Está chovendo muito. O preço da carne, do arroz e do tomate aumentou; os casos de Covid-19 subindo a cada dia. Vacina, volta às aulas, BBB; aquele podcast lá que deu ruim. Ônibus lotado, emprego que não tem. E o carnaval? Vai ter ou não?
São muitas as preocupações da população em geral. Do dia a dia, da rotina. Nenhuma delas diz respeito às federações partidárias e às regras para eleições deste ano. Ainda que essas decisões tenham um impacto profundo na vida de todo mundo.
Mais uma vez mudamos as regras das eleições. Desde a redemocratização e das eleições no final dos anos 80, não tivemos nenhuma eleição com a mesma regra da anterior. E a cada alteração, a cada complexidade, afastamos a política um pouco mais das pessoas, tornamos a discussão restrita aos interesses dos mesmos.
Aproximar as pessoas da política é potente porque muda e transforma a forma de se fazer política. Mas é difícil se aproximar do que você não conhece e nem entende.
A discussão sobre a federação partidária tem sido um grande absurdo no Brasil. E ninguém sabe.
O nosso sistema de eleição proporcional – vereador, deputados estaduais e federais – exige do partido a conquista coletiva de votos para o número de representantes que poderá eleger. Com mais de 30 partidos no país, essa busca por votos torna obrigatório uma quantidade imensa de candidatos para alcançar o quociente eleitoral, alguns mesmo sem nenhuma chance de eleição. O fim da coligação dificultou este processo. E para dar um jeitinho de contornar este avanço na busca por consolidação partidária, o Congresso aprovou as federações.
A federação partidária é um formato de união entre partidos, que poderão compartilhar chapa na busca por mais cadeiras nos parlamentos. Porém, diferente das coligações, a federação é a mesma no país inteiro e dura quatro anos. Bastante significativo, mas que na realidade exige clareza de como funcionará.
Não só ainda há muitas incertezas sobre o funcionamento, como está em plena negociação quais federações serão essas. Quais partidos estarão com quem.
O que nos faz chegar ao absurdo do momento: os candidatos que desejam representar a população e realizar um trabalho na política têm até o início de abril para decidir em qual partido estará filiado. Nesta decisão entra alinhamento ideológico, claro, mas entra também estratégia eleitoral, análise de chapa, composição de apoio majoritário. A federação tem um impacto gigante nesta decisão e não apenas para as eleições deste ano, mas também as municipais em 2024 que terão a mesma composição.
Além disso, o STF está discutindo colocar a data de definição das federações após o prazo da filiação partidária. Ou seja, neste momento existem várias negociações entre partidos que podem alterar significativamente as estratégias eleitorais e os campos políticos, como a possível federação entre PSB e PT e a definição de candidato ao governo em São Paulo.
Há decisões em andamento que mudam os prazos e regras de funcionamento para a campanha, há especulações sem fim. Há muita decisão que pode definir quem vai ser eleito e quem não vai.
Discussões essas que são feitas só pelas mesmas pessoas, nas mesmas bolhas, com os mesmos interesses, sem que ninguém saiba e portanto participe. Nem mesmo a grande maioria de candidatos. A distância entre a população e a política está mais uma vez colocada.
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