Recentemente, o Brasil amanheceu em choque, quando um aluno de 13 anos atacou diversas pessoas com uma faca, em uma escola estadual de São Paulo. Uma professora morreu e outras quatro pessoas ficaram feridas. Nós, infelizmente, estamos acostumados a ver episódios de violência como esse acontecerem em escolas, em outros países, mas não é por isso que devemos tratar o caso brasileiro como uma tragédia isolada. Devemos lembrar que os Estados Unidos já estiveram no patamar brasileiro, com 22 ataques e 36 mortes nos últimos 20 anos e hoje, carregam em seu histórico nos últimos 10 anos: 417 tiroteios, 199 mortes e 400 feridos.
Uma pesquisa do Institute for Economic Policy Research (SIEPR) da Universidade de Stanford concluiu que os massacres em escolas afetam negativamente a saúde mental e o desempenho acadêmico e profissional. A pesquisa indicou uma taxa mais alta de uso de antidepressivos entre aqueles expostos a um tiroteio em escola; os massacres levam a quedas nas matrículas de alunos e um declínio nas notas médias; os tiroteios também levam ao aumento do absenteísmo dos alunos e à probabilidade de repetirem de ano, nos dois períodos seguintes; alunos expostos a tiroteios têm menos probabilidade de se formarem no ensino médio, irem para a faculdade, serem empregados e, quando conseguem, recebem menor remuneração na faixa dos 20 anos.
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Trata-se de um fenômeno complexo que, consequentemente, pede por uma solução profunda. Não existe uma solução mágica para acabar com os massacres nas escolas de todo o mundo, de um dia para o outro. Mas, com certeza, existem medidas preventivas que precisam ser seriamente consideradas pelo Poder Público e por toda a sociedade. Comumente, os autores desses atentados têm histórico de problemas de saúde mental, são vítimas de bullying, têm fácil acesso a armas de fogo e armas brancas, e fazem parte de grupos extremistas que glorificam atentados terroristas, massacres e ideações suicidas.
Digo com retidão que o recente caso na Escola Estadual Thomazia Montoro foi uma tragédia anunciada. O aluno que atacou a escola já tinha sido alvo de denúncias em relação ao seu comportamento suspeito por parte da instituição anterior, da escola atual, dos professores, pais e alunos que, inclusive, avisaram a polícia e a Secretaria de Educação. Não podemos fazer pouco caso dessas comunicações. O resultado está aí.
Precisamos pensar em atuações conjuntas entre as pastas da educação, da assistência social, da saúde, da segurança e da própria mídia para que a questão da saúde mental deixe de ser um tabu de uma vez por todas; para que a comunidade escolar como um todo saiba identificar comportamentos preocupantes e tenham um canal seguro e efetivo para ouvi-los; para que a ronda escolar esteja sempre prestando qualquer tipo de assistência; que as câmeras de segurança operem e que os controles de acesso ao ambiente escolar funcionem; e que células físicas e virtuais de grupos extremistas sejam identificadas e findadas em todo o país.
A escola pressupõe um ambiente inclusivo e acolhedor. E é assim que deve ser. A educação brasileira já enfrenta inúmeros desafios estruturais e de aprendizagem que vêm marcando gerações. Não podemos deixar que o futuro da nação também deixe de frequentar esse espaço por medo do que possa acontecer com suas vidas.
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