Quando entregou cinco ministérios a partidos que declaravam oposição ao governo — União Brasil, PP e Republicanos —, Lula abraçou o Centrão como aliado. O PL de Jair Bolsonaro ficou fora da Esplanada, mas não está assim tão longe do poder. Acaba de ser contemplado com uma das cinco vice-presidências da Caixa, parte do acordo fechado com Arthur Lira em troca de votos na Câmara. O PP de Lira, que já havia indicado o presidente do banco, levou três vice-presidências. O Republicanos, uma. Ao União Brasil, especula-se no Congresso, estão prometidos postos no Banco do Brasil, a serem preenchidos com indicações do senador Davi Alcolumbre (União Brasil – AP).
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Esses mesmos partidos estão protestando contra o veto presidencial a uma fatia de R$ 5,6 bilhões em emendas de comissão ao Orçamento deste ano e podem articular a derrubada do veto. O Congresso havia aprovado um total de R$ 16,6 bilhões em verbas nessa modalidade, que não é de natureza impositiva. Deputados e senadores ainda terão R$ 47,5 bilhões em emendas para direcionar recursos a seus estados neste ano eleitoral, um recorde.
Em entrevista à Rádio Metrópole, da Bahia, na última terça-feira (23) Lula voltou a invocar a matemática política que o levou a negociar com o adversário do passado: “O Congresso tem 513 deputados, o PT só tem 70. O Congresso tem 81 senadores, e o PT só tem 9. Então você percebe que aumenta a nossa necessidade de conversar com as pessoas.” O presidente disse que terá “o maior prazer” em explicar aos parlamentares as razões do veto e afirmou não ter reclamações do Congresso, que, segundo ele, tem mostrado a “compreensão necessária” sobre o que precisa ser feito.
A relação entre Lula e o Centrão não é nova — à exceção do União Brasil, sucedâneo do PFL/DEM, os demais partidos do bloco participaram dos governos petistas. O que mudou foi o poder do Congresso sobre o Orçamento. Esta será uma negociação constante daqui em diante, porque os parlamentares não vão abrir mão dessa conquista. Nesse jogo, o Executivo usa seus instrumentos, como as nomeações para ministérios, para a Caixa e outros órgãos. E calibra decisões sobre o Orçamento: deixou intactos os R$ 4,9 bilhões aprovados para o Fundo Eleitoral deste ano, prioridade máxima para todos os partidos.
Em meio a ameaças de derrubada de vetos, já há negociações. O líder do União Brasil, Elmar Nascimento, por exemplo, lembrou que o acordo inicial para a aprovação do Orçamento fora de uma fatia de R$ 11 bilhões para as emendas de comissão, e que o aumento na verba para R$ 16,6 bilhões foi feito posteriormente pelo relator. Elmar Nascimento é o candidato de Arthur Lira à sucessão no comando da Câmara. O líder do governo, José Guimarães, pediu “diálogo” e “construção”, enquanto o Executivo prometeu recompor as verbas cortadas aos poucos.
Ainda assim, Lula pode perder no Congresso, como aconteceu com outros temas, caso do Marco Temporal das terras indígenas. Na mesma entrevista, ele mostrou que essa hipótese está no radar, ao comentar a derrota no Marco Temporal: “Obviamente eles derrubaram o veto, é só ver qual é a maioria no Congresso Nacional e saber que iam derrubar. Mas eu vetei por uma questão eminentemente política. Era preciso que a sociedade, a humanidade, soubesse que eu vetei o Marco Temporal que eles aprovaram e eles derrubaram o veto.” Jogo jogado.
Esse pode ser o discurso do presidente, mas o embate com o Centrão está longe de indicar uma ruptura na base parlamentar do governo. Ela é instável, “insaciável”, na definição da presidente do PT, Gleisi Hoffmann, mas a aliança resiste, porque, no momento, interessa a todos. Lula precisa desses partidos para governar e está disposto a atendê-los em troca de votos.
O Centrão por sua vez, não resiste ao poder. Jair Bolsonaro deu uma bronca no presidente do PL, Valdemar Costa Neto, depois de um elogio dele ao petista. Dias atrás, Ciro Nogueira, presidente do PP, declarou-se oposicionista, mas confessou não poder ir ao Planalto, porque acha o presidente “irresistível”.
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