"Admito que me equivoquei", disse o presidente Lula no horário eleitoral desta noite, reconhecendo que foi um erro não ter participado dos debates com os demais candidatos ao Palácio do Planalto no primeiro turno. Ele alega que os evitou porque pretendia "fazer uma campanha de paz e sem baixaria". E prometeu comparecer a todos os debates previstos para este segundo turno (dia 19 no SBT e dia 27, na Globo).
Com edição totalmente diferente da que foi ao ar no início da tarde (leia mais), o programa apresentou um pronunciamento em que Lula comparou sua atitude durante a campanha com o comportamento de seus opositores. "Enquanto eles sempre trabalharam para uma pequena elite, nós governamos para todos os brasileiros. Enquanto eles fazem uma campanha de ódio dividindo o Brasil, nós estamos unindo a nação num projeto de futuro em que há lugar para todos", afirmou – veja a íntegra abaixo.
Ele condenou o "grave erro cometido por alguns petistas" ao negociar a aquisição do dossiê Vedoin, mas acrescentou que determinou a "apuração rigorosa" dos fatos e o afastamento de todos aqueles que foram colocados sob suspeita. Falou ainda que não permitirá que esse assunto se transforme no único tema da campanha de segundo turno.
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Pregando a discussão de projetos para o país, declarou: "Peço aos meus adversários que respeitem o povo brasileiro". Não deixou, porém, de atacar indiretamente o candidato da coligação PSDB/PFL, o ex-governador paulista Geraldo Alckmin. Enfatizou que seu governo manda apurar todas as denúncias "enquanto eles acobertam escândalos e barraram CPIs".
Mais ataques
O programa de Alckmin foi o mesmo veiculado à tarde (leia mais). Já o de Lula demonstrou mudança em relação à estratégia adotada no horário eleitoral durante o primeiro turno. Se antes os programas do presidente praticamente ignoravam os demais concorrentes, agora a campanha petista já não hesita em questionar diretamente as promessas de Alckmin.
Hoje, uma voz em off dizia "isso é certo" enquanto imagens mostravam manchete de jornal noticiando a prisão das principais autoridades de Rondônia, fato atribuído à ação desenvolvida pelo governo para combater a corrupção. Em seguida, com a primeira página estampando manchete sobre rebeliões patrocinadas em São Paulo pelo PCC, o locutor questionava se Alckmin estaria em condições de resolver o problema da segurança no país. "Isso é duvidoso", concluía a voz, emendando em seguida: "Não troque o certo pelo duvidoso".
O programa também fez uma comparação entre a performance dos governos Fernando Henrique e Lula. Foram citados cinco exemplos: dívida com o FMI, reduzida de US$ 20 bilhões para zero; geração mensal de empregos, ampliada de 8 mil para 105 mil; investimentos sociais, elevados de R$ 2 bilhões para R$ 8 bilhões por ano; recuperação do salário mínimo, 20,6% em oito anos de governo FHC e 25,7% em quatro anos de administração Lula.
Vários candidatos vitoriosos nas eleições sugiram na tela como cabos eleitorais. Entre eles, os quatro governadores eleitos pelo PT (Bahia, Piauí, Sergipe e Acre), Marcelo Miranda (PMDB-TO), Cid Gomes (PSB-CE), Waldez de Góes (PDT-AP) e Sérgio Cabral (PMDB-RJ), que lidera as pesquisas de intenção de voto no segundo turno.
No programa, também se compromete a implementar 11 diretrizes em seu segundo mandato: ampliar os incentivos à indústria; reduzir os impostos; estimular a construção civil; expandir o programa de biodiesel; criar cidades-pólo em todo o país para o desenvolvimento do ensino técnico e superior; investir em transportes; ampliar e aperfeiçoar o Bolsa Família; levar luz elétrica a todos os domicílios da zona rural; ampliar programas de saúde como Brasil Sorridente e Farmácia Popular; diminuir os juros; e aumentar o crédito.
Discurso
Veja a seguir a íntegra do pronunciamento feito por Lula no início do programa:
"Minhas amigas e meus amigos,
Começamos hoje uma nova etapa dessa eleição e de um momento decisivo para o Brasil. Em primeiro lugar quero agradecer aos mais de 46 milhões de eleitores que me deram seu voto no primeiro turno. E dizer para cada um de vocês que mais nunca preciso de seu apoio para continuar nos projetos de transformação do Brasil. No primeiro turno debatemos idéias e, principalmente, mostramos o que fizemos. Agora quero acima de tudo falar do futuro, de novas propostas e mostrar a profunda diferença que existe entre eu e o meu adversário.
Temos um projeto de nação completamente diferente.
Enquanto eles sempre trabalharam para uma pequena elite, nós governamos para todos os brasileiros.
Enquanto eles fazem uma campanha de ódio dividindo o Brasil, nós estamos unindo a nação num projeto de futuro em que há lugar para todos.
Enquanto eles privatizaram, desarticularam a economia, encolheram o salário, diminuir o emprego e submeter o país aos interesses estrangeiros, nós acabamos com a inflação, estabilizamos a economia, aumentamos o salário, ampliamos os empregos, nos libertamos do FMI e, especialmente, diminuímos a pobreza e a desigualdade social.
Enquanto eles acobertaram escândalos e barraram CPIs, nós estamos combatendo a corrupção e todas as frentes mesmo que para isso a gente tenha que cortar na própria carne e deixar nosso governo exposto muitas vezes às críticas oportunistas.
Não tenho medo de enfrentar esse debate. É melhor fazer isso do que varrer o lixo para debaixo do tapete. Todos vocês sabem do aproveitamento que eles estão fazendo do grave erro cometido por alguns petistas que tentaram comprar um dossiê. Determinei a apuração rigorosa dos fatos, além do afastamento de todos os envolvidos. Mas não vou entrar no jogo dos adversários e deixar que esse assunto domine a campanha no segundo turno.
Uma campanha presidencial é um espaço de discussão profunda dos problemas nacionais e não de temas de delegacia de polícia. Eu quero fazer antes de tudo fazer uma campanha de paz e sem baixaria. Foi por isso que cheguei a evitar a comparecer a um debate. Hoje admito que eu errei em não ir porque minha posição foi mal interpretada e não freou a baixaria de meus adversários. Mas que nunca estou aberto ao confronto de idéias. Já fui ao primeiro debate do segundo turno e vou continuar indo nos demais. Sempre fiz isso nas campanhas. Só peço aos meus adversários que respeitem o povo brasileiro. O Brasil só sairá melhor dessa eleição se cada um de nós agir com responsabilidade. Peço a vocês que acompanhem atentamente nossas propostas. Elas são junto com o resultado do atual governo, é o que de melhor eu posso oferecer a você e ao futuro do nosso querido Brasil." (Sylvio Costa e Lúcio Lambranho)
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