Sônia Mossri |
No momento em que o presidente Lula enfrenta uma crise desencadeada pelo escândalo Waldomiro Diniz, surge outro problema para o governo no Senado, onde o Palácio do Planalto não tem uma situação confortável. Os líderes do PT, Aloizio Mercadante (SP), e do PMDB, Renan Calheiros (AL), começam a trabalhar nos bastidores contra a reeleição do colega José Sarney (PMDB-AP) para a presidência da casa. Calheiros sonha em presidir o Senado e conta com o apoio de Mercadante, que não esconde sua antipatia por Sarney. A reeleição de Sarney e do presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP), depende de aprovação de emenda constitucional. O Palácio do Planalto prefere manter Sarney e João Paulo porque ambos conduziram bem as duas casas durante a série de problemas provocados pelo caso Waldomiro Diniz. Sarney conta com um forte aliado: o próprio presidente Lula. Nos momentos mais graves da crise, Lula falou várias vezes com o presidente do Senado pelo telefone. Leia também Interlocutores de Lula no Congresso afirmam que ele teme uma eventual ida de Renan Calheiros para a presidência do Senado. No Palácio do Planalto, existe a crença de que Calheiros colocaria mais obstáculos ao governo, ao contrário de Sarney, que tem um perfil mais conciliador. O Palácio do Planalto e aliados do governo no Congresso analisam que a ida de Calheiros para a presidência do Senado teria um custo político grande. Por este raciocínio, se hoje, como líder do PMDB, Calheiros já cobra cargos e mais espaço para o partido no governo, a situação se agravaria caso ele conseguisse suceder José Sarney. A situação de tensão entre Sarney e Mercadante piorou muito depois do caso Waldomiro Diniz. O presidente do Senado atacou a idéia do petista de propor uma CPI para investigar todas as doações de campanha, inclusive a de Roseana Sarney, nas últimas eleições – uma resposta à oposição, que cobrava uma investigação do esquema de financiamento de campanhas do PT. Mercadante não gostou e colocou a autoridade de Sarney em xeque, em um bate-boca presenciado por outros quatro senadores. Apesar da fama de conseguir manter a calma em momentos de tensão, Sarney disse a Mercadante, na ocasião: “Não é você que vai me ensinar a fazer política” – como relatou ao Congresso em Foco um dos espectadores da cena. Desde então, Sarney e Mercadante não falam a mesma língua. Na última semana, Mercadante se encarregou de levar à bancada petista no Senado a questão da reeleição. Resultado: a maior parte dos senadores do PT se colocou contra a proposta de emenda constitucional, que já começou a tramitar em uma comissão especial da Câmara. O Palácio do Planalto não gostou nada da atitude, principalmente no momento em que é mais precioso o apoio de Sarney no Congresso. Ao mesmo tempo, Calheiros também começou a atuar, discretamente, cobrando do governo o acordo pelo qual ele sucederia Sarney na presidência do Senado. |
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