A entrevista do presidente do Republicanos, Marcos Pereira, no sábado (11) à Folha de S.Paulo tornou explícito o problema. Aprofundado pela entrevista da senadora Soraya Thronicke ao Congresso em Foco. A direita brasileira é hoje uma ideia em busca de quem a personifique. Começa a cair a ficha de que o ex-presidente Jair Bolsonaro, que levou ao poder esse pensamento conservador em 2018, não terá mais essa capacidade. Em parte porque já não parece tão interessado nisso, em parte porque a cada dia fica mais enrolado com golpismos e colares de diamantes.
Ainda será necessária maior investigação da imprensa e da ciência política sobre como se deu o fenômeno Bolsonaro. Há informações de que ele começou a se preparar para as eleições de 2018 em 2014. Foi quando começou a se articular especialmente o seu grupo de seguidores nas redes sociais. Bolsonaro procurava crescer na esteira das manifestações de protesto na Copa das Confederações em 2013 e no cansaço com os tempos de PT, o partido que ficara mais tempo no poder na República brasileira. Foi a partir desses dois movimentos que cresceu a direita brasileira.
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Bolsonaro moldou-se então como o político lacrador, que não tinha medo de dizer as coisas, contestando o politicamente correto. Dando voz a todo machista, intolerante e preconceituoso que até então guardava para si a vontade que tinha de bater nas suas mulheres, perseguir a comunidade LGBTI+, ostentar suas armas de fogo e outras barbaridades. Ao sinal de Bolsonaro, essa turma emergiu como se fosse uma horda de zumbis de um filme de terror classe B.
Goste-se ou não do perfil, é inegável que Bolsonaro se tornou, então, um líder de massas. Somente ele e o presidente Lula têm essa característica. A militância que Bolsonaro reúne em torno de si só é comparável mesmo à de Lula. Com a vantagem para Bolsonaro de parecer ter hoje muito maior compreensão que Lula de como se dá a nova comunicação via redes sociais.
É preciso ainda se investigar melhor se a candidatura Bolsonaro foi uma ideia do seu núcleo mais próximo – Carluxo e cia. – à qual a direita aderiu por falta de quem a personificasse ou se foi uma ideia construída por outros – aqui e no exterior – que viram em Bolsonaro alguém que podia ser moldado para levar adiante o seu projeto. O fato é que deu certo. E ele foi eleito.
Agora, o Brasil convive com uma corrente de pensamento de direita consolidada que não estava presente no país. Mas que neste momento está órfã de Bolsonaro como líder.
Sem combinar, Bolsonaro autoexilou-se nos Estados Unidos. Quando irá voltar e de que forma irá voltar é algo de que ninguém tem clareza. Incluindo aí, o seu próprio partido, o PL. E, ao voltar, como Bolsonaro irá se reinserir no projeto político da direita é outra coisa da qual não se tem a menor clareza.
No PL, já há hoje uma grande suspeita de que Bolsonaro acabará sendo condenado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e considerado inelegível. Ainda assim, o PL considera que ele pode ser um cabo eleitoral importante nas eleições municipais do ano que vem.
Mas Bolsonaro terá essa disposição? Até agora, ele não demonstra isso. Parece temoroso de que a sua situação se agrave ainda mais, somando ao que já está em julgamento no TSE o rolo das joias contrabandeadas e ainda outras coisas.
Diante da incerteza quanto a quem se tornou a sua referência em 2018, a direita busca outros nomes e outros rostos. Seu problema é que nenhum deles parece ter muito a cara de “mito”. Por outro lado, se Lula também estiver fora da próxima eleição presidencial, a esquerda também terá como opção alguém sem essa mesma característica de líder de massas.
Sem Bolsonaro e sem Lula, teremos em 2026 uma eleição menos personalista e mais focada no campo das ideias? Quem disputará com quem? Esse é o jogo que já começou.
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