A apresentação do superpedido de impeachment, feita nesta quarta-feira (30) na Câmara, produziu encontros improváveis até recentemente. Eleitores declarados de Jair Bolsonaro em 2018 dividiram espaço e fotos com parlamentares do PT e de outros partidos de esquerda e centro-esquerda. Entre os ex-bolsonaristas arrependidos que puxaram o coro em favor do impeachment do presidente, estavam Alexandre Frota (PSDB-SP), Kim Kataguiri (DEM-SP) e a ex-líder de Bolsonaro na Câmara, Joice Hasselmann (PSL-SP).
“Eu fui líder desse monstro”, discursou uma Joyce inflamada, em meio a cumprimentos a militantes e aplausos de parlamentares de esquerda e movimentos sociais, como o MST, já criticado várias vezes por ela. A deputado rompeu com Bolsonaro em outubro de 2019, depois de ter sido afastada da liderança do governo na Câmara. Para ela, o presidente será preso depois de deixar o Palácio do Planalto.
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Para Kim Kataguiri, Bolsonaro é um criminoso. “O governo Bolsonaro ultrapassou tanto o limite do razoável que, independente de ideologia política, movimentos e partidos se unem agora para pedir seu impeachment, porque foram tantos crimes cometidos, a negligência e insensibilidade diante da pandemia e agora de escândalo de corrupção com vacina”, afirmou ao Congresso em Foco.
O deputado entende que, para destituir Bolsonaro da Presidência, é preciso envolver a direita e a centro-direita na mobilização pelo afastamento de Bolsonaro. “Não adianta achar que vamos derrubar Bolsonaro só com frente de oposição da esquerda. Quem ascendeu Bolsonaro foi o centro e a centro-direita. Sem elas, não conseguiremos derrubá-lo”, acrescenta o deputado fundador do Movimento Brasil Livre (MBL), que ganhou projeção nos protestos de 2013 e nos protestos pelo impeachment de Dilma Rousseff.
Joice defende a união de diferentes forças políticas em favor do impeachment, mas ressalta que a unidade não implica alinhamento político. “É uma união não de partidos, mas muito mais de pessoas que pensam o Brasil. Trata mais do que acreditamos do que de questão ideológica”, afirmou ao Congresso em Foco. “Jamais vou compactuar com a ideologia de esquerda, nem eles com a minha de direita. Mas isso é democracia”, declarou.
Apoiadora de primeira hora do presidente, quando ainda trabalhava como jornalista, Joice classifica Bolsonaro agora como o pior presidente da história do país. “Estamos falando de um homem que conseguiu produzir em dois aos e meio de governo mais desgraça que o PT em 14 anos”, afirmou. A jornalista ganhou notoriedade com os ataques constantes que fazia aos governos petistas.
“Estamos falando de um homem responsável por pelo menos 250 mil mortes no país, se tivesse havia vacina, distanciamento e máscara. Metade das 500 mil vítimas da covid não teria morrida se tivéssemos vacina, distanciamento e máscara”, disse a deputada.
Para ela, as recentes denúncias de corrupção contra o governo mostram que o problema do governo ia além do negacionismo do tamanho da pandemia. “Ele criou embaraços para comprar vacinas e ganhar propina. É muito grave. É o maior estelionato eleitoral, porque interferiu na Polícia Federal, cometeu crime contra a democracia e atacou instituições. Tudo isso é crime e dá impeachment em qualquer país sério”, afirmou Joice. “O Brasil não aguenta mais um ano e meio de Bolsonaro”, acrescentou.
Depois de ser um dos cabos eleitorais mais barulhos de Bolsonaro em 2018, Alexandre Frota assinou o superpedido de impeachment. Ele já havia protocolado outros nove em nome próprio. Para o deputado, que trocou o PSL pelo PSDB tão logo rompeu com Bolsonaro. “Ele só tem amor ao bolso. Não é à toa que se chama Bolsonaro”, disse ao Congresso em Foco. “Ele sempre foi corrupto. Precisamos de fazer uma assepsia”, defendeu.
Para Alexandre Frota, apenas o Centrão sustenta hoje Bolsonaro no cargo. Mas esse apoio, ressalta, pode cair por terra a qualquer momento. “O Centrão apoiava Dilma até quinta e no domingo votada para derrubá-la”, lembrou. Segundo ele, Arthur Lira (PP-AL), líder do grupo, só preside a Câmara por causa das emendas liberadas pelo governo para aliados. “Foi uma compra de votos. Mas o Lira é a pior pessoa que Bolsonaro poderia ter sentado na presidência da Câmara. Se ele tiver de cortar, vai cortar a cabeça do Bolsonaro”, afirmou.
Kim Kataguiri também concorda que o Centrão pode mudar de posição com o agravamento da crise. “Hoje se constrói um movimento muito favorável ao impeachment. O Arthur Lira ainda é aliado do presidente, mas chega o momento que isso é inevitável. A preocupação da população com a vacina e a economia faz a crise subir de tamanho. O clima hoje, no Centrão, é de fim de festa”, disse.
“Eles tomaram o que tinham de tomar de Bolsonaro. Não tem aliança ideológica. Não gostam do Bolsonaro, mas o toleram pelo poder. Quando ficar caro demais para eles, do ponto de vista da popularidade, que o governo sequer vale as emendas e os cargos, aí desembarcam”, avaliou o deputado.
Segundo Kim Kataguiri, o MBL e outros grupos de direita também pretendem sair às ruas para pedir o impeachment, mas aguardam a evolução do processo de vacinação. “Queremos esperar quando chegar a 40%, 50%, algumas cidades de São Paulo ainda estão em lockdown. Também não queremos dar argumento para Bolsonaro, porque criticamos as aglomerações que ele faz.”
Joice usa o mesmo argumento: é preciso esperar que mais pessoas se vacinem. A deputada diz considerar que tem responsabilidade pela eleição de Bolsonaro e que pretende corrigir o erro que cometeu. “Fui a primeira mulher com expresso nacional a pegar na mão desse homem e a afiançá-lo para as mulheres e o Brasil, tenho responsabilidade com o meu país para corrigir meu erro”, disse. “Se estivéssemos num país em quem a democracia é valorizada, Bolsonaro estaria não só afastado da Presidência, como preso. Ele é o grande operador da corrupção, com o seu filho Flávio Bolsonaro”, acusou.
Para ela, Bolsonaro se prende à reeleição para salvar a própria pele. “Bolsonaro fica no desespero com a reeleição porque sabe será preso. A questão é só de timing. Se perder o mandato, o foro, vai preso. Flávio também. Com Augusto Aras, que é um boneco de ventríloquo, ele deixou tudo amarrado”, afirmou Joice.
Joice Hasselmann, Kim Kataguiri e Alexandre Frota estão entre os 46 signatários do superpedido de impeachment, proposto também por diversas entidades e lideranças políticas. Reunindo denúncias que constam de outros 122 pedidos já protocolados, o novo documento atribui 22 crimes ao presidente da República.
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