O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, estará no plenário do Senado no próximo dia 10. Vai cumprir um rito previsto na legislação, a obrigação de prestar contas do mandato a cada seis meses. Campos Neto tem sido alvo preferencial do presidente Lula e de seus aliados pela alta na taxa de juros. É acusado de atuar politicamente e, em consequência, frear a atividade econômica. A permanência dos juros em níveis tão elevados incomoda também a oposição, que inicialmente vinha defendendo a estratégia do BC de combate à inflação.
A decisão do Copom que reduziu os juros em meio ponto percentual alivia o clima no Senado, e a recepção a Campos Neto deve ser mais amena. Sobretudo porque foi dele o voto de desempate no colegiado, que se dividiu sobre a dimensão da queda. Na manhã da quarta-feira, horas antes da divulgação da nova taxa básica (Selic, reduzida em meio ponto), Lula lançou mais um ataque ao presidente do BC, a quem tratou por “esse rapaz”, afirmando que ele “não entende de povo”. No Senado, governistas como Renan Calheiros endossavam a crítica. O senador está convencido de que Campos Neto age contra o governo Lula e acha que seu mandato no BC pode ser contestado.
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O presidente do BC pode ter desmontado uma “operação” contra ele, mas a guerra com o governo continua, como deixou claro a presidente do PT, Gleisi Hoffmann: “Estamos pagando um preço muito alto pela atuação política do bolsonarista Campos Neto no BC. Manteve os juros na estratosfera, apesar de todas as evidências de que envenenam a economia. O BC de Bolsonaro, Guedes e Campos Neto, derrotado por Lula nas urnas, está sabotando o desenvolvimento do país. Têm de ser responsabilizados”, escreveu nas redes sociais.
Como sempre, o ministro Fernando Haddad vestiu-se de bombeiro: “Eu tenho certeza que o presidente do BC votou com a política que ele conhece realmente sobre economia. É um voto técnico à luz de tudo que ele conhece da realidade do país.”
A queda da Selic não muda a situação de o país ter os juros mais altos do planeta, mas é um passo importante e pode ampliar os efeitos de algumas boas notícias na economia, como a queda na inflação e o emprego em alta. O setor financeiro já reviu suas projeções e está otimista para os próximos meses, estimando um alta do PIB em torno de 2% e o início de um ciclo de crescimento. Esse cenário positivo foi influenciado também, avaliou o economista Mansueto Almeida à GloboNews, pelo afastamento de ameaças de intervencionismo econômico — incluindo aí tentativas de alterar o modelo de autonomia do BC ou de reverter reformas feitas nos governos passados.
O sucesso do governo na economia, porém, depende a outros fatores, como a conclusão da aprovação de reformas — tributária e novas regras fiscais. A parte mais difícil, apostam analistas econômicos, será cumprir a meta definida pela Fazenda de zerar o déficit nas contas públicas. Para isso, o governo precisa um aumento de arrecadação de cerca de R$ 140 bilhões além do que o crescimento da economia naturalmente proporcionaria. Pretende conseguir isso com medidas para mudar regimes especiais de tributação e revisão de políticas públicas, além de se beneficiar com decisões judiciais.
O resultado imediato será um aumento da dependência do Congresso. Lula precisa se entender com o Centrão, já vitaminado com cargos e verbas, para garantir votos essenciais à aprovação de medidas que mexem no bolso do andar de cima, como a tributação de fundos exclusivos. Com o BC em nova trajetória, vai precisar arrumar novos vilões.
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