No seu perfil no Facebook, o ex-deputado federal e jornalista Milton Temer fez uma postagem que gerou 344 comentários e 160 compartilhamentos até o momento em que gravávamos esse comentário. Temer escreveu algo que vem sendo debatido entre setores que analisam a política. Para ele, o discurso feito pelo candidato do PDT, Ciro Gomes, no lançamento da sua pré-candidatura na sexta-feira (21) o coloca, a essa altura mais à esquerda que o candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva.
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Milton Temer foi deputado federal pelo PT e hoje se encontra filiado ao Psol, um partido que anda incomodado com os movimentos de Lula para ter o vice-governador Geraldo Alckmin como seu candidato a vice-presidente, num movimento que visa aplacar descontentamentos no campo mais conservador do país.
Há alguns dias, um movimento chamou a atenção vindo do Psol: o deputado David Miranda (RJ), companheiro do jornalista Glenn Greenwald, deixou o Psol para se filiar ao PDT e apoiar Ciro. David Miranda tornou-se deputado na vaga aberta com a renúncia de Jean Willys. Glenn, no site Intercept, foi o responsável por publicar os arquivos que mostravam as combinações do ex-juiz Sergio Moro com procuradores para condenar Lula, série que ficou conhecida como “Vaza Jato”.
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No Facebook, Milton Temer diz que seu candidato à Presidência é o deputado Glauber Braga (RJ), do Psol. Mas aponta que Ciro teria na semana passada apresentado de fato um programa de governo com compromissos que podem contrariar certos interesses do mercado financeiro tradicional. “Ciro não se pretende contestador do regime capitalista. Mas seu discurso foi no caminho claro do reformismo de uma histórica social democracia”, escreve Milton Temer.
“Quer queiram ou não os ‘incondicionais’ do lulopragmatismo, Ciro largou muito à esquerda do que vem sendo apresentado por Lula em seus discursos, mais voltados a explicar Alckmin do que para apontar caminhos , fora das generalidades de praxe. E foi mais longe no ataque ao lavajatismo e às ameaças de autoritarismo contidos no eixo do discurso de Moro, do que o próprio Lula”, avalia Milton Temer.
Qual será mesmo o impacto do discurso de Ciro, é difícil se saber. Mas ele parece mesmo ter mexido com os setores mais à esquerda. Amargando índices nas pesquisas bem abaixo do que ele mesmo esperava dado o desempenho que teve nas últimas eleições presidenciais, o desafio de Ciro é se posicionar nesse jogo. Pelas suas características, não há como Ciro querer buscar votos dos eleitores conservadores, retirar nacos da candidatura de Jair Bolsonaro. Ou mesmo da de Sergio Moro, à frente dele nas pesquisas. Seu alvo tem mesmo de ser Lula, o que torna o jogo mais complicado para ele, uma vez que Lula tem hoje uma enorme vantagem na corrida.
Se nada mudar daqui até outubro, Lula é virtualmente o próximo presidente da República. Então, tudo o que ele diz repercute de fato no mercado. Quando o ex-ministro da Fazenda petista Guido Mantega apontou em um artigo que poderia rever a reforma trabalhista, a repercussão foi fortemente negativa. Quando, na semana passada, Lula falou ao que ele batiza de “sites independentes” praticamente sacramentando a aliança com Alckmin e afirmando que não revogaria a reforma trabalhista por inteiro e que qualquer modificação seria feita de maneira tripartite numa negociação com empresários e trabalhadores, o mercado se acalmou.
Essa parece ser a essa altura a questão. Com a vantagem que Lula tem na disputa eleitoral, seu discurso precisa se equilibrar entre os vários segmentos da sociedade, num malabarismo entre manter a esquerda e conquistar os conservadores. Mostrando-se tão confiável quanto foi em 2002, quando se elegeu da primeira vez.
E Ciro vai para tudo ou nada. Com índices baixos nas pesquisas, ele precisa arriscar. E tem bem menos a perder a essa altura com os riscos que corre. Vai, então, para a esquerda.
O que ele precisa já desde a largada é mais uma vez conter seus nervos. Tudo teria seguido conforme o roteiro se Ciro não tivesse perdido tempo batendo boca com um jornalista.
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