Tido como um dos mais esperados documentos pela Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) dos Atos Golpistas , o relatório da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) em relação aos atos de 8 de janeiro é um compilado de 29 mensagens disparadas via dois grupos de Whatsapp para um total de 39 representantes de órgãos das Forças Armadas, da Segurança Pública, três ministérios (Defesa, Infraestrutura e Justiça), três agências do governo, além da Câmara dos Deputados, o Senado, entre outros. Os dados foram obtidos com exclusividade pelo Congresso em Foco.
Datado de 22 de junho de 2023, o documento em que “consta a relação completa dos alertas emitidos às vésperas e durante o dia 08/01/2003, bem como a relação de integrantes dos órgãos públicos que receberam tais alertas”, foi preparado pela Abin a pedido de requerimentos aprovados pela CPMI, que analisa os eventos que culminaram nos atos de 8 de janeiro.
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De acordo com o documento, um dos grupos de WhatsApp, criado e administrado pela própria Abin em 23/11/2019 e batizado de “CONSISBIN” (Conselho Consultivo do Sistema Brasileiro de Inteligência) mostra que representantes do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) foram avisados, assim como representantes de órgãos de vigilância, inteligência e de trânsito.
As mensagens do grupo CONSISBIN, contendo avisos sobre manifestações em capitais e em rodovias começaram a ser enviadas em 2 de janeiro de 2023. Até o dia 5 de janeiro, uma mensagem ao dia foi disparada para alertar sobre protestos contra o resultado das eleições presidenciais de 2022 e sobre manifestações em estradas, que variaram entre 20 e 11 pontos de concentração pelo Brasil. Nenhuma delas continha qualquer menção a atos violentos ou ataques a prédios e instituições públicas.
No dia 6 de janeiro, às 16h30, uma mensagem com cinco parágrafos de diagnóstico da atmosfera de revolta no Brasil trouxe no último parágrafo: “Há convocação para atos em frente a refinarias e distribuidoras de combustível em MG, AM e PR. Persistem as chamadas para caravanas em direção a Brasília, greves e paralisações. Não há dados que indiquem efetiva mobilização popular ou de setores da sociedade civil para as ações convocadas.”
Já às 19h40 do mesmo dia, uma nova mensagem traz outro cenário: “Perspectiva de Manifestação em Brasília: A perspectiva de adesão às manifestações contra o resultado da eleição convocada para Brasília para os dias 7, 8 e 9 jan, 2023 permanece baixa. Contudo, há risco de ações violentas contra edifícios públicos e autoridades. Destaca-se a convocação por parte de organizadores de caravanas para o deslocamento de manifestantes com acesso a armas e a intenção manifestada de invadir o Congresso Nacional. Outros edifícios na Esplanada dos Ministérios poderiam ser alvo de ações violentas”.
No dia 7 de janeiro outro grupo foi criado, com administração da Subsecretaria de Inteligência da Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal (SI/SSP/DF) e batizado de “CIISP (Centro Integrado de Inteligência de Segurança Pública) – Manifestação” com representantes de 16 órgãos, entre eles a Polícia Civil e Federal, o Senado, a Câmara, Centros de Inteligência, a própria ABIN e o GSI.
A partir do dia 7 até o fim do quebra-quebra , no dia 8 de janeiro, ambos os grupos passaram a disparar mensagens para os representantes dos órgãos, entre eles o Exército e entes do Distrito Federal responsáveis pela segurança pública da Praça dos Três Poderes.
Quais eram os órgãos e instituições que receberam as mensagens de Whatsapp?
Grupo de Whatsapp CONSISBIN (Conselho Consultivo do Sistema Brasileiro de Inteligência), criado em 23/11/2019, e administrado pela Agência Brasileira de Inteligência (ABIN), com participação no período de representantes dos seguintes órgãos.
- Centro de Inteligência do Exército (CIE);
- Centro de Inteligência da Marinha (CIM);
- Assessoria de Inteligência de Defesa do Ministério da Defesa (AID/MD);
- Diretoria de Inteligência da Secretaria de Operações Integradas do Ministério da Justiça e Segurança Pública (DINT/SEOPI);
- Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT);
- Ministério da Infraestrutura (MINFRA);
- Agência Nacional de Telecomunicações (ANATEL).
*Quem recebeu as mensagens do CONSISBIN:
[Por uma questão de sigilo, o nome dos representantes foi apagado com tarjas pretas no documento]
- AID/MD – Tenente Coronel – Chefe da Inteligência de Defesa do Ministério da Defesa
- AID/MD – General de Brigada – Chefe de Assessoria de Inteligência de Defesa
- Anatel – Especialista em Regulação – Gerente de Controle de Obrigações de Qualidade
- ANTT – Oficial da Abin – Coordenador Geral de Inteligência e Contra Inteligência
- ANTT – Inspetor da Polícia Rodoviária Federal – Coordenador de Inteligência
- ANTT – Técnico em Regulação de Serviço de Transporte Terrestre – Coordenação de Contra Inteligência
- CIE/MD – Coronel – Chefe da Divisão de Inteligência
- CIM/MB – Capitão de Mar e Guerra – Analista de Inteligência
- CIM/MB – Chefe do Departamento de Contra Inteligência
- DINT/SEOPI/MJ – 3º sargento da PM/AM – Diretoria de Inteligência da Secretaria de Operações Integradas da SEOPI
- EB – Tenente Coronel – Comandante do 6º Batalhão de Inteligência Militar
- EB – Assessoria de Inteligência – CIE
- GSI/PR – Oficial de Inteligência da ABIN – Assessoria técnica do GSI/PR
- CIM/MB – Contra Almirante – Diretor do Centro de Inteligência da Marinha
- Mintra – Oficial de Inteligência da ABIN – Coordenador Geral de Pesquisas e Informações Estratégicas
- SSP/DF – Delegado da Polícia Civil do DF – Subsecretário de Inteligência da SSP-DF
Grupo de Whatsapp CIISP Manifestações, criado em 07/01/23 pela Subsecretaria de Inteligência da Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal (SI/SSP/DF), com participação de 16 representantes dos seguintes órgãos:
- Polícia Civil do Distrito Federal;
- Comando de Policiamento Regional Metropolitano da Polícia Militar do Distrito Federal (CPRM/PMDF);
- Serviço de Análise Estratégica da Diretoria de Inteligência Policial do Departamento de Polícia Federal (SAE/DIP/DPF);
- Diretoria de inteligência da Secretaria de Operações Integradas do Ministério da Justiça e Segurança Pública (DINT/SEOPI/MJ);
- Unidade de Inteligência Operacional do Departamento de Trânsito do Distrito Federal (Unint/DETRAN/DF);
- Supremo Tribunal Federal (STF);
- Tribunal Superior Eleitoral (TSE);
- Agência Brasileira de Inteligência (ABIN) e
- Comando de Operações Táticas da Polícia Federal (COT/DF);
- Polícia Rodoviária Federal (PRF);
- Senado Federal;
- Câmara dos Deputados;
- Gabinete de Segurança Institucional (GSI);
- Centro de Inteligência da Polícia Militar do Distrito Federal (CI/PMDF);
- Corpo de Bombeiros Militar do DF (CBMDF) e
- Centro de Produção Análise Difusão e Segurança da Informação do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (CI/MPDFT)
*Quem recebeu as mensagens do CONSISBIN:
[O documento da ABIN não menciona os cargos e nem mesmo os nomes dos responsáveis. Apenas cita os órgãos que possuíam 23 representantes recebendo as mensagens]
- Câmara dos Deputados;
- Corpo de Bombeiros Militar do DF (CBMDF);
- Centro de Inteligência da Polícia Militar do Distrito Federal (CI/PMDF) – citado duas vezes;
- Comando de Operações Táticas da Polícia Federal (COT/DF);
- Comando de Policiamento Regional Metropolitano da Polícia Militar do Distrito Federal (CPRM/PMDF);
- Diretoria de inteligência da Secretaria de Operações Integradas do Ministério da Justiça e Segurança Pública (DINT/SEOPI/MJ);
- Gabinete de Segurança Institucional (GSI);
- Inteligência do Comando Militar do Planalto do Exército Brasileiro (CMP/EB)
- Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) – citado 3 vezes
- Polícia Rodoviária Federal
- Serviço de Análise Estratégica da Diretoria de Inteligência Policial do Departamento de Polícia Federal (SAE/DIP/DPF);
- Senado Federal;
- Subsecretaria de Inteligência da Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal (SI/SSP/DF) – citada 5 vezes
- Supremo Tribunal Federal (STF);
- Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e
- Unidade de Inteligência Operacional do Departamento de Trânsito do Distrito Federal (Unint/DETRAN/DF)
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