Marcos Queiroz *
A Câmara dos Deputados escolhe novos líderes partidários todos os anos. Em 2022, particularmente, a renovação de lideranças ganha um caráter mais estratégico em função das eleições. A leitura das escolhas das principais legendas apontam conexões políticas e inclinações eleitorais.
No campo da esquerda, as indicações dos maiores partidos refletem os projetos nacionais de cada um. O PT escolheu o deputado Reginaldo Lopes (MG), por óbvio, um defensor do ex-presidente Lula. O PDT trouxe de volta André Figueiredo (CE) ao comando da bancada, um fiel escudeiro do pré-candidato Ciro Gomes e do presidente da sigla, Carlos Lupi. No PSB, a assunção de Bira do Pindaré (MA) aponta a influência do governador maranhense Flávio Dino, que irá concorrer ao Senado e entre os socialistas é um grande aliado de Lula.
No grupo do Centrão, as movimentações refletem as conveniências regionais. O PL, do presidente Jair Bolsonaro, substituiu Wellington Roberto (PB) por Altineu Cortes (RJ). Como homem de confiança de Waldemar Costa Neto, comandante dos liberais, Roberto poderia permanecer no posto. Mas na função de líder do partido de Bolsonaro enfrentaria dificuldades eleitorais na Paraíba, onde Lula é muito forte. Cortes já não tem esse problema no Rio, estado do presidente. O mesmo vale para o Republicanos, que trocou o também paraibano Hugo Motta por Vinicius Carvalho (SP), ligado à Igreja Universal, um reduto bolsonarista. Mesmo com cargos no governo e sendo um destino provável de diversos aliados de Bolsonaro, os republicanos ainda não fecharam questão para apoiar a reeleição do presidente.
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No PP, o antigo líder da bancada Cacá Leão (BA), cujo grupo possui aliança com o PT e dará palanque a Lula no estado, passou o bastão para André Fufuca (MA), pupilo do presidente da Câmara, Arthur Lira, e do ministro Ciro Nogueira, mas que também é aliado estadual de Flávio Dino (PSB). Apesar do apoio ao governo federal, os progressistas estão liberados para firmar alianças nos estados com a oposição.
A realidade da Bahia também foi determinante para a manutenção de Antônio Brito como líder do PSD. Além dos pessedistas baianos também marcharem com a turma de Lula, a opção ainda agrada ao comandante do partido, Gilberto Kassab, embora ele afirme que a sigla terá candidatura própria.
As escolhas de MDB e PSDB não refletem alinhamento automático às pré-candidaturas das siglas. A recondução de Isnaldo Bulhões (AL), ligado ao lulista Renan Calheiros, indica que a senadora Simone Tebet não deverá ter suporte do líder do MDB na Câmara. Já entre os tucanos, a escolha de Adolfo Viana (BA) representa a continuidade do comando da bancada pelo grupo liderado por Aécio Neves (MG), arqui-inimigo de João Doria.
Já o recém-nascido União Brasil, fruto da fusão entre DEM e PSL, vai oficializar Elmar Nascimento (BA), defensor dos interesses do demista ACM Neto, secretário-geral da nova legenda e candidato ao governo da Bahia. Ainda em fase de entendimentos entre os grupos do DEM e do PSL, a tendência é que o União foque na eleição de governadores e parlamentares, sem candidato próprio à Presidência.
* Marcos Queiroz é analista político, consultor, com formação em jornalismo e pós-graduação em processo legislativo. Membro do núcleo de análises da Arko Advice. Colunista do portal O Brasilianista.
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