O presidente Lula (PT) chamou o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) de “golpista” e pediu punição exemplar contra quem apoiou a tentativa de golpe. Deu a declaração durante o ato “Democracia Inabalada”, realizado no Congresso nesta segunda-feira (leia a íntegra do discurso no final da reportagem).
“Se a tentativa de golpe fosse bem-sucedida, muito mais do que vidraças, móveis, obras de arte e objetos históricos teriam sido roubados ou destruídos. A vontade soberana do povo brasileiro, expressa nas urnas, teria sido roubada. E a democracia, destruída”, disse Lula. “Adversários políticos e autoridades constituídas poderiam ser fuzilados ou enforcados em praça pública – a julgar por aquilo que o ex-presidente golpista pregou em campanha, e seus seguidores tramaram nas redes sociais.”
O presidente pediu ainda a punição de todos os envolvidos na tentativa de golpe.
“Todos aqueles que financiaram, planejaram e executaram a tentativa de golpe devem ser exemplarmente punidos. Não há perdão para quem atenta contra a democracia, contra seu país e contra o seu próprio povo”, disse Lula.
O ato “Democracia Inabalada” contou com a presença dos presidentes dos Três Poderes: Lula, como presidente da República, ministro Luís Roberto Barroso, como presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), e senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG), como presidente do Congresso.
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Os atos golpistas completam um ano nesta segunda-feira (8). A tentativa de golpe fracassou, com a prisão de bolsonaristas e a abertura de milhares de processos na Justiça brasileira. Um ano depois, o Poder Judiciário ainda julga os acusados de agir contra o Estado Democrático de Direito. As investigações sobre os financiadores e autores intelectuais também seguem.
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Íntegra do discurso
Leia abaixo o discurso de Lula na cerimônia do Congresso marcando um ano dos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023:
“Senhoras e senhores, meus amigos e minhas amigas.
Quero em primeiro lugar saudar todos os brasileiros e as brasileiras que se colocaram acima das divergências para dizer um eloquente NÃO ao fascismo. Porque somente na democracia as divergências podem coexistir em paz.
Quero fazer uma saudação especial a todas e todos que no dia seguinte à tentativa de golpe caminharam de braços dados do Palácio do Planalto ao Supremo Tribunal Federal, em defesa da democracia.
Nunca uma caminhada tão curta teve alcance histórico tão grande.
A coragem de parlamentares, governadores e governadoras, ministros e ministras da Suprema Corte, ministros e ministras de Estado, militares legalistas e, sobretudo, da maioria do povo brasileiro garantiu que nós estivéssemos aqui hoje celebrando a vitória da democracia sobre o autoritarismo.
Aproveito para saudar os trabalhadores e as trabalhadoras das forças de segurança – em especial a Polícia Legislativa – que, mesmo em minoria, se recusaram a aderir ao golpe e arriscaram suas vidas no cumprimento do dever.
Se a tentativa de golpe fosse bem-sucedida, muito mais do que vidraças, móveis, obras de arte e objetos históricos teriam sido roubados ou destruídos.
A vontade soberana do povo brasileiro, expressa nas urnas, teria sido roubada. E a democracia, destruída.
A esta altura, o Brasil estaria mergulhado no caos econômico e social. O combate à fome e às desigualdades teria voltado à estaca zero.
Nosso país estaria novamente isolado do mundo, e a Amazônia em pouco tempo reduzida a cinzas para a boiada e o garimpo ilegal passarem.
Adversários políticos e autoridades constituídas poderiam ser fuzilados ou enforcados em praça pública – a julgar por aquilo que o ex-presidente golpista pregou em campanha, e seus seguidores tramaram nas redes sociais.
Todos aqueles que financiaram, planejaram e executaram a tentativa de golpe devem ser exemplarmente punidos.
Não há perdão para quem atenta contra a democracia, contra seu país e contra o seu próprio povo.
O perdão soaria como impunidade. E a impunidade, como salvo conduto para novos atos terroristas.
Salvamos a democracia. Mas a democracia nunca está pronta, precisa ser construída e cuidada todos os dias.
A democracia é imperfeita, porque somos humanos – e, portanto, imperfeitos.
Mas temos, todas e todos, o dever de unir esforços para aperfeiçoá-la.
Meus amigos, e minhas amigas.
A fome é inimiga da democracia.
Não haverá democracia plena enquanto persistirem as desigualdades – seja de renda, raça, gênero, orientação sexual, acesso à saúde, educação e demais serviços públicos.
Uma criança sem acesso à educação não aprenderá o significado da palavra democracia.
Um pai ou uma mãe de família no semáforo, empunhando um cartaz escrito “Me ajudem pelo amor de Deus”, tampouco saberá o que é democracia.
Aperfeiçoar a democracia é reconhecer que democracia para poucos não é democracia.
Se fomos capazes de deixar as divergências de lado para defendermos o regime democrático, somos também capazes de nos unirmos para construir um país mais justo e menos desigual.
Minhas amigas e meus amigos.
Não há democracia sem liberdade.
Mas que ninguém confunda liberdade com permissão para atentar contra a democracia.
Liberdade não é uma autorização para espalhar mentiras sobre as vacinas nas redes sociais, o que pode ter levado centenas de milhares de brasileiros à morte por Covid.
Liberdade não é o direito de pregar a instalação de um regime autoritário e o assassinato de adversários.
As mentiras, a desinformação e os discursos de ódio foram o combustível para o 8 de janeiro.
Nossa democracia estará sob constante ameaça, enquanto não formos firmes na regulação das redes sociais.
Nos dias, semanas e meses que se seguiram à tentativa de golpe, reformamos as sedes dos Três Poderes. Trocamos vidraças, removemos a sujeira, restauramos obras de arte, recuperamos objetos históricos.
E, acima de tudo, reafirmamos o valor da democracia para o Brasil e para o mundo.
Agora é preciso avançar cada vez mais na construção de uma democracia plena.
Uma democracia que se traduza em igualdade de direitos e oportunidades. Que promova a melhoria da qualidade de vida, sobretudo para quem mais precisa.
Estamos nessa caminhada, e chegaremos mais longe se caminharmos de braços dados.
Quero terminar renovando o que disse no meu discurso de posse, neste Congresso Nacional:
Democracia sempre.
Muito obrigado.”
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