Mesmo com investigações desde janeiro de 2023, a Procuradoria Geral da República (PGR) denunciou somente uma pessoa por financiar os atos golpistas do 8 de Janeiro. A denúncia foi feita em 14 de dezembro e corre em segredo de justiça no Supremo Tribunal Federal (STF).
Com a denúncia do financiador, o Ministério Público Federal (MPF) fechou um total de 1.413 denunciados em 2023. Desses, 30 já foram condenados, sendo todos eles os chamados executores da tentativa de golpe – as pessoas que invadiram e depredaram as sedes dos Três Poderes.
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O MPF não divulgou a identidade do suposto financiador dos atos golpistas. O jornal Folha de S.Paulo, no entanto, identificou o homem como Pedro Luis Kurunczi, um empresário.
De Londrina (PR), Kurunczi teria fretado quatro ônibus, gastando um total de R$ 59,2 mil, para levar cerca de 108 pessoas do Paraná para Brasília, de acordo com o MPF. Os ônibus deixariam Londrina em 6 de janeiro. O denunciado teria falado em uma “tomada” do Congresso.
Kurunczi foi quem deu a lista de 108 passageiros a empresa de ônibus, segundo o MPF. “Com o avanço das investigações, ficou comprovado que boa parte dessas pessoas efetivamente embarcou nos veículos rumo a Brasília”, diz comunicado do órgão.
Para além do financiamento da ida de pessoas para participação nos atos golpistas, o denunciado também teria participado de grupos de mensagens e mantivera uma lista de transmissão em aplicativo de mensagens. O objetivo seria a “incitar a população e as Forças Armadas para, não só contestar o resultado das Eleições 2022, como destituir o presidente” Lula.
A participação de Kurunczi nesses grupos de mensagem e na incitação para um golpe de Estado teria começado logo depois do então presidente Jair Bolsonaro (PL) perder as eleições em outubro de 2022. Sua atuação se manteve até a invasão das sedes dos Três Poderes.
A denúncia do MPF indica cinco crimes que o suposto financiador cometeu:
- associação criminosa armada;
- abolição violenta do Estado Democrático de Direito;
- golpe de Estado;
- dano qualificado pela violência e grave ameaça contra o patrimônio da União; e
- deterioração de patrimônio tombado.
Se for condenado por todos os crimes, as penas podem passar de 30 anos de prisão. O julgamento será realizado pelo STF, caso a denúncia seja aceita. O relator dos casos relacionados ao 8 de Janeiro é o ministro Alexandre de Moraes. Das mais de 2 mil pessoas detidas pelos atos golpistas, 66 permanecem presas um ano depois, segundo dados do gabinete do ministro.
Os atos golpistas do 8 de Janeiro
Na tarde de 8 de janeiro de 2023, um grupo de bolsonaristas que estavam acampados no Quartel General do Exército em Brasília deixou o acampamento e se dirigiu para a Praça dos Três Poderes. Com facilidade, o grupo invadiu e depredou o Congresso Nacional, o Palácio do Planalto e o Supremo Tribunal Federal.
Os ataques foram o estopim de um movimento que contestava e tentava deslegitimar o resultado das eleições de 2022, que consagrou Luiz Inácio Lula da Silva (PT) como presidente da República pela terceira vez desde o início dos anos 2000.
A vitória do petista nas urnas deixou parte dos apoiadores de Jair Bolsonaro (PL) inconformados. Com isso, muitos foram até quartéis do Exército para pedir intervenção militar no Brasil. A ação inconstitucional não surtiu efeito e os bolsonaristas passaram a acampar em quartéis, pedindo uma ação das Forças Armadas.
O Partido Liberal, de Bolsonaro, chegou a tentar invalidar os votos que deram vitória a Lula no segundo turno das eleições. No entanto, a tentativa não surtiu efeito. Ações de bolsonaristas continuaram e tiveram seu primeiro grande pico de violência em 12 de dezembro de 2022, com a tentativa de invadir a sede da PF. A data marcou a diplomação de Lula como o próximo presidente da República.
Outro pico de violência ligada à contestação do resultado eleitoral se deu em 24 de dezembro de 2022. Na véspera de Natal, autoridades pararam a tentativa de explosão no Aeroporto de Brasília.
Os acampamentos bolsonaristas continuaram na frente dos quartéis, principalmente em Brasília. No entanto, a posse presidencial de Lula foi realizada com segurança e tranquilidade.
Com uma manifestação marcada para o 8 de janeiro, os dias anteriores foram marcados pela chegada de ônibus com bolsonaristas de diversos estados brasileiros. Nas redes sociais, os atos eram apelidados de “Festa da Selma” e indicavam a Esplanada dos Ministérios como foco para a manifestação.
No 8 de Janeiro, cartazes pediam intervenção das Forças Armadas. No início da tarde, os bolsonaristas se dirigem para a Praça dos Três Poderes. Foram escoltados pela PM de Brasília até certo ponto – manifestações pacíficas eram liberadas -, mas encontraram pouca resistência quando a violência escalou.
O Congresso Nacional foi o primeiro a ser invadido. O exterior do prédio histórico é vandalizado primeiro. Os golpistas chegam ao plenário do Senado o ocuparam. Ao mesmo tempo, parte da multidão ocupa a fachada.
Em seguida, foi a vez do Palácio do Planalto. O presidente Lula não estava no local, nem no Palácio do Alvorada, sua residência oficial. Havia viajado para São Paulo para acompanhar ações da Defesa Civil por causa de chuvas. Ainda assim, bolsonaristas invadiram o Planalto e o vandalizaram, a exemplo do que foi feito no Congresso.
O último prédio a ser invadido foi a sede do STF. Um dos alvos preferenciais de bolsonaristas, o Supremo foi depredado por centenas de pessoas, com destruição do plenário e dos gabinetes dos ministros, principalmente Alexandre de Moraes.
É depois da invasão ao STF que manifestantes são presos pela polícia militar. O presidente Lula também decreta intervenção federal na capital do país.
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