feito ontem (terça, 16) por Sarney, Wellington disse que “a responsabilidade de tudo que o acontece, aqui, é responsabilidade do Senado”. “Vai se abrir uma discussão para se colocar culpa em funcionário do Senado, quem é o culpado, se é o funcionário tal… Isso não existe! Se existe alguma atitude tomada errada, a atitude foi do Senado”, argumentou o senador.
Depois do discurso de Wellington, Tasso rebateu dizendo que o esforço que estaria em curso pelos senadores é no sentido de resgatar a imagem da instituição e “responder à opinião pública”. “É preciso ter a clara noção de que aquele senador que nunca disputou uma eleição na vida não tem o mesmo desconforto do que aquele que está sujeito, durante toda a sua vida, às eleições, e depende a sua vida basicamente da opinião pública”, fustigou o tucano, acrescentando que os parlamentares que nunca participaram de eleições populares deveria “pensar antes de falar sobre a opinião pública”.
Declarando que a opinião pública estaria contra os parlamentares, Tasso acrescentou que senadores como Wellington (suplentes, sem votos) não estariam “preocupados com a opinião pública”, porque eleições não fariam parte da vida deles. “Hoje, nós temos que prestar uma satisfação à opinião pública”, emendou, dizendo ter havido “muito desconforto” entre seus pares depois da fala de Wellington.
A crise é do Senado
Wellington tentou desqualificar a idéia difundida, principalmente por oposicionistas, de que o ex-diretor-geral do Senado Agaciel Maia, afastado do posto desde o início março (depois de quase 15 anos no comando da diretoria), era o homem mais “poderoso” da Casa. “Mais poderoso para mim, aqui dentro, é o presidente que foi eleito por nós. Um homem experiente, já foi presidente desta Casa, já foi presidente do Brasil”, exaltou.
“Estamos vivendo um grande teatro. O que está existindo aqui é uma lua de mel com a derrota, e quem perdeu continua vivendo essa derrota”, prosseguiu Wellington, em menção velada ao senador Tião Viana (PT-AC), que perdeu para Sarney a disputa à presidência. O peemedebista se referia ao novo caso que abala os trabalhos legislativos do Senado – as centenas de atos administrativos secretos que, tendo sido emitidos desde 1998 pela alta cúpula da Casa, beneficiaram parlamentares, familiares e aliados com contratações e concessão de gratificações e funções, entre outros propósitos (leia mais abaixo).
Agraciado pelas palavras do colega e demonstrando certo constrangimento na Mesa Diretora, o próprio Sarney interrompeu o discurso de Wellington, antes das palavras de Tasso Jereissati. “Esse assunto já foi [superado], e nós vamos ter oportunidade de discutir… “, disse Sarney, referindo-se a uma crise que persiste (ao menos) há cerca de seis meses, e foi intensificada com o caso dos atos administrativos sigilosos.
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