O filósofo espanhol Ortega y Gasset celebrizou uma frase lapidar: “Eu sou eu e a minha circunstância e se não a salvo, não salvo a mim mesmo”. Já Napoleão Bonaparte cravou: “Um líder é um vendedor de esperança”. O processo de evolução civilizatória não é obra solitária, é construção coletiva de gerações, mas o papel do líder é inegável nas grandes transformações históricas.
Hoje vivemos uma profunda crise de liderança. O sistema político está contaminado por sua desconexão com a cidadania e pelo festival de corrupção desnudado pela Lava Jato. O líder tem que servir de espelho para as novas gerações, deve ser admirado e respeitado. O Brasil produziu grandes líderes. Mas é preciso constatar que, no entardecer da Nova República, um enorme vácuo de liderança se abre no horizonte.
Luiz Inácio Lula da Silva é o mais importante líder popular da história recente do Brasil. Tinha uma trajetória admirável: retirante nordestino, metalúrgico, líder sindical, protagonista político, caminho que o levou à Presidência. Hoje vive talvez seu ocaso, como o retrato mais acabado da decadência do sistema político brasileiro.
A primeira vez que ouvi falar de Lula foi quando ele visitou a minha Juiz de Fora, em 1975, acompanhando o então presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Paulo Vidal, que iria dar uma palestra sobre direitos trabalhistas, organizada pelo DCE/UFJF. A cultura sindical, na época, era inspirada no sindicalismo americano. Isso mesmo. Lula nunca foi de esquerda. Era e sempre foi um pragmático. A grande ilusão de intelectuais e militantes de esquerda e de lideranças ligadas à Teologia da Libertação é que finalmente tinham encontrado um líder operário para chamar de seu e iriam manipulá-lo a serviço da revolução socialista. Hoje o popular presidente da República se tornou símbolo e pivô do maior escândalo da história brasileira.
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Sou da escola do velho PSD mineiro. Tancredo Neves certa vez disse que adversário político não é inimigo pessoal. Não fico feliz com o triste fim de Lula. Ele foi ator central na redemocratização. Mas a Lei é pra todos. Ninguém deve se julgar acima dela. As instituições, a Constituição e as leis são as âncoras da República.
O fundamento da democracia e da vida republicana é a separação, autonomia e soberania dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. As sentenças do juiz Sérgio Moro e dos três desembargadores da 8ª Turma do TRF da 4ª Região foram técnicas, com fundamentos jurídicos e baseadas nas provas e evidências presentes nos autos. Não há dimensão política no comportamento dos juízes, embora seja inegável que a decisão tem profundas consequências políticas.
Mas não vamos embaralhar o que tão bem Montesquieu separou. Não devemos politizar o Poder Judiciário e muito menos judicializar a política.
Líderes são vendedores de esperança, mas às vezes, ao maltratarem suas circunstâncias, acabam produzindo decepção e desencanto.
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