Maio chegou e é o mês em que comemoramos o Dia das Mães. A segunda maior data do varejo e do comércio, aprendi isso quando trabalhava na Natura, e só vende menos do que no Natal. As redes sociais são inundadas de declarações de amor. E é mesmo bonito.
Eu, como filha que perdi minha mãe recentemente e sinto falta dela todos os dias, entendo que celebrar as mães deveria, não apenas ser um dia especial, mas um privilégio diário.
Como mãe, sei o trabalho que dá ser mãe e o quanto a valorização importa, porém está longe de ser o suficiente. Tanto que até beira a hipocrisia quando paramos para pensar no serviço prestado à sociedade da maternidade.
A estrutura da sociedade em que vivemos é baseada na troca entre indivíduos, a partir da percepção de valor gerada e em uma relação de oferta e demanda. Parece bastante lógico. Mas não é. Existem diversas distorções neste modelo e uma delas é chamada por economistas de externalidades. São impactos gerados nas trocas e relações que não estão contabilizadas, nem economicamente valoradas. Quando olhamos para o meio ambiente este é um conceito muito claro: o carbono emitido por uma companhia aérea não é um custo que ela mensura, cobra e tem um valor. É um resultado negativo que fica compartilhado para todos na sociedade. E por isso o custo é mais barato do que deveria ser, pois o custo é socializado entre todos. Inclusive aos que não andam de avião.
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Com a maternidade vemos um fenômeno parecido, porém inverso. O benefício de gerarmos seres humanos funcionais para a sociedade é de todos, porém o custo é concentrado nas mães, que ainda são, majoritariamente, responsáveis pela geração de vidas e manutenção destas vidas assim como de sua educação para contribuição ao coletivo.
E é um custo muito alto. Não tem nada mais demandante do que o cuidado diário com a vida. Nem nada sob maior responsabilidade. Os custos para estas mulheres são físicos, emocionais, são retrocessos em suas carreiras e relações.
É imperativo lembrar que, ainda que realmente este custo econômico exista para todas as mães, não estamos falando aqui da mínima parcela da sociedade que consegue contratar todos os tipos de serviços como rede de apoio necessário para a criação de pessoas. Estamos falando, principalmente, da grande maioria da população em que as mulheres têm que trabalhar para se sustentar e sustentar seus filhos, porém não conseguem crescer no trabalho, pois estão limitadas. Mulheres que contam com o Estado como única rede de apoio e, portanto, ficam na mão. Que se ajudam; vizinhas que olham crianças, parentes que apoiam, mas que ao ter um filho com uma crise renal, precisam faltar ao trabalho. Que, se a escola entra em greve, não recebem a faxina do dia e faz diferença na compra do mês.
Em um país em que figuram as maiores taxas de mães solo e que tem na mulher toda a responsabilidade pelo cuidado com a vida, estudarmos e avançarmos na Economia do Cuidado e na valoração deste serviço é fundamental à alteração de nossas estruturas sociais e um imperativo, em relação à real valorização da maternidade para além de belos posts.
Feliz dia das Mães.
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