Um relatório da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) identificou a participação de grupos econômicos do agronegócio na organização de comboios de caminhões com destino a Brasília, entre novembro e dezembro de 2022, para contestar o resultado das eleições após o 2º turno.
O Congresso em Foco teve acesso ao relatório, que está em sigilo.
“Ao todo, foram identificados 272 caminhões que integraram os comboios para Brasília a partir de 4 de novembro de 2022. Quase todos eram oriundos de quatro estados: Mato Grosso, Goiás, Bahia e Paraná”, especifica o relatório de 12 de fevereiro de 2023.
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De acordo com o documento, o movimento, que culminou com a invasão da sede dos Três Poderes no Distrito Federal em 8 de janeiro de 2023, tem elementos em comum com a mobilização que ocorreu entre 6 e 10 de janeiro de setembro de 2021. À época, manifestantes pró-Bolsonaro reivindicavam intervenção militar e mais liberdade de atuação ao ex-presidente. A semelhança entre os eventos reside exatamente no “deslocamento de comboio de caminhões para a Capital Federal”.
A Abin aponta ligações de nomes do agronegócio com a operação. Segundo o relatório, metade da frota que rumou à capital está registrada entre pessoas jurídicas atuantes sobretudo no setor do agro. A outra metade está registrada em nome de indivíduos com participação societária em grupos majoritariamente ligados ao agronegócio do mesmo modo.
O documento aponta o deslocamento de comboios como parte de um movimento de deslegitimação do processo eleitoral junto com mais três ações: bloqueios rodoviários, acampamentos em frente a quartéis militares e atentado contra infraestruturas.
Ao chegarem à capital, o ponto de concentração dos comboios era o acampamento estabelecido em frente ao Quartel General do Exército no setor militar urbano.
Algo parecido
O maior agravante da presença de caminhões perto da Esplanada dos Ministérios e da Praça dos Três Poderes, a partir do dia 04/11/2022, foi a potencialização do risco de invasão da sede dos poderes da República, conforme o documento. Algo parecido aconteceu na noite de 6 de setembro de 2021.
A estratégia da data de 2021 foi furar barreiras policiais com caminhões, ônibus e manifestantes para tentar firmar acampamentos na região das sedes. No dia seguinte, 7 de setembro, junto com a invasão da Esplanada, bloqueios rodoviários, manifestações de rua e comboios com direção à Capital ocorreram. O mesmo modo de operação foi notado pela Abin a partir do 2º turno do ano passado.
“O mesmo repertório de protestos empregados de maneira combinada foi utilizado nas duas ocasiões. Além disso, a base social mobilizada também apresenta aspectos comuns a 6 e 7 de setembro de 2021. A maioria dos caminhões utilizados na invasão da Esplanada pertenciam a empresas agrícolas e do ramo de transportes, sendo reduzida a participação de caminhoneiros autônomos”, explica o relatório.
Um dos principais indícios que reforça o envolvimento de grupos empresariais do agronegócio está na idade dos caminhões. Segundo o documento, veículos de caminhoneiros autônomos têm em média 18,4 anos de uso. Os veículos de empresas são recentes. Aproximadamente 65% dos caminhões presentes nos comboios eram novos e seminovos, tendo como ano modelo a partir de 2019.
Do total de 272 caminhões, 93,38% estão registrados nos estados de:
- Mato Grosso: 136 caminhões ou 50% do total. Do município de Sorriso saíram 72 caminhões;
- Bahia: 46 caminhões. Do município de Luís Eduardo Magalhães saíram 22 caminhões;
- Goiás: 46 caminhões;
- Paraná: 26 caminhões.
Verificou-se ainda que 132 caminhões (48,5%) estão registrados em nome de pessoas jurídicas, o que indica o envolvimento de grupos empresariais no financiamento do acampamento em frente quartel do Exército. Os demais caminhões, 140 ou 51,5% do total, estão registrados em nome de pessoas físicas.
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