Advogado, produtor rural de Santa Catarina e porta-voz do Movimento Brasil Verde e Amarelo (MBVA), Jeferson Rocha diz ao Congresso em Foco que o grupo contestou o resultado das eleições, bem como o sistema eleitoral brasileiro em 2022, e também apoiou reformas e pautas do governo Bolsonaro ao longo da gestão do ex-presidente. Entretanto, Jeferson defende que em nenhuma manifestação do movimento pregou-se violência, desrespeito à lei ou qualquer tipo de atitude afrontando os poderes constituídos.
O MBVA é um grupo informal que congrega representantes do agronegócio. O grupo é citado no relatório sigiloso 005 da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), consolidado dois dias após a invasão da Praça dos Três Poderes no dia 8 de janeiro, como representante de lideranças do agronegócio nacional e um dos principais articuladores dos atos intervencionistas em apoio ao ex-presidente da República nos últimos anos.
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Jeferson, no entanto, nega a conclusão do relatório.
“Todas as manifestações eram pela democracia, pelo fortalecimento das instituições e em apoio ao presidente Bolsonaro”, diz o advogado. “O agro apoiou quase que unanimemente o governo do presidente Bolsonaro, mas em nenhuma das manifestações a gente foi contra o Estado de Direito”, completa.
O advogado não é estranho à política: já foi candidato a deputado federal em Santa Catarina, em 2022, e presidente do Pros. Ele também atua como diretor jurídico da Associação Nacional de Defesa Dos Agricultores, Pecuaristas e Produtores da Terra (Andaterra), citada como uma das principais organizações que compõem o MBVA junto com a Associação de Produtores de Soja e Milho (Aprosoja) de Mato Grosso e de Goiás e a União Democrática Ruralista (UDR).
A Andaterra foi fundada em 2006 e a atividade maior de Rocha se dá dentro do direito tributário, direito dominial e demais ações judiciais movimentadas pela entidade. A atuação é basicamente dentro do Poder Judiciário. Destaca-se, por exemplo, uma ação que buscou, em fevereiro de 2020, a derrubada da taxação do Fundo de Assistência ao Trabalhador Rural (Funrural) nas exportações indiretas, que Jeferson sustentou no Supremo Tribunal Federal (STF).
A atuação do MBVA, segundo Jeferson Rocha
Segundo o advogado, o movimento surgiu em 2017, “mas não tem CNPJ, não é uma associação e não é uma entidade”. Suas atuações estavam relacionadas primeiramente a questões voltadas à agropecuária para se contrapor a temas tributários e legislações que eram discutidas na época.
Em 2018, o MBVA fez um movimento em Brasília com cerca de 12 mil produtores rurais na Esplanada dos Ministérios. Em 2019, organizaram também a Agrobrasília, ação com uma temática específica a favor da reforma previdenciária, da reforma tributária e do pacote anticrime do então ministro da Justiça, Sergio Moro.
Em 2021, o movimento participou com tratores de uma manifestação em 7 de setembro, na Esplanada do Ministérios, pedindo maior concessão de poderes a Jair Bolsonaro e intervenção militar. Em 2022, o MBVA ganhou pretensão política e diversos membros do grupo se lançaram como candidatos a deputado federal e outros cargos em vários estados do país.
“Nós repudiamos com veemência aquele episódio [8 de janeiro]. Entendemos que quem cometeu os crimes de esbulho, depredação e invasão do patrimônio público deve ser punido com os rigores da lei. Não sabemos o que tem nesse relatório que faz essa ligação [com o MBVA], que simplesmente não existe”, disse Rocha, em entrevista ao Congresso em Foco.
Segundo o documento da Abin: Jeferson da Rocha é classificado como “líder ideológico do MBVA, com discurso radicalizado”, e que mantém contato com Alex Silva, líder do Ucraniza Brasil, grupo extremista violento que atua no país desde 2020.
Eis o que Jeferson Rocha disse em entrevista ao Congresso em Foco:
Congresso em Foco: O MBVA questionou o resultado das eleições?
Jeferson Rocha: Nós questionamos, sim, o aprimoramento do Sistema Eleitoral Brasileiro. Em determinado momento, em 2020, começamos a questionar, debater internamente, e externar uma proposta de Emenda Constitucional da deputada Bia Kicis [PL-DF], que não foi aprovada; a do voto com dispositivo de aferição pública da contagem. Perdemos esse tema dentro do parlamento e, desde então, passamos a nos candidatar. Uns [candidatos do MBVA] ganharam, outros perderam, e respeitamos o resultado [presidencial] das urnas. Aceitamos a derrota nas urnas e trabalhamos hoje como oposição.
O MBVA realizou ações para contestar o resultado das eleições de 2022?
Convite [do MBVA] para o dia 8 [de janeiro de 2023] não existe. Não partiu do nosso movimento. O que pode acontecer é um camarada utilizar o nome Movimento Verde e Amarelo, como existem várias páginas no Facebook e no Instagram que se utilizam desse nome. Como não é um movimento registrado, a gente não tem muito o que fazer. Então cada um responde pelo que fala. Se o camarada coloca lá “Ah, o movimento convidou”, não partiu da gente. Não partiu do agro. Partiu de quem foi lá. E quem for identificado, evidentemente, deve ser punido com os rigores da lei. A gente não tem absolutamente nada a ver com esse lamentável episódio do dia 8. E todo mundo está disposto a contribuir, a participar do que for preciso, dentro das apurações que estão acontecendo para que seja esclarecida a verdade.
Se não há registro, é possível dizer quantos são os integrantes do moviment?
Não tem. Sabe por quê? Porque lá atrás, em 2019, quando a gente fez o evento em Brasília, havia entidades, sindicatos, cooperativas, associações ou mesmo pessoas físicas que foram signatárias de um documento em apoio às reformas. Hoje não dá para dizer que essas pessoas, que apoiaram as reformas lá e que apoiaram o movimento em 2019, fazem parte hoje ou estão integrando o movimento do Brasil Verde e Amarelo. Hoje o movimento se resume a grupos de WhatsApp. Temos três grupos de WhatsApp, oficialmente falando. É um movimento, uma ideia. É um movimento social com cunho de defesa do segmento agropecuário, de defesa do produtor rural e que, em determinado momento da história dele, apoiou um candidato, que foi o presidente Bolsonaro, de modo ostensivo. E aí, é claro, participamos ativamente da questão das reformas.
O senhor tem contato com o Alex Silva, liderança de um grupo chamado Ucraniza Brasil?
Não. Eu o conheci entre 2018 e 2020 através de um instrutor de tiro. Porque eu também sou atirador, caçador profissional. O Alex Silva ministrou para um grupo nosso de produtores um curso de defesa pessoal. Ele prestou o curso, nós fomos diplomados pelo curso dele que, para 80% dos que participaram, foi um curso de iniciante. O Alex Silva, a gente conheceu como um profissional que trabalha dentro de uma empresa de instrução de tiro. E aí, depois que eu conheci ele que fui também descobrir da atividade dele, vamos dizer, no campo político, né? Porque ele tem uma participação de ativismo político, e não concordo com o posicionamento dele. Eu me recordo de um episódio, acho que foi em Brasília, não sei, que ele teve uma confusão lá. E depois, então, também nunca mais mantive contato com esse Alex Silva.
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