Antonio Vital |
O presidente do PFL, o usualmente frio e calculista Jorge Bornhausen (SC), comparou o presidente Lula ao ex-assessor parlamentar da presidência Waldomiro Diniz depois do jantar oferecido pela cúpula do governo ao grupo de Antonio Carlos Magalhães. A prefeita de São Paulo, Marta Suplicy (PT), disse que a eventual vitória tucana de José Serra lá causaria uma crise política nacional. Os dois episódios não podem ser considerados baixarias da véspera de uma eleição para prefeitos. Fazem parte, isso sim, do jogo de 2006. As eleições de outubro têm relativamente pouco peso no cenário que já começa a ser traçado para 2006. É natural, por exemplo, que o PT cresça em número de prefeituras, mesmo perdendo em alguma grande cidade onde já governa. Uma eventual derrota em São Paulo, por exemplo, será mais uma derrota de Marta Suplicy que do governo, ainda que sirva de alerta. Publicidade
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Perder a prefeitura de São Paulo vai afundar os planos de Marta de assumir o Palácio dos Bandeirantes. Não os de Lula de permanecer no palácio dele. O importante mesmo vai acontecer depois da escolha dos prefeitos pelos eleitores: uma reforma ministerial destinada a acomodar o PMDB, que ameaça romper com o governo. Ou até mesmo o grupo carlista do PFL. PublicidadeO PT, nos últimos tempos, elegeu o PSDB seu grande adversário e está movendo as peças do tabuleiro de modo a isolar ao máximo os tucanos, já com vistas às eleições presidenciais. Flertar à luz do dia com dissidentes do PFL faz parte desse jogo. Alimentar a idéia de que pode vir a surgir um novo partido "de direita" governista, idem. O objetivo do governo, a curto prazo, é obter uma maioria segura no Senado, onde qualquer brisa soprada pela oposição adquire as dimensões do furacão Ivan contra o governo. Mas nada melhor, para fazer isso, que tocar no ponto sensível de peemedebistas e pefelistas: a perspectiva, para alguns tétrica, de ficar mais seis anos longe do poder. O que se evidencia nessa briga entre Antonio Carlos Magalhães e Jorge Bornhausen é que, oposição unida mesmo, só no PSDB – com a provável exceção do senador tucano Eduardo Siqueira Campos (TO). Mas uma vitória de César Maia (PFL) no primeiro turno, no Rio, e uma eventual derrota do carlista César Borges em Salvador podem acabar efetivamente isolando ACM no partido e o que começou com uma bravata pode ter como desfecho a saída do grupo dele – e do de Sarney, inclusive a filha Roseana – do PFL. Ter Roseana como candidata a vice de Lula em 2006 é o sonho de Sarney, mas o jogo está apenas começando. O Palácio do Planalto está sendo obrigado a cortejar a ala governista do PFL à luz do dia porque sabe que pode perder o apoio do PMDB a qualquer momento. O partido não está satisfeito com os dois ministérios que tem, avalia que Amir Lando (Previdência) e Eunício Oliveira (Comunicações) mandam muito pouco e sabe que Lula vai acabar apoiando a recondução de Sarney à presidência do Senado contra as pretensões do líder Renan Calheiros (AL). Por causa disso, ou o grupo de Calheiros ganha um ministério a mais para o PMDB no fim do ano, depois das eleições, ou o PMDB rompe com o Planalto. Calheiros e o presidente do partido, Michel Temer, têm uma arma para pressionar o governo: o secretário de Segurança Pública do Rio Anthony Garotinho, que em 2002 obteve o terceiro lugar nas eleições presidenciais com um discurso anti-PT. Do lado dos partidos da base governista, a única incógnita é o PPS, rachado ao meio entre os governistas liderados por Ciro Gomes e os oposicionistas ligados a Roberto Freire. Os demais devem se manter atrelados ao Palácio do Planalto mesmo se perderem um ministério (caso do PCdoB) ou se perderem a vaga de vice na chapa presidencial (caso do PL). |
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