A hipótese, hoje comprovada, de que o acúmulo de CO2 na atmosfera levaria ao aquecimento do planeta foi formulada pouco após o fim da escravidão no Brasil. Até então, aqui, a energia derivava dos músculos do escravo e de outros animais. O escravizador era ele também um animal, como somos todos nós, humanos.
Desde meados daquele século já estava claro que aquela energia seria substituída. Apesar dos sinais de mudança, os dirigentes brasileiros resistiram enquanto puderam às pressões externas e internas pela abolição. Boa parte do atraso do Brasil, ainda hoje, se deve àquela resistência, pois deixamos passar o bonde da história.
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As energias extraídas da escravização deixaram uma chaga ainda hoje viva entre os animais humanos. Também a queima de combustíveis fósseis, liberando montanhas de carbono no ar, tem provocado ulcerações na atmosfera e lesões graves em grande parte dos membros da espécie Homo (auto intitulada) Sapiens.
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A distribuição e a gravidade dos danos dependerão, e muito, de onde se localizam e como se organizam as colmeias humanas: promovem cooperação, resiliência e empatia ou competição, exaustão e inveja?
Estamos em 2020 e está claro que a energia do século XXI não continuará a ser a queima de fósseis. Nossos dirigentes repetem o erro anterior: aferram-se a fontes obsoletas de energia tóxica, criticam os que nos censuram por depredarmos nossa casa, não investem nas energias do futuro e nos condenam à rabeira da história. Tristeza!
Gabar-se de que a matriz brasileira é mais limpa e ao mesmo tempo investir nessa moribunda (e mortífera) energia fóssil implicará enfrentar as consequências de crescentes temperaturas, medida em graus Celsius ou pelo “clima” social de tensão, animosidade e revolta. O homem lobo do homem tem que ser domado, as matilhas compostas de humanos devem ser restringidas e reeducadas.
Para promover essa reeducação e criar uma sociedade menos neurótica, o animal humano, macho ou fêmea, quaisquer que sejam seus amores e sua história, terá que deixar de se comportar como uma récua (tropa de bestas de carga), cultivar e praticar valores HUMANOS: fraternidade, cooperação, empatia, busca pela paz e justiça social, pensamento científico, etc. Isso, para gerar uma energia que mova a espécie no sentido de restaurar as condições ambientais favoráveis que lhe permitiram, no breve período de uma dúzia de milênios, “experimentar” diversas formas de organização, ou civilizações.
Quase todas extintas, basicamente em razão do comportamento predador dos membros da espécie, e nada indica que hoje o comportamento da besta humana tenha mudado. Indagado sobre o que achava da “civilização do Ocidente”, Gandhi respondeu: “seria uma boa ideia!”
Para que grande parte da população brasileira não continue na rabeira da história, sofrendo com os erros e a visão retrógrada dos dirigentes, temos que investir nessas energias humanas, ler os sinais do futuro e nos preparamos para o que virá. Podemos e necessitamos agir para que os valores “humanos” sejam capazes de prevalecer sobre as tendências animalescas que trazemos em nosso DNA.
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