Putin pode não perceber, mas ao desestabilizar a geopolítica no século 21 desencadeará mudanças que tornarão qualquer resultado da guerra contra a Ucrânia uma derrota, inclusive para a própria Rússia. Não duvido que a retirada de tropas estadunidenses do Afeganistão, que possibilitou o reestabelecimento do Talibã, tenha inspirado o líder russo a enxergar um momento propício para invadir o território vizinho, vislumbrando um período de maior passividade por parte dos Estados Unidos.
Garoto-propaganda: entre as diversas justificativas de Putin para iniciar a guerra no território ucraniano estão, por exemplo, genocídio e neonazismo. Porém, a única justificativa com argumento foi a expansão da Otan. Ironicamente, o presidente russo acabou, com isso, tornando-se seu maior divulgador, afinal se a Ucrânia fosse um país membro da organização não se encontraria nessa situação. Estar abandonada em um conflito contra a Rússia só reforça a importância de se fazer parte da Otan. Outros países como Finlândia e Suécia também poderão ser invadidos caso não se tornem membros da organização a tempo.
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Coalizão antiguerra: Putin se colocou em um lugar muito ruim, principalmente durante uma pandemia. Depois da cooperação entre diversos países contra a covid-19, encerrar a diplomacia e apelar para o uso da força coloca a Rússia como um pária internacional, deixando o país e seus aliados em uma posição muito delicada e servindo de alerta para as populações destes. Afinal, quem gostaria de jogar bola com Hitler?
Órgãos internacionais: os países envolvidos nas resoluções a serem analisadas pelo Conselho de Segurança da ONU deveriam ser privados do seu direito de voto. O veto da Rússia em relação à guerra contra a Ucrânia evidencia a falta de democracia nas organizações internacionais. Cada vez mais os países territorialmente e belicamente menores devem questionar o lugar de privilégio das antigas superpotências. O mundo é outro e já passou da hora de atualizar e reformular tais órgãos estabelecidos no século 20, visando mais democracia e mais liberdade entre os países.
Putin ousou e criou pretextos nunca antes vistos para uma invasão. Se o ex-presidente Trump tivesse tido o mesmo atrevimento, hoje teríamos, minimamente, uma Venezuela parcialmente ocupada e sob a liderança de Guaidó. A ordem mundial está em movimento, os tempos de paz estão comprometidos… qual será nosso papel nessa nova configuração?
Em tempos incertos são mais do que necessários os líderes certos, pois será um tempo de grandes decisões, muitas oportunidades e muito sofrimento.
A única certeza que temos é que a Rússia precisa ser parada, pode ser agora ou pode ser daqui a algum tempo, tudo dependerá do quanto demoraremos para lembrar aquilo que já aprendemos nos livros de história sobre a Segunda Guerra Mundial: ninguém vence com a guerra. Sendo assim, o que verdadeiramente importa é ser o lado que perde menos – menos território, menos dinheiro, menos vidas e, principalmente, menos humanidade.
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