Paulo Dalla Nora Macedo*
Escrevo esse texto no dia em que o presidente Lula “pariu” – no seu discurso na ONU coincidente com nono mês de governo – o Brasil do pós-isolamento forçado dos últimos anos. A força da mensagem inspirou-me para a reflexão que propõe traçar um caminho, ao mesmo tempo que destaca a importância, para mais conexão comercial do Brasil com o mundo.
O economista Ricardo Hausmann, diretor do Growth Lab pertencente ao Center for International Development da Universidade de Harvard, ajudou a sistematizar o estudo do impacto das exportações na complexidade econômica, e, a partir dessa, no grau de desenvolvimento dos Países. Durante 2020, tive a oportunidade de fazer um programa aprofundado sobre o tema com o Professor Hausmann.
O Atlas da Complexidade Econômica, que o departamento de Hausmann montou, indica que a complexidade econômica está diretamente relacionada à capacidade de um país produzir bens e serviços mais complexos e de maior valor agregado.
Países com maior complexidade econômica tendem a ter economias mais resilientes e sustentáveis, pois são capazes de se adaptar a mudanças no cenário econômico global e de competir em setores de maior valor agregado. Na era de rápidas transformações em que vivemos, essas são características que vão cada vez mais ditar o sucesso dos países.
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O estudo também indica que a diversificação das exportações é um dos principais impulsionadores da complexidade econômica. Quando um país diversifica suas exportações, está expandindo sua base produtiva e adquirindo conhecimentos e habilidades em diferentes setores.
Isso leva a um aumento na complexidade econômica, pois o país passa a produzir bens e serviços mais complexos e sofisticados. Além disso, o país que diversifica as suas exportações fica menos exposto a choques de demanda do que Países com uma grande concentração nas exportações.
A diversificação das exportações e a complexidade econômica são, portanto, conceitos interligados e que se reforçam mutuamente. Países que buscam aumentar sua complexidade econômica devem investir na diversificação de suas exportações, expandindo sua base produtiva e adquirindo conhecimentos e habilidades em diferentes setores. Por outro lado, a diversificação das exportações é impulsionada pela busca por maior complexidade econômica, pois permite que um país produza bens e serviços mais complexos e sofisticados.
Um desejado ciclo virtuoso, então, se instala. A boa nova para o Brasil é que o atual governo vem fazendo um louvável esforço para nos reconectar com o mundo e mostra-se sensível a uma estratégia de diversificação de parceiros.
O desafio é considerável, pois a pauta de exportação do Brasil é bem distante dessa visão da estratégia ideal: temos grande concentração em commodities e também uma concentração de destinos, com a China liderando isoladamente: sozinha, ela tem seis vezes mais peso do que toda a Europa “latina” – Portugal, Espanha, França e Itália – em exportações do Brasil. Essa concentração representa um risco estratégico.
Nesse contexto, olhar para a Europa como um mercado que precisa ser melhor cuidado pelo Brasil é fundamental: é lá que a chance de aumento da nossa complexidade econômica é maior, pela exposição a um mercado mais maduro, formado por consumidores sofisticados e legislação mais exigente em proteção de dados e ao meio ambiente.
O Brasil tem uma vocação natural para exportar serviços para essa Europa “latina”, como tecnologia da informação, serviços financeiros e consultoria. São setores em que a proximidade das referências culturais torna-se fundamental.
Uma ênfase especial precisa ser colocada na alta tecnologia, como biotecnologia, nanotecnologia e tecnologia de dados. Esses setores têm um grande potencial de crescimento e podem contribuir substancialmente para a diversificação das exportações brasileiras e complexidade econômica interna.
Mas, para isso, é preciso dedicação: essa semana completam seis meses que o presidente Lula anunciou, durante a Cúpula Brasil-Portugal, em Lisboa, a criação da Apex em Portugal, com foco nessa oportunidade. Um grupo de mais de cem empresários e profissionais liberais brasileiros entregou recentemente uma carta ao Presidente da Apex manifestando apoio e destacando a importância de não perdemos o timming da iniciativa.
* Paulo Dalla Nora Macedo é economista e vice-presidente do Instituto Política Viva.
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