Se, em 2018, um dos segredos da bem-sucedida campanha presidencial de Jair Bolsonaro foi o uso maciço do Whatsapp para compartilhar seu conteúdo, os preparativos da campanha de 2022 parecem focar no uso do Telegram, aplicativo de mensagens instantâneo russo com estrutura muito similar ao Whatsapp que permite um controle mais centralizado do seu conteúdo.
Nesta sexta-feira (9), Bolsonaro alcançou 1 milhão de seguidores na sua conta na rede social, onde busca encaminhar – diversas vezes por dia, em muitos momentos – conteúdos positivos em relação a seu governo, como vídeos de obras, imagens relativas à vacinação (que o presidente ainda é publicamente contra) e apreensões de drogas.
No ano que vem, Bolsonaro deve nadar ali de braçada, já que nenhum concorrente direto seu na eleição presidencial tem alcance similar: Lula (PT) tem 35,8 mil seguidores em seu canal, o que significa que, para cada pessoa assinante do seu canal, Bolsonaro possui 28. A distância para Ciro Gomes (PDT) é ainda maior: com 18,3 mil seguidores, Bolsonaro tem 54.7 vezes mais alcance que o pedetista.
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Entre os políticos de alcance nacional, nenhum possui uma área tão livre de alcance quanto o atual presidente na rede social. Os mais próximos estão no Congresso e compõem sua base aliada: Carla Zambelli (PSL-SP) possui 102 mil seguidores; Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) e Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ) tem 52,7 mil e 92,8 mil, respectivamente. A deputada Bia Kicis (PSL-DF), que preside a CCJ na Câmara, tem 35 mil seguidores.
Parte visível da campanha pela migração ao Telegram é feita quase diariamente pelo presidente em suas redes sociais, e começou neste ano: desde 12 de janeiro até este sábado (9), o presidente convocou 62 vezes os seus seguidores no Twitter (onde, hoje, conta com 7 milhões de seguidores) a migrar para a plataforma. Flávio convocou seus 1,6 milhão de seguidores nove vezes. Eduardo fez a chamada apenas seis vezes aos seus 2,2 milhões de seguidores.
Grande responsável pelas estratégias digitais do pai, o vereador pelo Rio de Janeiro Carlos Bolsonaro (Republicanos) tem 62,5 mil seguidores. Ele promoveu apenas sete vezes sua conta no aplicativo desde o início do ano no Twitter – onde tem 2,2 milhões de seguidores.
Diferente do Whatsapp, a arquitetura do Telegram não impõe um limite no tamanho que os grupos podem ter: enquanto a rede vinculada ao Facebook coloca o limite de 256 participantes por grupo, o Telegram permite que o conteúdo seja enviado, de uma vez, a milhões de inscritos. Ao contrário de redes como o Twitter, onde é fácil acompanhar as reações ao que é dito, a própria arquitetura da rede social russa tira o incentivo à acompanhar o debate, dando maior relevância ao que o administrador da página publica. Bolsonaro e seus aliados passam, portanto, a dominar uma rede onde há pouco contraditório a suas falas e atos, dominada em sua maioria por apoiadores de seu governo.
Ainda é incerto como a rede social será tratada durante as eleições pela Justiça Eleitoral -que, aliás, não possui canal de comunicação na rede. Ao contrário de suas concorrentes, o Telegram não possui um CNPJ vinculado no país, o que indica que ela não está, neste momento, ao alcance da legislação brasileira e das autoridades eleitorais. Neste sentido, fica mais difícil atuar contra possíveis crimes eleitorais cometidos na plataforma – e o fato do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ainda analisar se a campanha de Bolsonaro usou o Whatsapp irregularmente em 2018 prova que tais crimes tem chance de ocorrer novamente.
O sucesso do Telegram faz parte de uma tendência de migração do universo bolsonarista: o blogueiro extremista Allan dos Santos, apoiador dos Bolsonaro que é investigado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por promover atos contra a democracia, tem um canal com 109,6 mil seguidores, maior do que qualquer outro político de projeção nacional.
No canal, normalmente se encontram conteúdos distorcidos e fake news, disparados contra adversários políticos de Bolsonaro. Nesta semana, o principal nome atacado foi o do presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP). O amapaense, que comandou o Senado entre 2019 e 2021 segura a sabatina de André Mendonça para o cargo de ministro do Supremo Tribunal Federal (STF).
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