Renata Camargo
Os ambientalistas abriram fogo contra a bancada ruralista. De olho na corrida eleitoral, a ONG SOS Mata Atlântica lançou ontem (10) a campanha “Os Exterminadores do Futuro”. Baseados na série de filmes com o hoje governador da Califórnia, Arnold Schwarzenegger, os ecologistas vão escolher quem são os políticos inimigos do meio ambiente e divulgar, às vésperas das eleições, uma lista com nomes de deputados, senadores e governantes que “não respeitam a legislação ambiental e o patrimônio natural do país”. A investida – que promete não ser a única neste ano eleitoral – irritou profundamente parlamentares ruralistas, que reagiram imediatamente.
A campanha, pelo que sinalizam seus organizadores, tem dois objetivos: forçar os parlamentares a mudarem seus posicionamentos nas votações do Congresso em relação às alterações na legislação ambiental e influenciar os eleitores a votarem contra os “inimigos do meio ambiente”. O impasse, no entanto, está na denominação de quem são os “exterminadores do futuro” do país. Os ambientalistas apontam a bancada ruralista como o principal deles. A bancada, mesmo sem ter um nome sequer citado, nega ser a protagonista e se diz guiada pela “ciência” para combater interesses dos “exterminadores ambientalistas” que defendem escusos interesses internacionais em relação às florestas brasileiras.
A campanha, de acordo com o diretor de Políticas Públicas da ONG, Mario Mantovani, surgiu em resposta a projetos de lei que, segundo ele, “desfiguram o Código Florestal Brasileiro e desmantelam a legislação ambiental”. Os principais projetos são o PL 6424/05, batizado pelos ambientalistas como PL da Anistia e de relatoria (e quase “co-autoria”) do deputado Marcos Montes (DEM-MG), e o PL 5367/09, que institui o Código Ambiental Brasileiro, de autoria do deputado Valdir Colatto (PMDB-SC). Ambos deputados da bancada ruralista.
Mas os próprios organizadores da campanha ressaltam o caráter “eleitoral” da mesma. Mantovani enfatiza que a lista com os nomes dos “exterminadores” chamará a “atenção para que o eleitor possa identificar o compromisso que cada candidato tem com o meio ambiente”. A primeira lista será divulgada no final de maio e a versão final em julho, para ficar mais próximo das eleições. “Eu não posso admitir que alguns deputados voltem no passado e reeditem uma história que vai destruir o futuro. Qualquer semelhança não é mera coincidência”.
Os ambientalistas admitem que o título “exterminador do futuro” é provocativo. E como não poderia deixar de ser, a provocação despertou a ira de parlamentares da bancada ruralista que classificaram de “vigaristas” os articuladores da campanha. Um dos “vigaristas” mais criticados é o deputado Sarney Filho (PV-MA). “Precisamos mostrar ao Brasil quem ele é na defesa de seus interesses nesta Casa. Estamos aborrecidos e envergonhados de tê-los como companheiros aqui nesta Casa”, disse Marcos Montes, na primeira reunião da Comissão de Agricultura da Câmara neste ano, realizada ontem, poucas horas depois do lançamento da campanha da SOS Mata Atlântica.
Sarney Filho, por sua vez, sinaliza que sabe bem jogar o jogo. Ele fala com propriedade que “em ano eleitoral, em geral, deputados e senadores ficam muito sensíveis ao eleitor” e que “na medida em que os políticos são sensíveis às pressões, essas pressões podem ser benéficas nas votações e embates, principalmente, com o segmento ruralista atrasado, que é muito bem representado no Congresso”. “Essa campanha feita neste ano, de imediato, pode produzir mais votos para a sustentabilidade”, diz.
É justamente associar seus nomes à sustentabilidade que querem os ruralistas. Para evitar as máculas eleitorais que um rótulo de desmatador possa causar, a bancada do agronegócio descartou lançar uma contra-campanha. Ontem, em breve reunião, cerca de 15 deputados ruralistas decidiram que não vão entrar no jogo dos “típicos perdedores desesperados” (lê-se, ambientalistas). Os ruralistas vão apostar na sobriedade e numa (suspeita) bandeira branca para reforçar junto aos eleitores a teoria de que, na verdade, os ambientalistas não têm argumentos técnicos e científicos para o debate e que, por isso, não participaram das audiências públicas sobre as mudanças no Código Florestal.
“Esse tipo de atitude, de fazer essa campanha, é uma atitude dos desesperados. Como nós estamos tratando o meio ambiente cientificamente, como não estamos deixando ideologizar o assunto, os desesperados se uniram com ONGs multinacionais para fazer uma confusão no meio de campo. Nós responderemos isso à altura com o relatório do deputado Aldo Rebelo”, disse o presidente da Comissão de Agricultura, deputado Abelardo Lupion (DEM-PR), se referindo ao relatório de Aldo na comissão especial que prepara mudança no Código Florestal.
(Leia entrevista com Aldo Rebelo, o comunista na mira dos ambientalistas)
Definir um dono da razão nesta guerra de ânimos acirrados é, certamente, algo arriscado. Ambientalistas e ruralistas apresentam, ao mesmo tempo, argumentos absurdos e razoáveis, a depender do critério a ser analisado.
A verdade é que, nesse embate, quem ganha é o eleitor atento e, em consequência, o país. Os dois grupos prometem jogar no ventilador as mais inescrupulosas informações sobre seus supostos inimigos. Quem estiver atento perceberá se são os ambientalistas que fogem do debate técnico ou os ruralistas que fantasiam com base em uma “ciência” nada imparcial. O dever agora é acompanhar os desdobramentos desse debate e pressionar para que o Congresso dê uma resposta decente à sociedade.
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