No início do livro “História do Pensamento Econômico” (The worldly philosophers) o autor Robert Heilbroner fala sobre a grande revolta que houve no século XVII na França pela invenção de botões para roupas. Os alfaiates da época consideravam a invenção uma ameaça a indústria têxtil estabelecida na época, o que obrigou o governo francês a impor multas aos que ousassem produzir os controversos botões. Não felizes, os manifestantes lutaram pelo direito de fazer buscas nos guarda roupas alheios e até mesmo prender quem tivesse a coragem de utilizar tal artefato em público! Ora, como essa grande ameaça poderia ser aceita? Quantos empregos de alfaiates isso custaria?
Hoje, o relato pode até soar cômico, uma vez que descrevo a passagem vestindo uma camisa com inúmeros botões e tal artefato se tornou parte do nosso cotidiano. Todavia, tal relato se assemelha com muitos outros que tivemos na nossa história e muitos que ainda teremos. Computadores que substituíram máquinas de escrever, carros que substituíram cavalos, a luz elétrica que substituiu lamparinas e tantas outras inovações que poderia listar.
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Mas o que todos estes exemplos, as revoluções industriais e a história em geral nos mostraram é que o desenvolvimento tecnológico e a “destruição criadora” trouxeram muito mais empregos do que destruíram. Exemplo recente foi o caso do uber, que hoje conta com uma frota maior do que tínhamos de taxis.
Seja na França do século XVII, seja no Brasil do século XXI, o fato é que o Estado sempre é pego desprevenido e tem dificuldades em se adaptar às inovações. No século XVIII proibimos até mesmo a atividade industrial no país, com medo que isso gerasse escassez na mão de obra agrícola.
Nesta semana mais um episódio dessa história começará a ser escrito na comissão de trabalho da Câmara. A CTASP discutirá em audiência pública um projeto para permitir a instalação de bombas de autosserviço em postos de combustíveis – você abastecer seu próprio veículo – algo tão comum em países desenvolvidos quanto camisas de botão, mas que no nosso país foi proibido por projeto do ex-deputado Aldo Rebelo em 2000.
O que para nós seria uma grande inovação, é realidade nos Estados Unidos desde a década de 1950. Teríamos uma redução no preço do combustível que poderia se reverberar por toda economia, uma vez que o preço do combustível influencia em toda atividade econômica. Redução de filas em postos e um aumento de postos 24h também seriam outros benefícios auferidos pela revogação da lei.
Muitos dirão que tal ideia é absurda pois isso colocaria em risco milhares de empregos de frentistas, mas o fato é que o que se pleiteia não é a obrigatoriedade da instalação, mas que se acabe com uma proibição que nem nos permite mensurar as possíveis consequências positivas dessa inovação. Quantos empregos não deixamos de gerar em fábricas que produzissem tal equipamento? Quantos não trabalhariam com a manutenção dessas bombas? Quantas mortes e assaltos não evitaríamos se não expuséssemos o profissional frentista a jornadas que se estendem pelas madrugadas em grandes cidades?
Os postos poderiam manter bombas com atendimento de frentistas e dar ao consumidor a possibilidade da escolha entre o autosserviço ou um atendimento com um frentista, como aponta relatório do CADE a respeito da proibição.
Em supermercados e lanchonetes “fast food” a prática do autoatendimento já vigora e tem se tornado cada vez mais popular, ainda assim, o atendimento pessoal não se extinguiu nesses estabelecimentos. A manutenção da proteção de uma classe específica, como temos hoje nos postos de combustíveis, é assumir que a proteção da categoria deve se sobrepor aos interesses do consumidor. Fazer um bem para poucos em detrimentos de muitos.
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