A decisão do Copom de elevar a taxa básica de juros em 0,25 ponto percentual era esperada pelos analistas financeiros e pelo governo. A medida, no entanto, atravessa o discurso otimista do Planalto, que comemora índices de deflação, de crescimento do PIB e de pleno emprego. O mercado e os diretores do Banco Central acham que a inflação está à espreita, porque a economia está superaquecida, o nível de gasto público está elevado e não há no horizonte reformas estruturais, como novas mudanças no sistema previdenciário.
A avaliação desses agentes indica que há falta de confiança na capacidade do país de enfrentar o crescimento da dívida bruta, porque a política do governo é de defesa do investimento público, sem uma proposta de revisão da estrutura do Estado e do gasto.
Pesquisa Ipec desta semana mostra que a confiança no presidente Lula está em queda. Em março do ano passado, 53% da população diziam confiar em Lula. Hoje, são 45%. A tendência mudou: 43% afirmavam não confiar no presidente em março de 2023, e agora são 52%. Entre os eleitores de Jair Bolsonaro, a desconfiança atinge 89%, mostrando que o governo não conseguiu “furar a bolha”.
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As boas notícias da economia não parecem suficientes para satisfazer o eleitor. Para 53%, o país está no rumo errado, e 31% acham que em seis meses a situação econômica estará pior. Em setembro do ano passado, 51% afirmavam que o semestre seguinte seria melhor. Agora, a perspectiva positiva é vista por 38%. Quase metade dos entrevistados (47%) acham que Lula tem uma política ruim ou péssima de combate à inflação, ante a aprovação de 23%.
Os números também revelam dificuldades para o governo em áreas que ganham cada vez maior relevância, como o meio ambiente. A avaliação do governo no setor é ruim ou péssima para 44%, um aumento de 11 pontos percentuais desde abril deste ano, possivelmente um reflexo da tragédia do Rio Grande do Sul e das queimadas que devastam 60% do território. Só um em quatro entrevistados aprova a política ambiental. Às vésperas da COP30, em Belém, os resultados da reação tardia das autoridades aos incêndios serão fundamentais para a popularidade do governo.
A polarização política se reflete nos índices da pesquisa. Mas um dado chama atenção: seis em dez entrevistados (58%) dizem que Lula não deveria se candidatar à reeleição. Esse índice é o mesmo nas capitais, periferias e no interior. Entre os mais pobres (um a dois salários mínimos), eleitorado cativo de Lula, atinge 53%. Na faixa até um salário, foi a resposta de 41%.
Os dados parecem traduzir um certo cansaço do eleitor. Se Lula planeja mesmo seguir no Planalto em 2026, tem muito trabalho pela frente. A fórmula que vem usando há mais de 40 anos deu certo. Mas o mundo muda.
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