Folha de S. Paulo
Dilma fica com maior parte dos votos se Marina desistir
Quem ficaria com a maior parte dos votos de Marina Silva (PSB), a mais competitiva adversária da favorita Dilma Rousseff, caso a ex-ministra realmente não concorra à Presidência no ano que vem? Resposta: Dilma Rousseff.
A constatação pode ser feita a partir do cruzamento de dados da pesquisa Datafolha realizada na sexta-feira.
Segundo a apuração do instituto, 42% dos eleitores que declaram voto em Marina passam a votar em Dilma num dos cenários em que a ex-ministra não consta como opção.
O senador Aécio Neves (PSDB) herda 21% dos votos marineiros. E o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB) –aquele que teria o apoio formal de Marina na hipótese de sua ausência–, fica com 15%.
Aécio e Campos são considerados hoje os mais prováveis adversários de Dilma no ano que vem, já que têm interesse em concorrer e controlam seus respectivos partidos.
Comunicação deve diminuir diferença de Marina para Campos
A união de Marina Silva e Eduardo Campos na oposição eleva as chances de segundo turno na disputa pela Presidência da República nas eleições do ano que vem, como mostrou o Datafolha na pesquisa divulgada ontem.
Leia também
Mas a escolha do candidato que encabeçará a chave não será tão óbvia quanto as atuais intenções de voto podem sugerir.
Apesar de neste primeiro momento Marina figurar como a aposta mais segura, a análise de algumas variáveis que compõem o levantamento indica potencial de crescimento do atual governador de Pernambuco.
E o principal catalisador para a candidatura de Eduardo Campos não deve ser, necessariamente, o apoio de sua correligionária.
Até porque Marina apresenta, segundo os resultados, poder de influência limitado como cabo eleitoral, especialmente se comparada à força do ex-presidente Lula enquanto “dublê” de Dilma.
Recuperação da imagem de Dilma perde força
O índice de aprovação da presidente Dilma Rousseff oscilou dois pontos para cima desde a pesquisa Datafolha de agosto e atinge 38%, mostra o levantamento da última sexta.
Em relação à pesquisa dejunho, feita logo após o auge da onda de protestos pelo país, a atual taxa de aprovação está oito pontos percentuais maior. Naquela ocasião, Dilma obteve 30% de aprovação, seu pior índice desde a posse, em janeiro de 2011.
A aprovação é a soma das avaliações “ótimo” e “bom” na pergunta sobre o desempenho do governo. Os dados mostram que a recuperação da imagem da presidente continua, mas perdeu força no período mais recente.
Como a margem de erro é de dois pontos para mais ou para menos, não é possível dizer que a aprovação subiu em relação à pesquisa anterior.
Pesquisa tem números que agradam a todos os partidos
A um ano das eleições presidenciais, grupos concorrentes avaliaram de forma semelhante o cenário de 2014: o Datafolha traz, em maior ou menor grau, boas e más notícias a todos os candidatos.
Colaboradores de todos os possíveis nomes reconheceram que a pesquisa foi positiva para o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), ao projetá-lo com 15%, o dobro de intenções de votos.
A presidente Dilma Rousseff não conseguiu voltar à intenção de voto espontânea de antes dos protestos de junho, mas exibe força num eleitorado visto pelo governo como mais fiel: o de menor renda e menor escolaridade.
Apoiadores da petista já esperavam o resultado apontando vitória no primeiro turno após a redução do número dos principais adversários. “O Datafolha mostra excelentes possibilidades de a presidente vencer. Como estamos em fase de adaptação dos discursos dos outros candidatos, a missão é deixar claro que não se pode trocar o certo pelo duvidoso”, disse José Guimarães, líder do PT na Câmara.
Garupa nunca mais
Após experimentar a sensação de andar de motocicleta, a presidente Dilma Rousseff resolveu que não basta estar na garupa. Agora, quer aprender a pilotar e até embala o desejo de comprar sua própria moto. Na mira, um modelo da famosa marca americana Harley-Davidson.
Tudo começou em 4 de agosto, quando, como a Folha revelou, Dilma deu uma volta de uma hora na garupa do secretário-executivo do Ministério da Previdência, Carlos Gabas. Assim que voltou do passeio, Dilma decretou: “Quero aprender a pilotar”.
O pedido combina com o estilo dilmista, que em certas ocasiões mandou até o piloto do avião presidencial mudar planos de voo para evitar turbulências que a desagradam.
Em agosto, Gabas perguntou à presidente se ela tinha experiência no assunto. “Não, mas já andei muito de bicicleta, sou boa de equilíbrio”, ela respondeu. O assessor foi encarregado então de ajudá-la a comprar a moto e conseguir a carteira de habilitação.
Gabas já fotografou a máquina que vai sugerir à presidente. Será uma Harley vermelha, modelo Iron, própria para usar na cidade. Pesa 260 kg, tem 883 cilindradas e velocidade final de 173 km/h. A R$ 30.900, está no extremo inferior da tabela das Harley.
O Estado de S. Paulo
Debate ambiental ressurge: Marina cita retrocesso e PT vê Campos como vidraça
O debate da sustentabilidade, eixo da campanha de Marina Silva em 2010 está de volta ao centro da cena. Assessores da ex-ministra do Meio Ambiente já estão mapeando os pontos mais vulneráveis da administração Dílma Rousseff na área de preservação ambiental. Marina deve adentrar o palco das eleições presidenciais – por ora ao lado do governador Eduardo Campos (PSB) – afirmando que, em vez de avanços, o que se viu no atual governo foi um enorme retrocesso. Do outro lado, no ensaio para o contra-ataque, governo e PT praticamente já definiu o alvo de suas baterias: o parceiro pernambucano da ex-ministra.
O objetivo é mostrar que a maioria dos aliados de Marina no PSB, sobretudo Campos, que preside o partido, está a anos-luz de serem bons exemplos na defesa do meio ambiente. Da bancada de parlamentares do PSB ao presidente do partido, não vão faltar críticas.
O caso do Código Florestal, que define limites para o uso da propriedade rural, é um bom indicador do que vem por aí. O grupo de Marina, tradicionalmente alinhado com ONGs ambientalistas, considera que sua aprovação, em 2012, foi um retrocesso;e atribuem aresponsa-bilidade ao PT e ao governo.
“Ela deixou a questão correr solta no Congresso, favorecendo os setores ultraconservadores”, diz o biólogo e ambientalista João Paulo Capobianco, um dos assessores mais próximos de Marina. “Nunca se viu antes uma ligação tão íntima entre governo e conservadores do Congresso. Estamos assistindo a um retrocesso absoluto na questão ambiental.”.
Em governos do PSB, choque com o discurso da sustentabilidade
Algumas das principais administrações do PSB no País possuem exemplos de projetos e empreendimentos que entram em choque com o discurso da sustentabilidade, principal ponto da “aliança programática” apresentada por Marina Silva ao ingressar no partido de Eduardo Campos.
No seu segundo mandato, o próprio governador de Pernambuco procura dar novo rumo à política ambiental no Estado. Campos, no entanto, encerrou o primeiro governo, em 2010, aprovando a derrubada de 600 hectares de manguezal no complexo industrial e portuário de Suape – na região metropolitana do Recife – para atrair mais empreendimentos à área que concentra 105 empresas e tem outras 45 em implantação.
O Ministério Público Estadual instaurou um inquérito civil para monitorar a situação de Suape. O complexo começou a ser construído no fim da década de 1970, no estuário de quatro rios, o mais rico do litoral pernambucano. Na época não havia legislação ambiental e o passivo acumulado pelas indústrias instaladas é calculado em mais de R$ 200 milhões.
Suape foi causa de embate entre Dilma e Campos
Às vésperas do rompimento do governador Eduardo Campos (PSB) com a presidente Dilma Rousseff, os governos federal e de Pernambuco travaram uma disputa sobre o pagamento de uma dívida de 150 milhões à empresa holandesa que toca a dragagem do Porto de Suape, unia das principais obras do Estado. As duas partes trocam acusações de calote, mau uso de dinheiro público e empurram a responsabilidade sobre a paralisação do projeto.
Por causa do embate, a obra foi interrompida em maio, por tempo indeterminado, e o governo da Holanda ameaçou acionar o Brasil no Clube de Paris por não pagamento, o que arranharia a imagem do País.
Iniciada em 2011, a dragagem do Porto de Suape já recebeu R$ 185 milhões dos governos federal e de Pernambuco, mas, por ora, a principal parte dos serviços ainda não foi feita. O projeto, que já deveria ter sido concluído, é fundamental para que navios petroleiros aportem próximo à futura Refinaria de Abreu e Lima, da Petrobrás, um investimento de R$ 20 bilhões.
Na cabeça de Marina, a gênese do Plano C
Assim que a presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Cármen Lúcia, proferiu no dia 3 o voto que sepultou o sonho da Rede Sustentabilidade de disputar as eleições de 2014, Marina Silva e seus aliados se abraçaram e choraram. Ninguém sabia o que fazer e para onde ir. Não havia plano B engatilhado.
Na saída do tribunal, Marina orientou seu grupo a ir ao apartamento de uma amiga. Começou então a contagem regressiva das 32 horas que culminaram no mais surpreendente lance do processo eleitoral de 2014. Até agora, por voltas das 23I1, um grupo de 40 pessoas começou um debate tão longo quanto tenso. Marina mais ouviu do que falou. Os mais “sonháticos” eram intransigentes com a hipótese de Marina se filiar a uma sigla só para disputar o Planalto. Quando essa posição se mostrou majoritária, um irritado Alfredo Sirkis (3RJ) deixou a reunião. O deputado estava no grupo que defendia a filiação a um partido. Ninguém nem sequer havia mencionado a opção PSB.
Às 3h de sexta-feira, Marina decidiu dispersar o gfupo. Pediu que só ficassem parentes e assessores. O deputado Walter Feldman (SP) deixava o local, mas deu meia-volta após receber uma mensagem de Marina. Os dois foram a uma sala reservada. “O que você acha da ideia do PSB?” perguntou a ex-ministra. “Absolutamente genial”, respondeu Feldman, usado como”sparring” para testar a reação do grupo.
Os dois deram a notícia a cerca de 15 pessoas que os esperavam: “Está na hora de tomar uma decisão. Nós já temos o plano A. O registro da Rede é uma questão de tempo. Quero propor o plano C, C de Campos”. Todos ficaram perplexos.
Campos e Maluf vão definir jogo na TV
Com a possibilidade de afastamento do PSB, partido de Eduardo Campos, da candidatura de Geraldo Alckmin (PSDB) ao governo paulista em 2014. 0 palanque eletrônico da campanha tende a ficar mais equilibrado entre petístas e tucanos. Mesmo contando hoje com seis legendas praticamente alinhadas ao seu lado – DEM, PPS, Solidariedade, PTB, PRB e PSC o governador teria quase o mesmo tempo de TV na propaganda eleitoral que o PT.
Segundo levantamento do Estadão Dados, a aliança tucana sem o PSB teria, na atual configuração, 5min22s. Com apoio apenas do PR e do PC do B, os petistas contariam com 5min07 diários para alavancar a candidatura do ministro da Saúde, Alexandre Padilha. O apoio do PSB a um dos dois lados significaria o acréscimo de quase 1 minuto diário.
Após a aliança entre a ex-ministra Marina Silva e o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, o diretório paulista do PSB passou a ser pressionado a lançar candidatura própria.
O cobiçado. Outro partido que ainda que não decidiu quem apoiará em 2014 é o PP, “dono” de 1 minuto e 16 segundos do tempo na propaganda eleitoral de televisão. Presidida pelo deputado Paulo Maluf em São Paulo, a legenda está sendo disputada diretamente pelo PT, PSDB e PMDB. A sigla está abrigada no governo Alckmin, onde comanda a Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU), e na Prefeitura de São Paulo, administrada pelo petista Fernando Haddad, com a Secretaria de Habitação. “Não há compromisso nenhum para 2014 com ninguém”, afirmou Maluf. Além de estar conversando com tucanos e petistas, ele não descarta fechar com o presidente da Fiesp, Paulo Skaf, provável candidato do PMDB.
‘Aécio pode sair de Minas com 4 milhões de votos’
Entrevista: Pimenta da Veiga, presidente Nacional do PSDB
De volta à política após quase 15 anos afastado, o ex-ministro,ex-deputado federal e ex-prefeito de Belo Horizonte Pimenta da Veiga (PSDB) assumiu a presidência do Instituto Teotônio Vilela em Minas com a missão de coordenar no Estado a campanha do presidenciável tucano Aécio Neves (MG) à Presidência.
• O senhor já se inteirou das questões políticas de Minas?
Nunca me distanciei das questões mineiras. Mesmo não atuando diretamente, tinha um grande volume de informações. Me dá muita alegria quando ando pela rua, agora que meu nome voltou à tona.
• 0 nome do senhor voltou à tona inclusive para disputar o governo, Tem essa disposição?
Minha tarefa fundamental é ajudar a organizar 0 Estado para um grande movimento político que está se iniciando e que, espero, tenha caráter nacional. É importante que comece em Minas, porque muitos dos principais movimentos políticos da história nacional começaram aqui. Estamos marcando reuniões regionais para politizar a vida do Estado de maneira que os mineiros compreendam as oportunidades que se abrem agora.
– 0 senhor se refere à provável candidatura do senador Aécio Neves à Presidência?
Sim. Porque há 60 anos houve um movimento igual em torno do Juscelíno Kubitschek e foi fundamental para a eleição dele. Ele se elegeu por causa de Minas. Precisamos repetir isso em tomo de Aécio. Se conseguirmos o que prego, podemos sair daqui com 4 milhões de votos. Isso fará a diferença.
# 0 senhor fala isso já dando como certa a candidatura de Aécio.
E o ex-governador José Serra?
A data símbolo de 5 de outubro foi muito boa para nós por várias razões. Mas, sobretudo, porque pregavam que o PSDB perderia pedaços e que o ex-govemador Serra deixaria o partido. Nada disso ocorreu. Estou certo de que Serra que é uma das melhores figuras do partido, estará inteiramente integrado nesse esforço que esta! mos começando em Minas.
Palocci contesta acusação de Valério
O ex-ministro Antonio Palocci (Fazenda) entregou à Polícia Federal, na quinta-feira, certidão do Palácio do Planalto paratentar neutralizar acusação contra ele feita pelo empresário MarcosValério, operador do mensalão. Em depoimento à Procuradoria-Geral da República (PGR), no dia 24 de setembro, Valério afirmara que ele e Palocci participaram de reunião, em 2005, com o então presidente Lula no Planalto e com o presidente da Portugal Telecom, Miguel Antônio Igrejas Horta e Costa, para tratar do repasse de recursos ilícitos para o PT, no montante de R$ 7 milhões.
A defesa do ex-ministro apresentou à PF um documento subscrito por Giles Carriconde Azevedo, chefe do Gabinete Pessoal da Presidência da República, em que ele atesta que “nos registros existentes não consta qualquer informação acerca da realização de audiência ou reunião na qual tenham participado o sr. presidente Lula, o sr. Antonio Palocci e o sr. Miguel Horta”.
Para o criminalista Marcelo Leonardo, defensor de Marcos Valério, o alcance do documento é questionável, já que várias agendas de ministros no Planalto não são divulgadas. “O fato de não haver registros da reunião não significa que ela não ocorreu. Historicamente há informações de reuniões sem registro no Palácio.”
Ações suspeitas da Delta somam R$ 536 mi
Relatório da Operação Saqueador, investigação da Polícia Federal, mostra que o total de transações suspeitas realizadas pela Delta Construções, entre 2007 e meados de 2012, pode alcançar R$536 milhões. No período, órgãos públicos repassaram aproximadamente R$ 6,22 bilhões à empreiteira – a PF calcula que pelo menos 8,62% desse montante pode ter sido usado para pagamento em dinheiro vivo a políticos e servidores em troca de licitações forjadas.
Para a PF, os dados indicam que o suposto esquema de corrupção sob patrocínio da Delta é mais arrojado do que inicialmente estimado. No dia 24 de setembro, ojuiz Eduardo de Assis Ribeiro Filho, da 7ª Vara Criminal Federal do Rio, decretou sequestro de R$ 327,83 milhões existentes em saldos de contas bancárias e aplicações financeiras de qualquer espécie de empresas ligadas à empreiteira.
A Saqueador foi desencadeada em 1° de outubro. Ela tem origem na Operação Monte Carlo, da PF, e na CPMI do Cachoeira-Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, contraventor ligado a Fernando Cavendish, controlador da Delta. Buscas foram realizadas na construtora e na residência do empresário AdirAssad, apontado como operador dos pagamentos de propinas. Seu advogado, Miguel Pereira Neto, rechaça a acusação.
O Globo
PSDB melhorou serviços e PT reduziu desigualdade
Série histórica da Pnad mostra pontos fortes de governos tucano e petista
Foram comparados cerca de 130 indicadores. Apesar dos avanços, especialistas alertam para o desafio de buscar qualidade. No momento em que a campanha de 2014 invade 2013, a análise dos dados dos últimos 20 anos permite comparar ganhos e perdas do Brasil. O governo Fernando Henrique (PSDB), assim como o de Itamar Franco, se destacou em expansão de serviços como iluminação e telefonia, redução do analfabetismo e acesso à educação. As gestões petistas do ex-presidente Lula e da presidente Dilma reduziram mais a desigualdade, aumentaram a renda e geraram mais empregos. É o que relata Paulo Celso Pereira a partir da análise da série histórica da Pnad, do IBGE
Os trunfos de tucanos e petistas
O BRASIL EM 20 ANOS
A partir de dados do IBGE, O GLOBO aponta os avanços do PSDB e do PT nas últimas décadas
Há anos uma disputa toma conta do debate político nacional: o que mudou mais o Brasil, a década dos governos Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso, entre 1992 e 2002, ou a das gestões Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff ? Ou, colocado de forma mais sintética: o PSDB ou o PT? Nos últimos anos, incontáveis discursos e peças publicitárias foram feitos para tentar fazer valer um ou outro ponto de vista. A partir da divulgação, há duas semanas, da mais recente Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) do IBGE, referente a 2012, O GLOBO traçou uma comparação dos avanços, e eventuais retrocessos, ocorridos nas duas últimas décadas.
Com base nos números, é possível afirmar: os tucanos foram os responsáveis por avanços mais sólidos na Educação, na expansão de serviços públicos e na ampliação dos bens de consumo básicos, enquanto os petistas tiveram resultados sensivelmente melhores nos indicadores relacionados ao trabalho, à renda e à redução da desigualdade social. No total, foram comparados cerca de 130 indicadores levantados anualmente pelo IBGE.
Isso permite uma análise do Brasil que Itamar Franco recebeu de Fernando Collor de Mello em 1992 — já que o mineiro foi empossado em outubro daquele ano e co-locou tucanos em postos-chave —, da situação deixada por Fernando Henrique para Lula no fim de 2002 e dos avanços obtidos pelo PT até o fim do ano passado. Para permitir uma análise fiel dos dados, a reportagem utilizou números do IBGE que excluem os dados recentes referentes à área rural da Região Norte, zona que só começou a ser pesquisada na PNAD em 2004.
Para especialistas, desafio é avançar em qualidade
Apesar de os indicadores da Pnad mostrarem avanços em praticamente todas as áreas nas últimas décadas, especialistas alertam para as deficiências difíceis de serem percebidas a partir apenas da análise desses números. A questão central é que muitas vezes os resultados quantitativos positivos ofuscam problemas qualitativos. O caso mais evidente é o da Educação. De acordo com Rosa Ester Rossini, professora titular do Departamento de Geografia da Universidade de São Paulo (USP), apesar de o ensino fundamental estar praticamente universalizado, o nível de aprendizagem ainda é muito baixo. — Desde a ditadura, nós temos dados de alfabetização para consumo externo.
Hoje, entre 40% e 60% dos estudantes de primeira à quarta série não sabem ler ou escrever. Igual percentual de alunos da quinta à oitava série sabe ler e escrever, mas não sabe o que lê e escreve. A situação é alarmante. Há, por exemplo, uma enorme perda de qualidade na entrada de jovens na universidade. O jovem, hoje, entra na faculdade e não sabe pensar. Sabe copiar e colar. Temos que começar quase do zero — lamenta a professora.
Petista e tucano não chegam a consenso
Os especialistas em políticas sociais do PT e do PSDB fazem análises diferentes dos avanços obtidos de parte a parte nas duas últimas décadas. Professor da Unicamp e presidente da Fundação Perseu Abramo, que é ligada ao PT, o economista Márcio Pochmann avalia, por exemplo, que o aumento no consumo de bens como geladeira, televisão e máquina, ocorrido nas duas décadas, ainda que em níveis distintos, tem razões diferentes: — Nos anos 90, a modernização se deu pela abertura comercial, que fez com que tivéssemos a entrada de muitos produtos importados baratos, associados à estabilização monetária.
Não houve necessariamente o efeito renda. Tivemos um déficit comercial violento a partir de 1996. Na década de 2000, o efeito se deu mais por emprego, renda e crédito. E por ter sido o efeito emprego renda o impacto na desigualdade, e na pobreza foi maior. Ex-presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada ( Ipea) durante o governo Lula, Pochmann considera que o posicionamento do governo do PT em relação ao salário mínimo e às leis trabalhistas foi decisivo para obter o avanço na renda e na formalização do emprego: — Embora os empregos fossem de menor remuneração, ela subiu por causa do aumento do salário mínimo. Teve também um fato diferente que foi o ativismo sindical.
O resultado dos acordos coletivos na década de 1990 foi pior, enquanto no governo Lula os salários subiram acima da inflação. Nos anos 1990, a lógica nas relações de trabalho era de flexibilização, havia uma quantidade enorme de empregos terceirizados e a perspectiva de mudar a CLT, o que levou a um crescimento da informalidade. A partir de 2003, a perspectiva foi de aumentar a fiscalização e houve intenção clara do governo de que a CLT não seria alterada e que os contratos deveriam ser feitos com base na CLT.
Quando a busca dos votos não tem limites, nem os do Código Eleitoral
Visitas e inaugurações de obras, corpo a corpo ao lado de políticos aliados, viagens em caravanas, participação em eventos religiosos, shows e feiras de exposição, entrega de ambulâncias, entrevistas em rádios e até entrar em campo com um time da III Divisão do Campeonato Carioca. Passado o prazo das filiações partidárias, os principais pré-candidatos ao governo do Rio já vivem o clima de campanha antecipada nas ruas a nove meses para o início do período eleitoral permitido por lei, em 6 de julho de 2014. Vale tudo na disputa travada pelo vice-governador Luiz Fernando Pezão (PMDB), pelo senador Lindbergh Farias (PT) e pelo deputado federal Anthony Garotinho (PR).
Os programas Bairro Novo e Somando Forças têm Pezão como garoto-propaganda. O vice- governador percorre municípios do estado sempre ao lado do governador Sérgio Cabral (PMDB). Ao todo, estão sendo investidos apenas no primeiro projeto R$ 1,3 bilhão em obras de reurbanização. Nos eventos, Pezão conversa com moradores e faz discursos. As ações são urna das estratégias de Cabral para minimizar o desgaste provocado pelos protestos. Além disso, o objetivo é fazer com que Pezão cresça nas pesquisas de intenção de voto. Pezão vai aos compromissos usando a estrutura do governo a que tem direito, entre eles o transporte em um helicóptero. — Estou trabalhando.
Não me preocupo com campanha. Sabemos separar eleição do trabalho — afirma Pezão. Lindbergh, por sua vez, pega carona nas caravanas da cidadania criadas pelo PT especialmente para o senador. No palanque, Lindbergh ataca o governo Cabral, seu ex-aliado, e divulga propostas para o estado. Na última semana, o senador esteve em Volta Redonda e Barra Mansa. Ele criticou a atuação da PM nas manifestações dos professores. — A estrutura policial que foi montada para tratar os professores nunca aconteceu no Rio nem durante a ditadura militar — disparou Lindbergh, falando para estudantes em Volta Redonda.
Em Pernambuco, Campos pratica a ‘velha política’
Crítico ao que chama de “política mofada” e das “raposas” do cenário nacional, o governador de Pernambuco e presidenciável Eduardo Campos (PSB) segue em casa a lógica tradicional. Dono de uma coligação de 14 partidos, Campos aloja em sua administração os aliados que o ajudaram na eleição de 2006 e na reeleição em 2010. O presidente nacional do PSB, que prega ter chegado “a hora de aposentar um bocado de raposas que já encheram a paciência do povo brasileiro’ governa ao lado de aliados como o deputado federal Inocêncio Oliveira (PR), o ex-presidente da Câmara dos Deputados Severino Cavalcanti e quadros oriundos do PFL, como o ex-governador Joaquim Francisco, convertido por Campos ao socialismo ao ser indicado suplente de senador pelo estado.
Amauri, um ás na arte de presidir a Câmara
Deputado de primeiro mandato, Amauri Teixeira (PT-BA) conseguiu ao longo do ano se tornar o “Senhor da Mesa da Câmara”, mesmo sendo quase um penetra naquele espaço: o petista, que não ocupa uma das 14 vagas na Mesa Diretora da Casa, é quem mais presidiu sessões este ano. Alcançou esta semana a marca de cem sessões, superando até o presidente Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN). Para o intento, seus esforços não são poucos: é o primeiro a marcar presença na Casa, o primeiro a chegar no plenário e o primeiro a sentar-se na disputada cadeira de presidente.
Uma tarefa que requer disposição física, não comprometida pelos 1,80m de altura e 119 quilos. Até a última sexta-feira, Amauri comandou exatas cem sessões, entre deliberativas (quando há votação) e não deliberativas (só debates). Henrique Eduardo Alves comandou 97. Simão Sessim (PP-RJ), segundo secretário da Mesa Diretora, aparece em terceiro, com 83 sessões presididas. O levantamento foi feito pela Secretaria Geral da Mesa, a pedido do GLOBO.
Entre os colegas, Amauri, além da imagem de bonachão e boa gente, ganhou a fama de “fominha’ tamanha sua ânsia por comandar os trabalhos. Dali não sai e ninguém o tira. O “projeto de poder” de Amauri começa cedo. Às 8h30m, já está no Congresso. Se o plenário estiver aberto, senta-se na Mesa e aguarda o horário para abrir a sessão. Na última quarta-feira, às 12h05m, lá estava ele, a postos para uma sessão que só começaria às 13h30m. Ele chega a despachar com os seus funcionários ali mesmo.
As mãos salvadoras do demônio do agronegócio
Transformado em demônio do agronegócio desde que surgiu no cenário político nacional nos anos 80, o líder do DEM na Câmara, Ronaldo Caiado ( GO), voltou às manchetes após a ex-senadora Marina Silva praticamente o expulsar da coligação Rede/PSB , afirmando que ele é “inimigo histórico” de trabalhadores rurais e ambientalistas. Na Câmara, o ex-presidente da UDR é da tropa de choque que tenta derrubar propostas de defesa ambiental e movimentos de sem-terra.
Mas Caiado tem um “lado B”: é considerado até por adversários políticos um cirurgião de coluna vertebral brilhante. Com técnicas que aprendeu no hospital parisiense Pitié-Salpêtrière, trata lavradores e líderes rurais feridos em conflitos. Em sua lista de pacientes, há deputado como Milton Temer, ex-PT e hoje dirigente do PSOL, e Miro Teixeira (PROS-RJ). De família de produtores rurais em Goiás, Caiado estudou Medicina no Rio e fez residência em Ortopedia no Hospital Miguel Couto.
Ajudou a salvar a vida do então dirigente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura de Goiás, Edmundo Galdino, ferido à bala num conflito na região do Bico do Papagaio (TO). Foi operado com a orientação de Caiado e se salvou. Paraplégico, virou deputado. Tempos depois, Caiado foi convidado a participar de uma sessão em que se discutiam conflitos agrários na Assembleia Legislativa de Goiás. Um dos mais agressivos debatedores era Galdino.
Correio Braziliense
Carro-chefe petista
“O Bolsa Família é uma coisa muito boa. Esse dinheirinho serve para as despesas da casa, para comprar uma roupinha para a criança, um leite, uma verdura. É pouquinho, mas já remedia, é melhor do que nada”, comenta Helena Rosa Nascimento, de 58 anos. Há 21 anos, ela e o marido, o pedreiro Cândido Ribeiro Antunes, de 69 anos, migraram de Teresina para o Jardim Céu Azul, bairro de Valparaíso (GO), onde moram com a filha e a neta. O pedreiro diz que nunca viu político falar a verdade, a não ser por uma exceção. “O único que vi falar algo e ajudar o povo foi o Lula. Ele deu ao menos o trabalho.” O reconhecimento ao ex-presidente é feito pelas urnas. “Voto nele há muito tempo, se ele for candidato, voto nele de novo.” Com a neta Rianna Paula nos braços, dona Helena brinca com a bebê, falando em um tom infantil: “Eu quero é que a Dilma ganhe, não quero que ela saia”.
Distante 31km da família de Helena e Cândido, a cabeleireira Ivone Bastos, 30 anos, trabalha três vezes por semana no salão de uma prima. Mudou-se há um mês com a família para o condomínio Porto Rico, em Santa Maria, onde mora em uma casa de dois cômodos, emprestada por um primo de William Alves, o marido de Ivone. Ela diz que não sabe quem paga os R$ 134 que recebe todos os meses, mas responde, em tom de dúvida, sobre quem criou o Bolsa Família: “O Lula?”. Ivone não ajudou a eleger Dilma Rousseff. “Não gosto dela, quando ela entrou, fez foi piorar. Votei no César. É César? Serra!”, relata. Quanto às eleições de 2014, ela confessa não saber quem são os candidatos. “Não faz diferença para mim.”
Superação pós-amparo
Ao unificar e aperfeiçoar diferentes programas sociais, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva abusava da metáfora do peixe para se defender dos que acusavam o então recém-lançado Bolsa Família de projeto meramente assistencialista. Passados 10 anos da iniciativa, 1,7 milhão de famílias conseguiram “aprender a pescar”. Deixaram de receber o repasse mensal, cujo valor médio é de R$ 152,35, porque conseguiram aumentar a própria renda, extrapolando o limite de R$ 70 per capita. A turma que deu adeus à ajuda federal equivale a 12% das 13,8 milhões famílias atendidas atualmente. Sem contar as 6 milhões que saíram do programa por outros motivos, como deixar de cumprir as condicionalidades e fraudes.
Não há resposta exata sobre o que o número significa. Para o professor da Faculdade de Economia da Universidade de São Paulo (USP) Paulo Feldmann, fica claro que o governo não conseguiu ensinar a pescar. “Mas dar o peixe, apenas, também era importante, pois havia gente passando fome no país”, assinala. Ele considera que, passados 10 anos de Bolsa Família, seria necessário investir mais na qualidade da escola. “Talvez criando uma prova nacional, para avaliar o desempenho das crianças, só exigir frequência ajuda, mas não muda a realidade”, afirma Feldmann.
Confiança geral em 2014
A primeira pesquisa de intenção de votos depois da união entre a ex-senadora Marina Silva e o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), foi recebida ontem — pelo menos publicamente —com otimismo pelos apoiadores e pré-candidatos à Presidência da República. Em levantamento divulgado ontem, o instituto Datafolha mostra que, se Marina não for a candidata do PSB, como vem sustentando, a presidente Dilma Rousseff venceria no primeiro turno, contra o senador Aécio Neves (PSDB-MG) e o governador de Pernambuco (PSB).
Nesse cenário, Dilma obteve 42% das intenções de voto; Aécio, 21%; Campos 15%; brancos e nulos, 16%; e ainda não sabem como votar, 7%. O cenário se complica para a petista quando Marina e o ex-governador José Serra (PSDB) entram no lugar de Campos e Aécio. Nessa situação, ela teria 37% dos votos; Marina, 28%; e Serra, 20%.
Os aliados de Campos e Aécio minimizaram o melhor desempenho de Marina e Serra e comemoraram o resultado. Para o senador Rodrigo Rollemberg (PSB), o dado mais positivo é o que revela o reconhecimento dos pré-candidatos pela população. “Campos não é conhecido por 43% dos eleitores. Isso significa que ele tem uma margem para crescimento muito grande”, avalia. Apenas 1% dos entrevistados diz não conhecer Dilma; 3%, Serra; 12%, Marina; e 22%, Aécio.
Deixe um comentário