No último dia 17, o Congresso em Foco publicou reportagem alertando que, segundo especialistas, o Brasil pode ficar ilhado, sem vacina, no caso de um surto da gripe do frango. Segundo a matéria de Diego Moraes, por força de entraves burocráticos criados pela Lei de Biossegurança, o Brasil pode ser impedido de importar a matéria-prima para fabricação da vacina.
Agora, o alerta ganha reforço com a advertência do professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Brasília (UnB), Ricardo Martins, feita em entrevista concedida ao site da UnB. Segundo ele, a gripe aviária pode chegar ao Brasil em junho, trazida pelas aves em migração no inverno.
“Passado o Carnaval, é necessária uma mobilização intensa para evitar que, se o vírus chegar, ele se espalhe rapidamente, principalmente entre as pessoas que trabalham no campo, diretamente com os animais”, avisa o especialista.
Ele ressalva, no entanto, que o Brasil tem uma posição geográfica privilegiada, porque as aves costumam chegar pela América do Norte. “Se estiverem doentes, boa parte delas vai morrer pelo caminho. Já foram montados, pelo governo federal, postos para monitorar as aves migratórias. Rio Grande do Sul, Bahia e Amazonas merecem atenção especial”, esclarece.
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Segundo Ricardo Martins, o plano de prevenção e combate à gripe aviária do governo federal está correto. “Estamos dentro do cronograma para minimizar riscos. Mas é como o Garrincha dizia, falta combinar com o adversário”, alerta.
A doença já atinge países da Ásia, Europa e África e, agora, mobiliza os governos das Américas. Desde 2003, 94 pessoas morreram de gripe aviária em países como Camboja, China, Indonésia, Iraque, Vietnã, Tailândia e Turquia. Em animais, a doença foi encontrada em cerca de 30 países. Esta semana, 15 flamingos foram encontrados mortos nas Bahamas (América Central), com suspeita de gripe aviária.
PublicidadeBarreiras da lei
A Organização Mundial de Saúde (OMS) está produzindo uma vacina que combate os microorganismos antes mesmo de a transmissão começar a ocorrer entre humanos. Por enquanto, o vírus só é transmitido entre aves. Mas, para fabricar o medicamento, os cientistas precisam alterar a estrutura genética do H5N1 – vírus causador da doença –, procedimento que o transforma num organismo geneticamente modificado (OGM), ou seja, um transgênico.
No entanto, a Lei de Biossegurança impede a importação de transgênicos sem o prévio aval da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança, a CTNBio, vinculada ao Ministério de Ciência e Tecnologia.
O problema é que a autorização da CTNBio pode demorar. A comissão ficou sem deliberar durante oito anos e só voltou a se reunir recentemente, para escolher o novo presidente. As votações só devem ser retomadas no fim de março. A paralisação gerou atraso no andamento de pesquisas e, por isso, a pauta do órgão está abarrotada, com mais de 500 processos na fila. Desses, cerca de 90 são pedidos de liberação de estudos com transgênicos.
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