De 1930, após a crise de 29 e a chegada de Vargas ao poder, a 1980, com o segundo choque do petróleo e a disparada dos juros internacionais, o Brasil teve um crescimento econômico exuberante de 7% ao ano em média. Fomos um dos mais exitosos exemplos de industrialização tardia induzida pelo Estado, na periferia do capitalismo. Falava-se no milagre brasileiro só comparável ao japonês. Neste processo de desenvolvimento destacaram-se os períodos dos governos Vargas, JK e Geisel. O Brasil era visto como o país do futuro.
De uma economia agroexportadora, ancorada na cafeicultura, migramos celeremente, em 50 anos, para uma sociedade urbana-industrial de economia diversificada. Todos os instrumentos – fiscais, cambiais, creditícios, monetários, de comércio exterior – foram acionados e se somaram aos investimentos públicos, do governo e de empresas estatais, e do empresariado nacional e estrangeiro, em nome da superação do atraso e de garantir um lugar ao Brasil entre as grande potências do século 21.
Em 1979 e 1980, vieram o choque do petróleo, a crise da dívida externa e o processo inflacionário crônico. As bases do desenvolvimento das décadas anteriores foram corroídas. De 1980 a 2022, nossa taxa média de crescimento foi de 2,3% ao ano contra os 7% dos cinquenta anos anteriores. Neste período, a economia mundial cresceu anualmente à média de 3,4%. Fomos somente a 92ª maior média de crescimento entre 135 países acompanhados pelo FMI. Em 1980, o PIB brasileiro representava 4,3% de toda a produção de bens e serviços mundial. Em 2002, apenas 2,3%. O milagre brasileiro se esvaiu e, tudo indica, perdemos o “bonde da História”.
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Ainda que devamos evitar comparações genéricas entre países já que cada um deles têm suas singularidades históricas e características peculiares, e considerar que o PIB não seja isoladamente um indicador definitivo para julgar o estágio de desenvolvimento social de uma Nação, é inevitável algum nível de paralelo entre diferentes trajetórias. Tomemos Chile e Coréia do Sul. O Brasil, em 1980, tinha o PIB por habitante maior que o da Coréia do Sul e pouco menor que o do Chile. Na entrada dos anos 20 do século 21, o Chile tem um PIB per capita mais que duas vezes maior que o brasileiro e a Coréia do Sul, quatro e meia vezes maior.
Contra fatos, números, estatísticas, evidências não há argumentos que parem de pé. Para além das paixões políticas e ideológicas, é preciso abrir corações e mentes e responder as perguntas essenciais: onde perdemos o fio da meada? Quais foram as escolhas equivocadas e os erros cometidos?
Esta reflexão é essencial se queremos projetar um outro horizonte para as gerações futuras de nosso país. Incrivelmente, nosso processo político decisório, às vezes, parece desconhecer a realidade das quatro últimas décadas. A sociedade também se vê anestesiada diante da urgência de uma mudança de rumo. Nos comportamos como tudo estivesse bem e que o sucesso é a marca de nossa trajetória recente.
Na próxima semana, vamos discutir algumas hipóteses sobre o descarrilhamento de nosso desenvolvimento vigoroso e dinâmico entre 1930 e 1980. A primeira atitude para combater uma doença é sempre o diagnóstico correto.
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