Há poucos dias li no Jornal de Notícias, lá de Portugal, o seguinte texto: “O calendário marcava o dia 12 de setembro de 1895 quando no Porto se soltaram espantos e exclamações. Saía para as ruas o primeiro elétrico, veículo sobre carris movido a eletricidade que permitia o transporte de pessoas entre vários pontos da cidade com mais rapidez e eficiência”.
Vejam só: há muito mais de um século os portugueses dispõem de transporte urbano elétrico – os populares ‘bondes’. Não poluem e são silenciosos. Detalhe adicional: prestigiam a indústria nacional.
Faça uma experiência: estude as maiores cidades do planeta. Em praticamente todas o transporte urbano está fortemente baseado em bondes ou no seu análogo metido a tatu, o metrô. Na essência, de Lisboa a Frankfurt, de Osaka a Londres, de Paris a Beijing, de Cingapura a New York, lá está o conceito de transporte urbano baseado preponderantemente em trilhos e energia elétrica.
No Brasil trilhamos caminho oposto. Inexplicavelmente optamos por ônibus caríssimos, ruidosos e poluentes. Produzidos, em grande parte, por empresas transnacionais. Circulando muitas vezes com combustível importado de países que não produzem um único barril de petróleo. Rodando sobre pneus produzidos com borracha importada até de lugares onde não há sequer um seringal!
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Este deplorável quadro repete-se a nível nacional. Desconheço outro país com dimensões continentais que tenha optado por transportar a maior parte de suas mercadorias no lombo de milhares de caminhões!
Seria oportuno que em meio a tantas décadas de tantos ajustes e reformas, planos e metas, cortes e crises, fosse informado ao povo brasileiro quem ganha com isso. Qual a razão desta opção rodoviária. Quantos brasileiros morrem e morrerão por conta dela – talvez eu e você. O quanto perde nossa economia. Sim, eis aí um bom tema para reflexão e investigação sérias.
Enquanto isso a gente fica assim. Desse jeito. Com essa cara. Sacolejando por aí a bordo de ônibus lotados. Respirando fumaça. Transformando qualquer viagem de carro em uma perigosa aventura. Perdendo dinheiro.
Brasileiros gostam de contar ‘piada de português’. Fico a pensar se não deveríamos começar a contar ‘piadas de brasileiro’. Afinal eis aí, realmente, e perdoem-me pela digressão, ‘um trem difícil de entender’…
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