2022 parecia um ano previsível, o que não significa dizer tedioso, de nenhuma maneira. Entre outras coisas, equilibrar-se entre limitações financeiras e breves conquistas profissionais é algo que causa mesmo certas emoções. Mas, quando fui selecionada para participar da oficina sobre o Cinema de Spike Lee, ministrada pelo professor Dodô Azevedo, no espaço do Cinema Nosso, Rio de Janeiro, achei que fosse o mais próximo que iria chegar do aclamado cineasta estadunidense, Spike Lee, o que já estava ótimo! No entanto, para minha total surpresa, eu estava errada e, dentro de apenas algumas semanas, estaria frente a frente com minha maior referência do audiovisual!
Uma das maravilhas que a oficina “o Cinema de Spike Lee” me proporcionou foi conhecer ainda mais as obras e a importância deste grande cineasta preto, não somente para o Cinema Negro estadunidense, mas para todo o cinema mundial e afrodiaspórico, como bem pontuou o professor Dodô Azevedo em suas aulas. Spike Lee não foi o primeiro, mas foi um dos que conseguiram voar mais alto, construindo uma carreira sólida, trazendo às telas uma narrativa sobre indivíduos negros que é considerada revolucionária até os dias atuais, o que abriu caminhos para a existência de outros cineastas negros ao redor do mundo.
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Então, passaram-se os dias e lá estava ele, no dia 11 de novembro, vestido com uma camisa do Brasil, palestrando sobre criatividade no evento “Rio Innovation Week”. Spike Lee começou sua apresentação deixando muito evidente o seu alívio com a vitória do Presidente Lula e disse que estava rezando de joelhos para que essa vitória ocorresse. Foi o suficiente para que um pequeno contingente da plateia se levantasse e fosse embora, ainda que, do lado de fora do evento, uma multidão desejasse entrar para participar daquele momento tão especial.
Apesar desse momento inicial um pouco inusitado, a conversa evoluiu muito bem e diversos assuntos emergiram durante sua apresentação. Um dos temas que mais deixaram meus olhos brilhando de emoção foi a respeito do processo criativo de Spike Lee. A princípio fiquei muito atenta, afinal meu mestre estava prestes a revelar alguns detalhes de seu processo criativo e isso poderia influenciar fortemente tudo o que eu penso e produzo. Qual não foi a minha surpresa quando Lee apenas disse que não possui um processo criativo e que apenas busca se conectar com o sagrado e a partir desta conexão, se mantendo aberto para o universo, ele fica atento e não deixa escapar nada que recebe de inspiração. E essa revelação não me soou apenas como uma dica de um cineasta bem mais experiente, na verdade me soou como uma validação de algo que já está presente no modo como eu estruturo meu processo criativo.
A beleza dessa fala ainda iria se potencializar, pois eu havia confeccionado um fio de contas verde, correspondente ao Orixá Oxossi na minha religião, que é considerado o patrono das artes, do conhecimento e da natureza. Imaginei que eu entregaria a guia (fio de contas) de Oxossi a alguém da assessoria de Spike Lee, no entanto, quando ele me viu de braços esticados com o fio de contas na mão, veio em minha direção, pegou o colar, o beijou e o vestiu, agradecendo pelo presente. Essa é uma das cenas da minha vida que jamais sairão da minha mente. Os meus olhos eram as câmeras e minhas memórias são os filmes onde essas imagens estão lindamente gravadas. Mais do que um encontro, considero o que ocorreu nesse dia como uma troca de axé e boas energias entre um mestre e sua discípula!
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