A pesquisa do Datafolha divulgada na quarta-feira (19) gerou algum apavoramento por parte de eleitores e apoiadores de Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, diante da aproximação de Jair Bolsonaro, do PL, que disputa a reeleição. De fato, Bolsonaro se aproxima, algo que outras pesquisas já vinham apontando. Mas, à margem de qualquer apavoramento, a pesquisa não desfaz o fato de que, pelo menos neste momento, Lula segue sendo o favorito para vencer as eleições no dia 30 de outubro.
Aos números. Um primeiro ponto importante da pesquisa é a curiosidade dela trazer agora o mesmo percentual de votos que dava o Datafolha em 25 de outubro de 2014 para Dilma Rousseff, do PT, na disputa daquele ano com Aécio Neves, do PSDB, como mostramos aqui. Ou seja, em 2014, em uma data muito próxima, o segundo turno mais apertado da história desde a redemocratização apontava exatamente Dilma com 52% e Aécio com 48% dos votos válidos. Dilma venceu as eleições.
Ao divulgar os dados, o Datafolha tomou cuidado de não divulgar a pesquisa como sendo empate técnico. O que poderia, já que, na margem os dois candidatos poderiam ter ambos 50%. Esse seria o pior cenário de Lula (com a margem de erro de dois pontos para cima ou para baixo, ele poderia ir de 54% dos votos válidos a 50%) e o melhor de Bolsonaro (que oscilaria de 46% a 50%). Ocorre que o Datafolha arredonda suas amostragens para além das casas decimais. Há pesquisas que apontam que o candidato tem, digamos, 52,88% dos votos. Não é o caso do Datafolha. Assim, toda casa decimal acima de 0,5% é arredondada para cima. E abaixo de 0,5% para baixo. Segundo o instituto, sem o arredondamento o pior cenário de Lula ainda é maior que o melhor cenário de Bolsonaro.
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Vale reforçar, ainda, de qualquer modo, que a margem de erro da pesquisa é de dois pontos percentuais. Assim, se Bolsonaro oscilou um ponto para cima, foi uma oscilação dentro da margem de erro. Ou seja, uma oscilação que, a rigor, pode não ter acontecido.
Com relação à rodada anterior do Datafolha, houve ainda estabilidade quanto à avaliação que o cidadão faz do governo Bolsonaro. Ele é reprovado por 39% e aprovado por 38%. Sem dúvida, se comparado com pesquisas mais antigas, a avaliação do governo Bolsonaro melhorou .Seu índice de reprovação já foi no Datafolha de 53%. Mas ele nada melhorou de uma rodada para outra nas duas pesquisas mais recentes. Está congelado.
Mas o dado que parece mais importante é que, contando os votos totais, sem desprezar os votos nulos, em branco e indecisos, Lula teve agora os mesmos 49% da rodada anterior. E Bolsonaro subiu de 46% para 47%. Ou seja, esse ponto percentual a mais que Bolsonaro conquistou nos votos totais ele não tirou de Lula. Eles vieram de eleitores que até então não declaravam voto em nenhum dos dois candidatos. Quando se pegam os votos válidos, Lula caiu um ponto e Bolsonaro subiu um porque o universo de eleitores que antes não tinha optado por nenhum dos dois diminuiu ligeiramente em favor de Bolsonaro.
Lula manteve seu percentual. O que transforma o índice de indecisos e as eventuais abstenções no dia 30 de outubro um ponto chave para o resultado final. Um percentual muito pequeno de gente. Segundo o Datafolha, Lula teve uma vantagem de quatro pontos percentuais sobre Bolsonaro. E os brancos e nulos da pesquisa foram 4%. E os indecisos 1%. Ou seja, há um universo de 5% que não se definiram. Em tese, Bolsonaro só ganha se conquistar todos eles. Ou se a abstenção for em percentual maior que o universo pesquisado pelo Datafolha.
Perfeita a análise, Lula está estável e Bolsonaro só cresceu 1% de indecisos, como temos 5% de indecisos e nulos ele só levará a eleição se conseguisse todos estes votos, o que estatisticamente é praticamente impossível. A outra hipótese seria a abstenção acima de 20% e isso explica a negativa de Bolsonaro a concessão da gratuidade do transporte público no dia 30.10, porque sem isso há o risco de abstenções.