O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, pediu demissão na tarde desta quarta-feira (23). Ainda não foi confirmado o motivo da saída de Salles, que é investigado pela Polícia Federal por tentativa de obstrução de investigações contra crimes ambientais.
Em entrevista à imprensa no Palácio do Planalto, Ricardo Salles disse que cumpriu no meu mandato uma agenda escolhida pelo Brasil nas eleições de 2018. O ex-ministro disse que a agenda ambiental do governo Bolsonaro acabou perseguida por seus opositores.
“Nós experimentamos, nesses dois anos e meio, muitas contestações sobre as medidas que foram tomadas ou planejadas. Uma tentativa de dar a essas medidas um caráter de desrespeito à legislação, ou desrespeito à Constituição, o que não absolutamente é verdade” , disse, em coletiva. “Nós sabemos que diversas destas medidas são importantes e são necessárias, e a sociedade brasileira espera isso, espera esse respeito ao setor produtivo, à propriedade privada e todas estas questões que durante muitos anos no Brasil foram vilipendiadas.”
Salles teve uma investigação autorizada pela ministra do Supremo Tribunal Federal (STF) Cármen Lúcia, por supostamente interferir na operação Handroanthus, obstruindo a ação de fiscalização ambiental. A operação, realizada no âmbito da PF, apreendeu no final de 2020 cerca de 220 mil metros cúbicos de madeira derrubada de forma ilegal no estado do Pará. Com a demissão, a expectativa é que a investigação sobre Salles vá para a primeira instância.
Em dois anos e meio à frente da pasta, Salles foi um dos mais próximos ministros do gabinete de Jair Bolsonaro, responsável pelo relaxamento sem precedentes de políticas de preservação ambiental como quis o presidente da República. Em sua fala mais conhecida, em 22 de abril do ano passado, Salles disse que o governo deveria aproveitar a pandemia para “ir passando a boiada”.
O agora ex-ministro do Meio Ambiente é o terceiro titular do gabinete de Jair Bolsonaro a deixar o cargo em um ano por conta de investigações da suprema corte. Em 19 de junho do ano passado, Abraham Weintraub deixou a pasta da Educação ao ser investigado por suas falas antidemocráticas na reunião de gabinete de abril de 2020; em março deste ano, o general Eduardo Pazuello foi demitido da Saúde após seu nome ser incluído em investigações no Judiciário.
A pasta do Meio Ambiente deve ser comandada pelo ex-secretário da Amazônia e Serviços Ambientais, Joaquim Álvaro Pereira Leite. O ex-secretário também possui passagem pelo conselho da Sociedade Rural Brasileira (SRB) por 23 anos.
Leite é conhecido no meio ruralista como um dos mais antigos integrantes da SRB, onde ocupou outros cargos de direção. Em 2020, a entidade declarou apoio ao ex-ministro, quando foi divulgado o vídeo de uma reunião ministerial onde Salles diz ao presidente Jair Bolsonaro que deveria aproveitar o foco da imprensa voltado para a pandemia e “passar a boiada”.]
Análise
A saída de Ricardo Salles do Meio Ambiente, em meio a investigação no Supremo Tribunal Federal, terá que efeitos para o país e a política ambiental do governo? Este é o tema da live promovida pelo Congresso em Foco com o diretor do Congresso em Foco Análise, Rudolfo Lago, a diretora de mobilização do site, Amanda Audi, e o advogado socioambientalista André Lima, coordenador do Instituto Democracia e Sustentabilidade (IDS) e colunista deste site.
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